Evolução Da Gestão Ambiental
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EVOLUÇÃO DA GESTÃO AMBIENTAL NA EMPRESA:
UMA TAXONOMIA INTEGRADA À GESTÃO DA
PRODUÇÃO E DE RECURSOS HUMANOS
Charbel José Chiappetta Jabbour
Fernando César Almada Santos
Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo,
Avenida Trabalhador São-Carlense, 400, CEP 13566-590, São Carlos, SP, Brasil,
e-mails: cjabbour@terra.com.br, almada@sc.usp.br
Recebido em 05/8/2005
Aceito em 19/6/2006
Resumo
O presente artigo desenvolve uma denominação comum para as várias propostas de estágios evolutivos da gestão
ambiental na empresa encontradas na literatura, de forma a associar os estágios dessa nova taxonomia às evoluções
da estrutura organizacional e das áreas de gestão da produção e de recursos humanos, que são indispensáveis para a
integração da dimensão ecológica no âmbito organizacional. Para tanto, as principais contribuições encontradas na
bibliografia em gestão ambiental na organização foram analisadas e sistematizadas a partir de suas similaridades.
Dessa perspectiva multicomparada, propõe-se uma denominação comum para a análise da gestão ambiental, com
-
posta por três estágios: especialização funcional, integração interna e integração externa da variável ecológica na
organização. Este trabalho sistematiza as contribuições das diversas taxonomias da gestão ambiental existentes e as
reflete de maneira integrada à estrutura organizacional e à gestão da produção e de recursos humanos, contribuindo,
assim, com a literatura ainda escassa acerca da abordagem correlacionada dessas temáticas. Conceber a gestão
ambiental na empresa por níveis de maturidade e correlacionada a outras evoluções organizacionais contribui, de
forma estruturada, para que empresários e pesquisadores reflitam acerca da situação organizacional atual e planejem
atividades futuras em matéria ambiental.
Palavras-chave: taxonomias da gestão ambiental, gestão da produção, gestão de recursos humanos, configurações orga
-
nizacionais.
v.13, n.3, p.435-448, set.-dez. 2006
1. Introdução
A preocupação ambiental não constitui tema recente,
mas foi somente nas últimas três décadas do século XX
que ela passou a ser debatida em profundidade (Seiffert,
2005; Barbieri, 2004). É uma discussão desafiadora, que
deve envolver governo, empresas, sociedade civil como
um todo, e o âmbito acadêmico, o qual necessita urgen
-
temente rever seus paradigmas, principalmente aqueles
concernentes às organizações manufatureiras (Fischer e
Schot, 1993). Com efeito, a mitigação das atuais proble
-
máticas ambientais exige que a academia incorpore a di
-
mensão ecológica em suas atividades de ensino, pesquisa
e extensão, a fim de fomentar uma educação ambiental
transdisciplinar (Adbul-Wahab et al., 2003).
Como corolário desse movimento, algumas empresas
passaram a considerar a dimensão ambiental em suas ati
-
vidades (Seiffert, 2005; Rosen, 2001). Entretanto, a intro
-
dução dessa variável no âmbito dos negócios não ocorre de
forma homogênea, variando entre as unidades produtivas
(Donaire, 1994), seja porque a consideração da variável
ecológica está associada à natureza do negócio da empre
-
sa, seja porque depende do grau de conscientização da
alta administração em matéria ambiental (Corazza, 2003).
Assim, a conscientização ambiental empresarial pode ser
avaliada à luz de diversos estágios evolutivos, que se cons
-
tituem a partir da proposição de importantes autores e que
formam uma grande pluralidade de níveis de maturidade
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Jabbour e Santos − Evolução da Gestão Ambiental na Empresa: Uma Taxonomia Integrada à Gestão...
para a análise da gestão ambiental na organização. Enten
-
der a gestão ambiental na empresa por meio de taxonomias
é uma maneira estruturada para que empresários e pesqui
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sadores reflitam a situação organizacional atual e planejem
atividades futuras em matéria ambiental.
Neste trabalho, o termo estágio
evolutivo da gestão
ambiental
é definido como uma das fases possíveis de
“implantação gradual de práticas de gestão ambiental em
uma dada empresa” (Barbieri, 2004, p. 103). Assim, uma
proposta de evolução da gestão ambiental quer indicar
uma taxonomia, composta por diversos desses níveis de
maturidade, cada qual com suas características distintivas
(Hart, 1995). Frisa-se que uma empresa não necessaria
-
mente apresenta uma gestão ambiental ascendente, apesar
de ser essa a tendência, uma vez que a questão ambiental
é cada vez mais determinante do sucesso empresarial. De
fato, uma dada empresa pode se manter indefinidamente
em um estágio, podendo também progredir ou regredir.
