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Retratando a luta de classes

Por:   •  16/5/2016  •  Resenha  •  760 Palavras (4 Páginas)  •  431 Visualizações

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Retratando a luta de classes

Regina Casé interpreta Val, uma empregada doméstica de Recife que mora há mais de uma década em São Paulo, na casa dos patrões Carlos (Lourenço Mutarelli) e Bárbara (Karine Teles). Nessa residência ela faz de tudo: lava, cozinha, põe a mesa, retira os pratos, além de cuidar de Fabinho (Michel Joelsas) a quem ela dispensa todo carinho de mãe, já que, foi obrigada a deixar sua única filha no nordeste. Val é considerada “quase da família”, mas ela ainda faz as suas refeições em uma mesa separada, dorme no quartinho dos fundos, não toma o mesmo sorvete que os patrões e jamais colocou os pés na grande piscina onde os outros se divertem.

A chegada de Jéssica (Camila Márdila), filha de Val, à casa dos patrões, na intenção de se preparar para o vestibular de Arquitetura, realmente transforma a vida de todos. A patroa que até então convivia em harmonia com Val passa a mostrar seu repúdio às atitudes da menina e demonstra todo o seu preconceito e autoritarismo. O máximo da discriminação é quando Bárbara manda esvaziar a piscina no dia seguinte que Jéssica nadou com Fabinho, dizendo que um rato entrou na piscina, esse rato ela (Bárbara) se refere á Jessica. Carlos também fica fascinado pela garota, mas provoca um constrangimento sexual entre eles. E quem mais é questionada por Jéssica é a própria Val, que demora para entender o que a filha deseja para a vida delas. Ela é uma menina inteligente, questionadora e está longe de se submeter às regras impostas pela dona da casa onde mora. Uma situação ocorrida em cena que, todos nós já ouvimos algum fato a respeito, é sobre o momento em que Jéssica pede um doce depois do almoço e ela pega o sorvete “deles”, pois existem dois tipos: o especial dos patrões e o da empregada.

“É, o país está mudando mesmo...”, diz Bárbara (Karine Teles) ao descobrir que a filha da empregada prestará vestibular para Arquitetura em uma das faculdades mais concorridas do estado. O revelador, no entanto, é perceber como seu tom de voz exibe não exatamente admiração, mas um certo ressentimento. Ressentimento esse que, quando saiu o resultado do vestibular, do qual a filha da empregada passou, e o filho dela não. É como se a mesma dissesse: Como pode uma filha de empregada passar em um vestibular desses?

Com sutileza, Anna Muylaert em Que Horas Ela Volta? mostra o abismo que separa o mundo dos patrões do mundo dos empregados e por intermédio da história de vida de uma mãe e uma filha faz uma crítica contundente à sociedade brasileira contemporânea, repleta de contradições, injustiças e preconceitos. A cena em que Val comunica à filha sobre a decisão que tomou sobre o futuro delas é de uma emoção ímpar e revela o grau de entrosamento e de entrega das atrizes para o filme. 

Enfim, o reconhecimento de que só não haverá luta de classes quando finalmente percebermos que dividir a humanidade por status econômico é algo que já deveria pertencer ao esgoto da História.

Referências:

Ana Luiza Machado da Silva Muylaert (São Paulo, SP, 1964). Diretora, roteirista e produtora. Estudou cinema na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). No inicio de sua carreira, na década de 1980, realiza alguns curtas-metragens e publica textos críticos de cinema em revistas e jornais. Em 1989, participa do grupo de criação de programas infantis, tais como o Mundo da Lua e Castelo Rá-Tim-Bum, na TV Cultura, da Fundação Padre Anchieta. Dirige os curtas Rock Paulista e As Rosas não Calam, ambos em 1995. No ano seguinte, ganha destaque com a realização de A Origem dos Bebês Segundo Kiki Cavalcanti (1996), premiado como Melhor Filme no XIII Rio Cine Festival e no 5º Mix Brasil. Filma em 2002 seu primeiro longa, Durval Discos, que recebe os prêmios de melhor filme, melhor diretor e roteiro no 30º Festival de Gramado e melhor roteiro no 20º Festival de Torino. Sete anos depois, lança seu segundo longa-metragem É Proibido Fumar (2009), vencedor de nove prêmios no 42º Festival de Brasília, Melhor Filme do Grande Prêmio de Cinema Brasileiro 2010 e Melhor Direção APCA 2009. No mesmo ano, faz o telefilme Para Aceitá-la Continue na Linha (2009).

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