ORIGENS DA MEDICINA HOMEOPÁTICA
Trabalho acadêmico: ORIGENS DA MEDICINA HOMEOPÁTICA. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: claudiana100 • 15/11/2014 • Trabalho acadêmico • 3.014 Palavras (13 Páginas) • 176 Visualizações
Similia Similibus Curentur: notação histórica da medicina homeopática
A.D. Corrêa, *R. Siqueira-Batista, **L.E.M. Quintas
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro; *Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; **Departamento de Farmacologia Básica e Clínica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.
RESUMO A história da medicina homeopática foi discutida neste artigo, abordando-se as concepções de Hipócrates, Galeno, Paracelso e Hahnemann. Pretendemos dar uma idéia da evolução da ciência médica de um modo geral, incluindo, neste contexto, o surgimento gradativo das idéias que levaram Hahnemann a criar a homeopatia.
UNITERMOS: Homeopatia, História da Medicina. Hahnemann.
INTRODUÇÃO
A evolução de qualquer ramo da ciência jamais ocorreu por meio de atos isolados de um único cientista. Mesmo que uma descoberta seja atribuída a uma única pessoa, esta, certamente, está embasada em conhecimentos anteriores. Assim aconteceu com a homeopatia, construída sobre concepções como o princípio dos semelhantes, as doses infinitesimais, o medicamento único, dentre outros. Esses preceitos já eram conhecidos por muitos médicos, desde Hipócrates até Hahnemann, com vários deles utilizando-os - principalmente o dos semelhantes -, em seus tratamentos e observações1.
A menção mais antiga que se tem a respeito do tratamento pela lei dos semelhantes foi encontrada em um papiro de 1500 a.C. Contudo, esse princípio era aplicado de uma maneira muito subjetiva e não por meio da observação dos sintomas causados no organismo, como foi introduzido experimentalmente por Hahnemann.
A obra de Hipócrates (460-350 a.C.) é um marco da ciência e arte médicas, sendo este iluminado médico grego considerado o Pai da Medicina2.
Em seu tempo, Hipócrates introduziu a avaliação metódica dos sinais e sintomas como base fundamental para o diagnóstico. Em termos de tratamento, advogava que dois métodos terapêuticos poderiam ser utilizados com sucesso: a "cura pelos contrários" (Contraria Contrariis Curentur), consolidada por Galeno (129-199 d.C.) e Avicena* (980-1037), que é a base da medicina alopática; e a "cura pelos semelhantes" (Similia Similibus Curentur), reavivada no século XVI por Paracelso** (1493-1591) e consolidada pelo médico alemão Samuel Hahnemann, quando este criou a Homeopatia3.
No presente artigo, discute-se a Medicina Homeopática, única e exclusivamente do ponto de vista histórico. Para isto, enfocaremos a história da medicina e enfatizaremos o processo de separação da medicina em homeopatia e alopatia, que hoje constituem dois métodos totalmente distintos de abordagem terapêutica mas que tiveram a mesma origem nos trabalhos de Hipócrates.
ORIGENS DA MEDICINA HOMEOPÁTICA
Para Hipócrates, o tratamento era constituído por três princípios básicos4:
- Natura medicatrix que a natureza se encarrega de restabelecer a saúde do doente e cabe ao médico tratar o paciente imitando a natureza, a fim de reconduzi-lo a um perfeito estado de equilíbrio.
- Contraria Contrariis esta é a chamada lei dos contrários, em que os sintomas são tratados diretamente com medidas contrárias a eles.
- Similia Similibus esta é a chamada lei dos semelhantes; dizia que a doença poderia ser debelada pela aplicação de medidas semelhantes à doença.
Hipócrates dizia que essas duas formas de tratamento eram eficazes no restabelecimento da saúde, portanto a lei dos contrários e a lei dos semelhantes não se opunham em seu pensamento. Ele sempre tratava o paciente de forma abrangente e raramente se referia a enfermidade de maneira isolada.
Galeno, no século II, foi o precursor de uma doutrina médica que prevaleceu por aproximadamente 1.500 anos. Era baseada no tratamento pelos contrários e na classificação da doença e dos agentes medicinais em quatro itens fria, quente, úmida e seca com o objetivo de facilitar a prescrição para uma doença dita quente era utilizado um tratamento dito frio. Esse antagonismo de forças (quente/frio; úmido/seco) era muito encontrado na filosofia grega pré-socrática, sendo marcante no pensamento do filósofo Heráclito5.
No século XVI, a medicina galênica era ensinada na grande maioria das faculdades de medicina. Essa vertente médica era fundamentada principalmente na "cura pelos contrários", ou seja, o tratamento das enfermidades era feito por meio do medicamento que possuía efeito contrário a ela. A dor, por exemplo, seria aliviada com o uso de sedativos, sem maior preocupação com sua origem. A visão do corpo humano era, portanto, completamente mecanicista e, de certa forma, simplista.
Nesse período, um grande número de epidemias assolava a Europa, e a população tinha uma pequena expectativa de vida. A utilização de técnicas terapêuticas como sanguessugas, sangrias, administração de vomitivos, purgativos e suadores, dentre outros, era largamente aceita e empregada com base em critérios muito frágeis. Além disso, alguns médicos não diferenciavam o método de tratamento, acreditando que a maioria das doenças poderia ser tratada do mesmo modo6.
A essa altura, os conceitos de Hipócrates já se encontravam fragmentados, pois os grandes médicos seguiam apenas um dos conceitos em geral o dos contrários.
Neste contexto, surgem as revolucionárias (mas não novas) idéias de Paracelso, apresentando uma visão totalmente oposta à vigente, considerando o ser humano como um todo integrado e harmônico, constituído de mente e corpo. Acreditava que a anima governava o organismo, semelhante ao princípio vital dos homeopatas.
Paracelso era acérrimo opositor da "cura pelos contrários" (chegou a queimar, em praça pública, os livros escritos por Galeno e Avicena) e achava que uma enfermidade podia ser convenientemente tratada pelos semelhantes7. Paracelso também introduziu o conceito de dosagem, já que os médicos administravam quantidades maciças de drogas aos pacientes, que acabavam por intoxicá-los. Ele também utilizou novas técnicas para o preparo de medicamentos baseando-se nos seus conhecimentos de alquimia. Fez inúmeras contribuições à medicina e à química, introduziu inúmeros medicamentos compostos por substâncias inorgânicas e orgânicas, alguns dos quais utilizados até recentemente, como o ópio (sedativo), o ferro (antianêmico) e o mercúrio (anti-séptico), dentre outros. Fundiu a medicina com as forças
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