O que é trabalho Coleção Primeiros Passos. Editora brasiliense.
Por: R.magno • 25/1/2017 • Trabalho acadêmico • 2.060 Palavras (9 Páginas) • 664 Visualizações
RODRIGO MAGNO DA SILVA
ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. 4ª edição. Coleção Primeiros Passos. Editora brasiliense.
Na obra “O que é trabalho”, Suzana Albornoz retrata no segundo capítulo, “O que o trabalho tem sido”, aspectos históricos para o entendimento do desenvolvimento e transformação da sociedade e, consequentemente do homem, por meio do trabalho, ressaltando a importância desta atividade para o processar sócio-histórico, uma vez que se compreende o homem como sujeito histórico, pois, seu processo de humanização, através do trabalho, aponta a historicidade de sua existência, como homens reais em suas relações entre si e com a natureza.
Como cita o filósofo Lukács (apud BARROCO, 2009, p.21): “[...] O trabalho é, antes de tudo, em termos genéticos, o ponto de partida da humanização do homem, do refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo.”
Nesse sentido, o trabalho como atividade transformadora seria o único fundamento capaz de explicar a dinamicidade e procedimento do homem na sociedade, permitindo a reconstrução de seus modos de vida, suas objetividades e subjetividades, ao longo da evolução.
Segundo Albornoz, o trabalho tem sido de acordo e com o contexto de cada época da história das civilizações, apresentando-se sob diversos aspectos. Embora o processo não siga, conforme Luckács (apud, SEMEGHINI, 2009, p. 88), uma linearidade, pois não há uma evolução norteada para um fim determinado, portanto, a cada desenvolvimento da sociedade ocorre a ruptura de uma forma societária por outra.
Nas sociedades primitivas, Suzana Albornoz relata que indivíduos estavam ligados por laços de sangue e todas as atividades eram realizadas para o coletivo. O universo simbólico desses povos primitivos, representados no texto como uma tribo de índios da selva amazônica, era permeado por uma linguagem mitológica e conhecimentos comuns que eram passados de geração a geração por meio da oralidade.
O trabalho nesse tipo de sociedade era unicamente para a sua subsistência, os indivíduos pescavam, caçavam e colhiam em prol da coletividade, ou seja, “por um esforço coletivo que obedece a determinada ordem.” (ALBORNOZ, s/ano, p.15). Considerado por Suzana Albornoz como o primeiro estágio da economia isolada e extrativa, o trabalho seria apenas uma esforço complementar ao trabalho da natureza, ou seja, a natureza já oferecia aos povos primitivos os recursos necessários a sua sobrevivência, cabia aos homens o esforço apenas de colher, pescar e caçar.
Desse modo, a economia e as relações sociais desta fase histórica não se assemelham as relações sociais e de produção da atualidade, pois, na fase primitiva da história da humanidade não havia excedente, portanto, não havia acumulação de riquezas por parte de alguns; não existia propriedade privada; o trabalho era apenas para a subsistência, sendo regido por um sistema de deveres religiosos e laços familiares, ligados exclusivamente à coletividade.
A autora coloca como estágio consecutivo ao das economias isoladas, o período em que os homens descobriram a agricultura. Essa descoberta transformou consideravelmente o homem e suas relações sociais, modificando as condições de trabalho e ampliando seu controle sobre a natureza.
Lessa (2006) relata a consequência dessa engenhosa descoberta:
[...] Com a agricultura [...] pela primeira vez na história, os homens (individual e coletivamente) passaram a produzir mais do que o necessário para sua sobrevivência. Antes não tinha sentido escravizar alguém. Sua produção era tão pequena que mal dava para a alimentação do próprio indivíduo [...] Com a produção do excedente [...] passa ser mais vantajoso transformar o prisioneiro [...] em escravo [...] a partir deste momento histórico, a sociedade estava dividida entre duas classes: a que trabalha e produz a riqueza que será apropriada pela outra classe [...]. (LESSA, 2006, p. 8-9)
O que antes era destinado à coletividade, agora, neste momento histórico, tudo que é produzido é destinado apenas a um grupo ocioso. O trabalho começa a produzir excedente, passa ser uma atividade produtiva permeada por relações de exploração, onde é visível uma divisão social do trabalho.
Conforme Suzana Albornoz, seria comum, em um estágio inicial da agricultura, encontrar uma divisão de trabalho baseado no sexo e na idade: as mulheres cuidando da agricultura e os homens caçando e pescando. Porém, essa situação foi modificando-se lentamente, através do desenvolvimento de instrumentos e técnicas que tornaram o trabalho ainda mais produtivo, ampliando e modificando a divisão de tarefas, surgindo a noção de propriedade privada, a produção de excedente e a existência de uma classe ociosa.
Como menciona Bastos (1996, p.09):
[...] A medida que se desenvolveu a capacidade produtiva, surgiu a propriedade privada da terra, provavelmente porque o controle da produção pelas unidades familiares permitia melhor organização e eficiência. A propriedade privada da terra estabeleceu a base para o surgimento da sociedade de classes e criou as condições para que uma classe se apropriasse do trabalho excedente de outra classe.
Dessa forma, a agricultura modificou todo aparato social, permitindo o surgimento de outros elementos societários que até hoje permeiam nossas relações sociais, como: a propriedade privada; a exploração social e a divisão da sociedade em classes. O trabalho neste momento passa ser a força física e mental utilizada por uma classe em beneficio a classe ociosa.
Suzana Albornoz relaciona este fato com a prática da guerra. Segundo a autora, o povo conquistado na guerra seria a força de trabalho do povo dominante, entregaria os seus excedentes e tornaria seus escravos, propriedades do povo conquistador. Portanto, o trabalho de modo geral estava relacionado à desapropriação de bens materiais de uma classe por outra, tudo que uma classe produzia por meio de sua força física e mental era expropriada, tornando-se propriedade alheia.
Em relação a isso, Bastos (1996, p.11) conclui que: “[...] os meios de produção [...] as terras, são propriedade de apenas um grupo de pessoas, o restante da comunidade [...] submeter-se à classe dos proprietários para garantir sua própria subsistência [...]”.
De fato, a agricultura proporcionou um desenvolvimento econômico, este possível de ser observado em conjunturas históricas diferentes, mas com a mesma estrutura, ou seja, embora em tempos e lugares distintos as relações econômicas
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