Brasil, Potência Olímpica?
Artigo: Brasil, Potência Olímpica?. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: PriscilaFonseca • 17/3/2014 • 2.191 Palavras (9 Páginas) • 198 Visualizações
O Brasil está longe de ser uma potência olímpica como os Estados Unidos ou um foguete em ascensão, como a China. Apesar de seu legado em certas modalidades, o melhor resultado recente do país no quadro geral de medalhas das Olimpíadas foi um 16º lugar na Grécia, em 2000 – modesto, considerando nossas proporções continentais. Como sede dos próximos Jogos, o país desenvolve diversos projetos e redes de pesquisa aplicada para acelerar o desenvolvimento na área, investindo na aproximação entre academia, esporte e indústria – mas ainda há muitas barreiras a serem superadas.
Uma dificuldade básica, mas ainda muito comum, é o acesso aos equipamentos mais avançados, que chegam muito caros ao Brasil devido aos custos de importação. Para os atletas de ponta de modalidades com maior tradição (e com mais recursos), como a vela, essa barreira é mais facilmente superada. Porém, modalidades de menor destaque que usam equipamentos complexos sofrem com altos preços: nossa equipe de bobsled (competição de alta velocidade com trenó), por exemplo, competiu nas últimas Olimpíadas de Inverno, na Rússia, com um veículo de segunda mão, enquanto os trenós de alguns adversários foram desenhados por equipes de Fórmula 1.
Barros: “Não há tecnologia que não possamos dominar, mas falta estrutura para inovar e investir em longo prazo”
Mais do que o acesso, no entanto, para muitos pesquisadores, como o engenheiro biomédico Alexandre Pino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o gargalo central do desenvolvimento esportivo brasileiro é a falta de pesquisas aplicadas e de inovação no país. “Os estudos no campo esportivo têm crescido, em especial os relacionados à preparação dos atletas e à prevenção de lesões, mas ainda são insuficientes e há grandes lacunas na produção de equipamentos, por exemplo”, avalia.
Nesse sentido, um grande abismo parece isolar as iniciativas na área: a pouca interação entre universidade e setor privado, velho problema da ciência brasileira. “Não há tecnologia que não possamos dominar, mas falta estrutura para inovar e investir em longo prazo”, afirma o educador físico Ricardo Barros, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “É preciso criar um ambiente comercial forte, onde existam laboratórios de inovação nas empresas.”
Bobsled
Os altos custos de importação, a falta de investimentos no desenvolvimento de equipamentos esportivos e a pouca tradição em inovação das empresas brasileiras seguem como gargalos para o avanço do esporte nacional. Nas Olimpíadas de Inverno de Sochi, alguns dos trenós supervelozes foram desenvolvidos por equipes de Fórmula 1, enquanto o do Brasil era de segunda mão. (foto: U.S. Army IMCOM/ Flickr – CC BY-NC 2.0)
O engenheiro Cleudmar Araújo, coordenador do Núcleo de Habilitação/Reabilitação em Esportes Paralímpicos (NH/Resp) da Universidade Federal de Uberlândia (Minas Gerais), concorda. “Em modalidades esportivas como o futebol de sete, até a bola é importada; esses materiais precisam ser produzidos aqui”, destaca. “Quem financia a pesquisa no Brasil são os órgãos de fomento, enquanto lá fora grande parte dela ocorre nas empresas.”
Araújo: “Em modalidades esportivas como o futebol de sete, até a bola é importada; esses materiais precisam ser produzidos aqui”
Para o engenheiro biomédico Orivaldo Silva, da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), mesmo os órgãos de fomento nacionais ainda precisam adequar melhor suas estratégias para promover o desenvolvimento tecnológico na área. “Em geral, os editais são muito acadêmicos, quando precisamos é investir em inovação”, avalia.
Outra grande lacuna na área, segundo os especialistas, é a distância entre a ciência e os atletas e treinadores que deveriam se beneficiar do conhecimento aplicado. “Em geral, a pesquisa está nas universidades e os atletas, ligados às confederações; o diálogo muitas vezes não é simples como deveria”, avalia Ricardo Barros. “Faltam estruturas organizacionais e físicas que reúnam pesquisadores e esportistas para discutir as prioridades.”
Para 2016, os comitês olímpico e paralímpico brasileiros preveem a construção de centros de treinamento no Rio de Janeiro e em São Paulo, de forma a aproximar esporte e pesquisa. Além disso, para superar as barreiras que atrapalham esse diálogo, foram criadas a Academia Brasileira de Treinadores e a Academia Paralímpica Brasileira, que formam profissionais mais preparados para aplicar o conhecimento na prática esportiva e para aprimorar a gestão esportiva nacional.
Movimentos sob análise
Apesar dos problemas, nas universidades e centros de pesquisa nacionais há diversos projetos que aliam ciência e esporte no treinamento, desenvolvimento tecnológico e prevenção de lesões. Para Barros, entre as áreas que mais têm evoluído no país estão a biomecânica, a bioquímica e a fisiologia. “São avanços relacionados: enquanto a biomecânica quantifica o esforço, a bioquímica e a fisiologia mostram as alterações que ele provocou no organismo”, explica. “A partir disso, é possível fazer ajustes no treinamento, identificar possibilidades de melhora e tendências a lesões, por exemplo.”
O futebol é um dos esportes onde essas inovações estão mais presentes – clubes brasileiros como o Corinthians já possuem laboratórios de biomecânica, por exemplo. “Se, por um lado, no futebol ainda existe uma ‘cultura boleira’, amadora, por outro, há muito dinheiro: os recursos para montar um centro desse tipo são pequenos perto das somas movimentadas na modalidade”, avalia Barros. “No entanto, esse trabalho ainda tem relação maior com a preparação física e médica do que com o aspecto tático; ainda não são todos os técnicos que se interessam pela tecnologia.”
Prancheta
Prancheta é coisa do passado: sistemas de avaliação da movimentação dos atletas e até laboratórios de biomecânica já fazem parte da rotina do futebol e podem ajudar tanto na preparação física quanto na parte técnica e tática do jogo. (foto: Flickr/ uomouranio1 – CC BY-NC-ND 2.0)
Na Unicamp, Barros trabalha com análise e quantificação do movimento de jogadores em esportes coletivos e individuais desde 1998. “Desenvolvemos sistemas capazes de analisar a posição dos atletas a cada instante, permitindo determinar trajetória, velocidade, explosão, distância percorrida, entre outras variáveis,
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