Regionalismo
Por: Carol Gomes • 24/4/2016 • Trabalho acadêmico • 1.979 Palavras (8 Páginas) • 125 Visualizações
Caroline Luise da Silva Gomes | ||
TAVARES, Márcia Santana. Com açúcar e sem afeto: a trajetória de vida Amorosa de Mulheres das classes populares em Aracajú/SE. Revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo, nº 101, p. 121-145, jan./mar. 2010. | ||
Resumo da obra: A obra retrata o papel da mulher perante a uma sociedade machista e arcaica, no qual a sua figura é menosprezada e desvalorizada. Relata os grandes desafios enfrentados no seu dia-a-dia, enfrentando agressões, humilhações, privações e sonhos desmoronados. Nos conscientiza o quão importante é revertermos essa realidade, que a mulher é sim um ser que possui direitos e liberdade para realizar sonhos. Tratada como uma pessoa insignificante, sexo frágil de pouca capacidade e inteligência, é ela que por vezes se torna o alicerce da família. | ||
Página | Citação | Comentário |
122 | O cotidiano das relações amorosas, [...] vem sendo conduzido por profundas transformações na vida social. [...] inserção da mulher no mercado de trabalho e ingresso nas universidades [...] o acesso a métodos contraceptivos [...] | O papel da mulher na sociedade encontra-se em grande transformação, conquistando-se seu espaço e respeito, porém ainda se depara com a resistência de um esposo e/ou uma sociedade arcaica. |
122 | No casamento moderno, a mulher, para ser respeitada, vê-se impelida a perseguir o crescimento do “eu” e da realização profissional. [...] O marido, por sua vez, incentiva a esposa a estudar ou de trabalhar, desde que não interfira nos serviços domésticos, cuidados com a família e filhos, que permanecem uma responsabilidade feminina. | Impedidas de realizar sonhos as mulheres seguem suas vidas frustradas uma vez que o marido acredita que se mesma possuir uma atividade extra lar impactará na criação dos filhos e nas obrigações domésticas. |
123 | A dominação masculina está presente no interior do mundo doméstico e, baseada na diferença biológica entre os sexos, manifesta-se por meio das relações de gênero [...] caracterizada por uma assimetria no que se refere a posições e espaços ocupados por homens e mulheres, tanto na esfera pública como privada. | O homem é visto desde o patriarcado como retentor de poder, o absoluto, alguém no qual devemos respeitar por representar a força. |
123 | O casamento é idealizado como via de libertação, por meio do qual cuidarão da sua casa, do seu homem e dos seus filhos, e não da casa dos outros. O homem portanto, torna-se fonte de segurança, suporte, prêmio, recompensa, esperança de melhoria de vida. | As mulheres acabam se casando com a ilusão de que seus “problemas” deixaram de existir. |
123 e 124 | Zaluar (1985, p. 120-121) assinala que o bom marido é aquele que, com seu trabalho, coloca comida em casa e sacia a fome da família. Quando este não o consegue, sente-se diminuído. [...] “o trabalho tem seu valor moral vinculado ao status do trabalhador como “ganha pão” do grupo doméstico e não à execução da atividade propriamente dita.” [...] o homem desempregado se sente impotente, porque destituído do principal papel que define sua masculinidade, já que não é mais provedor, o que ameaça a hierarquia doméstica. | O homem se sente diminuído e envergonhado uma vez que o seu papel imposto pela sociedade torna-se impossível de ser cumprido. Acredita que essa situação “fere” sua honra. |
124 | [...] as mulheres, mesmo infelizes no casamento, dificilmente cogitam uma separação, ancoradas na preservação da moralidade [...] mesmo quando o marido pouco contribui com as despesas da família, é proprietário do barraco onde residem. Por outro lado, o abandono do lar pelo homem as obriga a se transformar em chefes de família. | Insatisfeitas com o matrimônio, porém pensando em como será vista pela sociedade não cogitam uma possível separação. Mas nada impede que o marido as abandone e deixe a responsabilidade de criar seus filhos e sustentar a casa. |
125 | Observa-se que nas classes populares as relações familiares vêm se transformando, embora condicionadas à permanência dos modelos arquetípicos [...]. Novas estratégias de sobrevivência, redes de solidariedades são tecidas [...] consiste em tentativa de resgatar o cotidiano familiar dessas mulheres [...] | Diante de diversos casos onde mulheres tem seus direitos coibidos, são tomadas algumas providencias para que retomem sua autoconfiança e autoestima. |