Dessa forma, o presente artigo pretende demonstrar
uma denominação comum para as diversas propostas de
evolução da gestão ambiental na empresa, que se apre
-
sentam de forma desconectada aos empresários e pes
-
quisadores, pois não há produção científica que as sis
-
tematize. Assim, objetiva-se contribuir para a edificação
do conhecimento já existente em gestão ambiental. Para
tanto, a revisão bibliográfica contemplou as taxonomias
da gestão ambiental na organização propostas por Mai
-
mon (1994), Sanches (2000), Rohrich e Cunha (2004),
Barbieri (2004), Donaire (1994) e Corazza (2003). Vale
ressaltar que o presente artigo contribui com o desen
-
volvimento de uma perspectiva teórica – e ainda escassa
– que integra o desenvolvimento da gestão ambiental na
empresa com estrutura organizacional, gestão da produ
-
ção e administração de recursos humanos.
A proposta de denominação comum para essas taxo
-
nomias exigiu respostas às seguintes questões:
•
Quais as similaridades existentes entre as diversas pro
-
postas de evolução do gerenciamento ambiental na em
-
presa?;
•
Sob a perspectiva de uma denominação comum, esses
estágios evolutivos teriam contextos organizacionais
mais apropriados
para se desenvolverem, que pode
-
riam ser a burocracia mecanizada, a forma divisionali
-
zada ou a
adhocracia
(Mintzberg, 2003)?; e
•
Como os estágios evolutivos da gestão ambiental se re
-
lacionam com a evolução das áreas de gestão de recur
-
sos humanos e de produção?
Para fazer frente a esses questionamentos, o próximo
tópico tece considerações sobre a gênese e expansão da
preocupação ambiental e, como essa problemática exige
uma nova postura empresarial. Logo depois, são apre
-
sentadas as diversas propostas de análise evolutiva da
gestão ambiental na empresa encontradas na literatura
especializada. Em seguida, é levada a cabo a proposta
de denominação comum para essas diversas taxonomias,
desenvolvendo-se uma abordagem integrada com as
configurações organizacionais propostas por Mintzberg
(2003) e com os estágios evolutivos das áreas de gestão
de recursos humanos e produção, apresentados por San
-
tos (2001), uma vez que a edificação de um pensamento
sistêmico da organização é necessário para uma gestão
ambiental efetiva (Seiffert e Loch, 2005).
2. A preocupação ambiental contemporâ
-
nea e o posicionamento empresarial
A preocupação ambiental foi primeiramente abordada
pelo Clube de Roma, um órgão colegiado liderado por
empresários que, por meio da publicação intitulada “Li
-
mites do Crescimento”, de 1972, contemplou em termos
trágicos o futuro mundial, caso a sociedade mantivesse
os padrões de produção e consumo vigentes à época. Em
1972, em Estocolmo, Suécia, foi realizada a primeira
Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(Meadows et al., 1972). Em 1987 foi publicado o Rela
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tório “Nosso Futuro Comum” (CMMAD, 1988), o qual
foi responsável por disseminar o conceito de Desenvol
-
vimento Sustentável, definido como aquele que atende
às necessidades das gerações atuais sem comprometer a
capacidade das futuras gerações atenderem às suas (Wi
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lkinson et al., 2001).
Em 1992 foi realizada a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
(
CNUMAD), chamada também de ECO-92, a qual refor
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çou a necessidade de a sociedade como um todo engen
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drar o desenvolvimento sustentável, cuja base está alicer
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çada em mudanças paradigmáticas no modo de conceber
e implementar ações econômicas, políticas e sociais, que
considerem os impactos dessas atividades sobre o meio
ambiente. Em 1998, em Kioto, foi conduzida a discussão
sobre a emissão de gases poluentes e o esforço necessá
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rio para se evitar o aquecimento global. Esse encontro
foi seguido pela Conferência das Nações Unidas sobre
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, também co
-
nhecida como Rio Mais Dez.
Segundo Motta e Rossi (2003), tal processo de gênese
e expansão da preocupação ambiental faz com que o ser
humano sinta de fato uma terrível ameaça, que o compele
a perceber que é parte da natureza, está fortemente ligado
a ela, e que, portanto, destruir o meio ambiente é destruir
a si próprio e a seus congêneres vindouros. Essa alteração
paradigmática exige que o desenvolvimento sustentável
seja garantido pela ação conjunta entre atores políticos,
econômicos e sociais.
Dessa forma, como parte de uma sociedade ecolo
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gicamente em transformação, cabe às empresas grande
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