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A mente inconsciente de uma pessoa vê corretamente quando a causa consciente é cega e impotente

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Por:   •  10/11/2014  •  Tese  •  1.466 Palavras (6 Páginas)  •  231 Visualizações

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Suely Laitano da Silva Nassif

“A mente inconsciente do homem vê corretamente mesmo

quando a razão consciente é cega e impotente.”

C.G.Jung CW 11: 608

Tomando-se como ponto de partida a questão da intervenção, há de se indagar: Que ciência é essa que se propõe um conhecer que não atinge a questão da existência? Que conhecimento nos auxiliaria a desvelar as questões da existência? Que consciência é essa que buscamos para o entendimento de quem somos? Que vida é essa que nos escapa à compreensão?

Como elaborar essa vida vivida no dia-a-dia, em suas contradições e controvérsias, encontros e desencontros que, sem controle, nos escapa pelas mãos? Essa emoção vivida que redige o “drama da existência” e pinta de diferentes formas a vivência interna de cada um frente à sua história de vida?

Como encontrar na ciência recursos para o conhecimento? Esse conhecimento que indaga sobre a consciência, de si mesmo, do outro e das suas relações, que se estabelece na manifestação da expressão de sentido e significado ontológico (do Eu) e ôntico (do Outro) para a realização do Ser em sua essência e existência.

Como buscar essa consciência libertadora do processo de individuação?

Diante desse questionamento, a narrativa mítica da história de Édipo nos revela o impacto do inconsciente na existência do Ser em busca desse conhecimento. Como que revelando o sentido oculto que nos faz repetir e elaborar (Byington,1996) os elementos dessa história, como se a melodia desse enredo pudesse nos revelar enfim os segredos que guardamos em nós e que tanto desejamos encontrar. É como se pudéssemos intuir que todos os elementos encontram-se alí descritos, mas, que ao mesmo tempo, nos escapam e nos encantam.

Os mitos como os sonhos possuem este poder de esconder e revelar o que foge à nossa compreensão. Assim, no mito de Édipo os vários elementos que se contrapõem nos reportam a um outro universo de representações. Tornando-se possível sermos tocados em nossa sensibilidade, pelo significado não literal, mas pelo significado metafórico que ultrapassa as palavras. Este poder de nos transportar, que a arte possibilita, em suas múltiplas manifestações, mobiliza em nós a sensibilidade, o lúdico, o prazer, o estético, o simbólico.

Assim repito, em minha mente os elementos dessa história.

Na entrada do templo de Delfos estava escrito “conheça-te a ti mesmo”.

O oráculo Tirésias prevê o destino de Édipo que, a caminho de Tebas, é surpreendido pelo enigma da Esfinge.

_ “Decifra-me ou devoro-te. Responda: Que Ser é esse?”

_ “O homem”, responde Édipo.

Que conhecimento é esse subjacente ao mito? Que conhecimento é esse que nos impulsiona a caminhos indecifráveis? Seria esse o modo de resgatar o sentido não só ôntico, mas ontológico do ser?

É essa linguagem que organiza o pensamento e possibilita o entendimento sobre as questões de “vida e morte” (Byington,1996) que cria uma narrativa como instrumento utilizado todos os dias, no consultório e em nossas vidas, e que exige a incansável busca por um novo olhar de entendimento. (Foucault, 1987).

A esse mundo das narrativas míticas se contrapõe o mundo da ciência, também em sua busca de conhecimento. São duas linguagens distintas, dois conhecimentos distintos.

Em minha imaginação posso me transpor para um tempo e lugar que há muito me impressiona e intriga. Posso sentir mais do que pensar no clima daquela sala, em La Salpêtrière, em meados de 1885, o impacto que Charcot produzia ao apresentar aquelas mulheres histéricas, paradoxo vivo da dualidade corpo-mente. Questão intrigante que suscita explicação de como pode existir imobilidade em um sistema íntegro.

Naquela época, La Salpêtrière se tornara a meca da neurologia, ponto de encontro dos cientistas de então, preocupados com a emergente discussão da dualidade corpo-mente, até então duas realidades inquestionavelmente distintas.

Nesse tempo histórico, “histeria” e “epilepsia” passam a ser pesquisadas, como objeto de estudo, em suas manifestações comportamentais vistas por diferentes pesquisadores de diferentes formações. A hipnose passa a ser eleita como terapêutica capaz de desbloquear o cérebro no tratamento da histeria.

Nesse espaço, assim aberto e propício, num clima de questionamentos de teoria e prática; de ciência e não ciência; do corpo e suas relações com o sistema nervoso; do neurológico e sua expressão comportamental, surgem os fundamentos das neurociências e das psicociências, com origem e objeto de estudo comuns, frente à evidência de que os fenômenos físicos e psíquicos coexistem nas manifestações do comportamento expresso, ainda que estudados de diferentes formas e adotando-se metodologias distintas.

É nesse momento que a linguagem se transforma em discurso racional, que se perde a dimensão da totalidade, surgindo diferentes campos de conhecimento, cada qual com suas “fronteiras” bem definidas, como “expressão máxima de suas diferenças” (Saiz,1998).

Psicanálise

Assistindo àquelas apresentações, Freud postula o conceito do inconsciente e elabora os fundamentos da Psicanálise, “com a intenção de produzir uma psicologia como ciência natural” (Freud, 1895). No entanto, a impossibilidade de correlacionar seus achados com os eventos das estruturas neurológicas, na época em que o neurônio acaba de ser descoberto - como unidade funcional do sistema nervoso - afasta suas investigações das bases neurológicas. Após a morte de Freud, seus seguidores preferem considerar a psicanálise como hermenêutica.

Deste modo, por um lado, a psicanálise se expande para múltiplos campos de conhecimento e da cultura inserindo-se no contexto da história contemporânea (Freud, 1981); por outro, deixa de ser vista como ciência natural e perde a possibilidade de comprovação e credibilidade perante a comunidade cientifica.

Neurociências

Do mesmo confronto, frente à relação mente-cérebro surgem diferentes campos de investigação neurológica, com desenvolvimento relativamente lento até meados do século passado. A partir do conjunto de descobertas nas áreas biológicas, e, posteriormente, dos avanços tecnológicos, em

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