126 | No decorrer do curso, a convivência diária entre as mulheres construía um clima de cumplicidade, em que dores, dissabores, desejos e sonhos eram pouco a pouco compartilhados. | As mulheres já acostumadas a serem submissas, encontraram nas companheiras do curso a possibilidade de mudança, passaram a não se sentirem tão sozinhas. |
127 | A ausência de infância encontra-se marcada por um curto espaço de tempo na escola, por falta de “orientação”, “cabeça fraca para os estudos” ou porque, desde meninas, seu “objetivo” era ajudar nas tarefas domésticas. | Meninas já são “treinadas’ desde criança que sua obrigação são as tarefas do lar, tendo seu direito de alfabetização podados. |
128 | O chefe de família não consegue, com seu trabalho, transformar o cotidiano de fome e extrema miséria [...], encontrando na bebida alívio temporário. No espaço doméstico, a legitimação de sua autoridade é confrontada e, como se para reafirmá-la, recorre à violência. | O homem se vê impossibilitado de exercer seu papel de macho com êxito, recorre a violência contra a companheira para reafirmar seu papel de chefe. |
128 | A violência de gênero se reproduz nas relações familiares e, não raro, manifesta-se no convívio entre a mãe e filhos, mas, diante da fragilidade, desamparo, mãe e filha se irmanam quando, nesses momentos, a menina-mulher se transforma, ganha forças para proteger a mãe. [...] ter que trabalhar precocemente, aos dez, onze anos, para ajudá-la. [...] | O filho diante dos exemplos segue os passos do pai, e por vezes voltasse contra a própria mãe. Já a menina unisse a mãe e passa a defende-la, começa a trabalhar cedo para ajudar no sustento da casa. |
129 | [...] Na dura realidade em que vivem, não há lugar para outras fomes. Estudar, brincar, torna-se algo secundário, pois a prioridade é sobreviver. Movidas pelas circunstâncias [...] a menina passa a realizar as rotineiras obrigações domésticas numa casa que não é sua [...], cujos serviços podem ser remunerados sob a forma de gêneros alimentícios, repassados à mãe. | Vivem numa situação que as obriga a escolher suas prioridades, pulando assim etapas importantes da infância, fazendo com que essas meninas reproduzam futuramente a vida que suas mães tiveram. |
129 | [...] vale destacar eu a penúria a que se encontra exposto o grupo familiar, torna-se ainda maior quando a mulher é “sozinha, sem um homem” ou, abandonada pelo marido, vê-se forçada a substituí-lo no papel de provedor, chefe de família [...] | A realidade se agrava quando a mulher se encontra numa situação de abandono, e o sustento da família se torna depende dela também deixando seus filhos a maior parte do dia sozinhos. |
129 | [...]. Com a separação, instala-se na mulher um sentimento de desamparo, [...]. Assim tornar-se chefe de família, para a mulher, implica não só na perda do amparo emocional e financeira do homem, mas também uma sobrecarga de trabalho, na medida em que mantém as usuais responsabilidades e assume aquelas até então delegadas ao marido, restando-lhe pouco tempo para si e para os filhos [...] | Quando passa a assumir o papel de provedor, a mulher teme que lhe falte tempo para si mesma e para a educação dos filhos. |
130 | Na luta pela sobrevivência de cada dia, as “mulheres sozinhas, sem homem”, muitas vezes percebem os filhos pequeno como um fardo a mais, empecilho de que se desprendem pela via do abandono. [...] As meninas transitam na órbita do grupo familiar que as acolheu, tal como pequenas escravas, [...]. Sem laços, referências afetivas [...] tramam a única estratégia libertária possível: encontrar um homem [...] | Mães acabam deixando seus filhos com um ou com outro. As meninas trabalham na casa dessas famílias e lhe desperta o sonho de formar sua própria família, com a expectativa de uma vida diferente do que sua mãe teve. |
132 | A mulher para mitigar a fome ou assumir seu “erro”, criação de um filho, para ela concebido prematuramente, ampara-se na sua rede de relações e conta com o apoio de familiares, amigos e vizinhos, mas [...] implica invasão do espaço privado, da intimidade do casal. [...] culpabilizam a mulher pelas agressões sofridas [...] | A mulher, vítima da violência doméstica passa a ser apontada por terceiros e por ela mesma como a principal culpada pelas agressões.
