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CIENCIA, METODOLOGIA

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Por:   •  2/10/2013  •  1.157 Palavras (5 Páginas)  •  387 Visualizações

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Talvez seja útil iniciar uma conversa sobre metodologia refletindo um pouco sobre as concepções que temos sobre a ciência e sobre a produção do conhecimento científico. Afinal de contas, toda a vez que nos defrontamos com a tarefa de escrever um texto acadêmico, seja uma monografia, uma dissertação, uma tese ou um artigo, mobilizamos nossas imagens sobre o que é ciência, e sobre o que é produção de conhecimento científico. Essas imagens também se apresentam quando desejamos realizar uma pesquisa, estudar um tema de modo mais sistemático, ainda que não desejemos escrever um trabalho acadêmico. Comecemos por elas.

No senso comum (box 1), ciência é uma forma peculiar de produzir conhecimento objetivo. Objetividade, ainda nesse senso comum, contrapõe-se à subjetividade. Um conhecimento objetivo seria aquele que independe das posições (ou das opiniões) de um sujeito qualquer. Tal forma de conhecimento, ainda nessa imagem comum, falaria da realidade, e não das opiniões desse ou daquele indivíduo, desse ou daquele grupo social. O conhecimento científico, nessa visão, se imporia a todos. É nesse sentido que ouvimos frequentemente frases como “a ciência demonstra isso”, ou “cientistas verificaram que …”.

Com efeito, a imagem da ciência ainda predominante no senso comum é a de uma prática capaz de revelar aspectos ocultos da realidade, inacessíveis aos mortais, a não ser através da prática científica. Caberia ao método científico a virtude de desvelar a realidade, de descobrir suas regularidades e leis. Ou seja, adotar o método científico seria a melhor forma de se chegar à verdade, de descobrir, para além das meras opiniões, o que de fato acontece na realidade.

Essa imagem é bem antiga. Ela foi construída juntamente com o nascimento da chamada ciência moderna, e é exemplificada pela física newtoniana (Box 2). Mas ela dá voz a uma antiga aspiração da civilização ocidental[2]: a de construir uma forma de conhecimento universal, cuja validade ultrapassasse as diversas culturas humanas. Um conhecimento que nos levasse para além da nossa paróquia (aliás, o termo paroquial hoje tem um sentido pejorativo, que desdenha daqueles que se apegam aos valores específicos de seu grupo social). A imagem serviu para animar o sonho de progresso moderno e de legitimar a prática da ciência. Mas, por outro lado, ela contribui para certa mistificação da ciência.

Os impactos dessa mistificação emergem com nitidez quando nos deparamos com a tarefa de redigir um trabalho dito científico. Muitos de nós, diante da tarefa, trememos. Afinal, aplicar as metodologias científicas parece algo muito especial, quase inalcançável. E pior, quando nos debruçamos sobre a tarefa, encontramos algo muito distinto da metodologia tão idealizada: aonde esperávamos encontrar um terreno sólido, encontramos algo que mais parece areia movediça. Parece que os bois estão atrás dos carros[3]. Ficamos inseguros e temerosos. Vivemos a síndrome do horror metodológico.

Seria razoável viver intensamente essa síndrome se a imagem de ciência que predomina no senso comum caracterizasse bem o modo como de fato transcorre a prática da produção do conhecimento científico. Mas, como veremos, não é tão simples sustentar essa posição à luz do debate da filosofia, da história e da sociologia das ciências. Sigamos um pouco, ainda que rapidamente, as críticas a essa imagem comum da ciência.

Começo com uma referência a um filósofo do século passado, Karl Popper. Popper interessou-se muito pelo que chamava de problema da demarcação da ciência (Box 4); afinal, o que distinguiria o que é científico das demais formas de produção do conhecimento? A resposta dada por aquele filósofo, contudo, questionava a noção de que a ciência demonstra verdades, ou verifica certas hipóteses. Popper argumentava que o conhecimento científico não pode jamais demonstrar que algo é verdadeiro, embora possa demonstrar que algo é falso. Para ele, a história da ciência é uma sucessão de demonstrações de que aquilo que tínhamos certeza que era verdadeiro, de fato era falso.

Mais do que isso, Popper sugeriu que o que caracterizava a ciência era a tentativa sistemática feita pelos cientistas de refutar as ideias defendidas por eles. Esse esforço sistemático de crítica feito entre cientistas (portanto, entre sujeitos), resultaria num processo singular e dinâmico de produção do conhecimento. Para aquele autor, a objetividade tão sonhada pela ciência seria produzida nesse diálogo crítico entre sujeitos. Em seus próprios termos, a objetividade seria intersubjetiva.

Para Popper, cientistas seriam (ou melhor, deveriam ser) sujeitos

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