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134 | Não tinha família, não tinha pai, não tinha mãe, não tinha ninguém, só tinha Deus, é aí que aconteceu, eu fiquei, arrumava outro, sabe que ajudava, e era isso, se ia melhorar minha vida, e arranjava filho de um, quando tinha filho [...] ia embora e eu arranjava outro, assim, achava que eu não podia viver sozinha, que era desprotegida. (Carolina) | Assim como no depoimento de Carolina, muitas outras mulheres encontram nos homens a saída para fugir da solidão. O relacionamento chega ao final, e elas continuam a procura de um meio para não se sentirem só, acabam engravidando dos parceiros. |
136 | [...] as mulheres buscam preencher vazios e, revolta incontida, encontram alento temporário alguma vezes na bebida, outras tantas na religião e quase sempre nas novelas televisivas. | Sem qualquer tipo de esperança, as mulheres se entregam ao álcool como refúgio, nas religiões buscam o consolo e nas telenovelas o romantismo. |
136 | [...] tem coisas que eu preciso, de uma mãe, [...] sempre eu fui rejeitada, [...] minha mãe nunca gostou de mim, [...] tentei conseguir que ela ficasse comigo, tentei resgatar, pelo menos visse que eu precisava dela. [...] Por isso, eu não consigo deixar meus filhos, [...] o que eu sofri eu não quero que os meus filhos passem. [...] Quando eu estou doente, eu choro muito porque eu tenho medo de deixar meus filhos sozinhos. [...] Por mais que eu passe, eu prefiro passar com eles juntos ... (Rosa) | Muitas tentam não reproduzir com seus filhos o sofrimento e a rejeição que sofreram na infância, conforme nos explica Rosa em um dos seus depoimentos. |
139 | As dificuldades materiais têm diminuído bastante, por meio da comercialização dos alimentos que aprendem a preparar, constituindo-se em mais uma estratégia alternativa para autossustentação do grupo familiar. | Além de ajudar as mulheres a se reconhecerem como pessoas de grande importância, o curso ensina-lhes práticas culinárias, assim passam a cozinhar e vender esses alimentos em suas próprias casas ajudando no sustento da família. |
140 | [...] estou falando pra senhora aqui que eu não tenho esperança de ser feliz, mas também eu volto atrás, esperança é a última que morre. Espero estar aqui um dia [bate na madeira] ou de qualquer outro lugar que eu encontrara senhora e lhe falar, hoje estou feliz. (Margarida) | Assim como Margarida, outras mulheres ainda são confiantes, e mantém a chama da esperança acesa. |
141 e 142 | Sua trajetória de vida é permeada pela extrema pobreza, abandono, rejeição e violência de gênero a que se encontram submetidas. [...] Tempo-espaço de privações, desafeto, sob o jugo de pais e irmãos mais velhos, elaboram a única estratégia libertária, o casamento [..]. O amor é sonho acalentado por intermédio das novelas [...]. A infidelidade, a indiferença e a violência do parceiro é sina que suportam, porque sem um homem, tornam-se mulher sem dono, ninguém a respeita. O sexo transforma-se em ardil para preservar o parceiro, cedem ao desejo masculino mesmo contra sua vontade [...]. A relação sexual se reveste, portanto, de dever, obrigação. [...]. As mulheres se ressentem da falta de carinho, diálogo e maus-tratos sofridos, mas dificilmente cogitam uma separação. [...]. O futuro é algo difuso, impreciso, “sua vida é o que é”. [...] projetam sonhos e expectativas nos filhos, na sua única fonte de felicidade, sem a qual a vida perde sentido. Se elas são “nada”, estes podem ser “alguém”. | Uma vida repleta de dissabores, onde depositam no matrimônio a total reponsabilidade de serem felizes, que por vezes acabam sofrendo por humilhações vindas daquele que escolheu para ser companheiro, sonhos interrompidos, vidas frustradas, não conseguem enxergar em si mesma a força e a capacidade de transformar sua realidade, assim depositam nos filhos suas esperanças, seus sonhos, seus desejos de um futuro melhor. Mulheres essas, que não são preparadas a alcançarem suas metas sozinhas, lhe são tiradas desde pequenas a ambição de obter um futuro diferente do que supostamente a sua mãe teve, que vê no outro o motivo de felicidade ou infelicidade.
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