Primórdios E Percalços Do Programa Eletronuclear Joaquim Francisco
Monografias: Primórdios E Percalços Do Programa Eletronuclear Joaquim Francisco. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: Raphaelsanches • 16/3/2015 • 1.665 Palavras (7 Páginas) • 112 Visualizações
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Energia nuclear: depoimentos
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or iniciativa dos Estados Unidos, sob a presidência do general Eisenhower,
foi lançado em 1953 o programa Átomos para a Paz, visando aproveitar
em atividades pacíficas a tecnologia que tinha sido desenvolvida no
Projeto Manhattan, para a produção da bomba atômica.
Nesse contexto foi proposta a instituição de uma agência vinculada à ONU,
para cooperar com os países-membros na formação de técnicos e na estruturação
de centros de pesquisa voltados para a energia nuclear. Assim, em 1956 a ONU
criou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), com o objetivo de
cooperar com os países-membros em aplicações civis da energia nuclear (por
exemplo, atividades biomédicas, aplicações industriais e agrícolas e produção de
energia elétrica). Ainda voltarei a falar dessa agência.
Em 1955 o governo brasileiro já tinha tomado a decisão de instalar um
reator nuclear em São Paulo, e o professor Marcelo Damy de Souza Santos foi
encarregado de presidir a comissão que coordenou o projeto brasileiro. Em
1956, o Conselho Nacional de Pesquisas, em comum acordo com o Conselho
Universitário da Universidade de São Paulo, designou o próprio Damy para
criar o Instituto de Energia Atômica (atual IPEN), ligado à USP. Foi então instalado
no IEA um reator de pesquisa, voltado para a produção de radiofármacos,
sob a orientação dos professores Marcelo Damy, Fausto Walter Lima, Alcídio
Abrão e outros.
Ainda não se pensava em implantar reatores de potência no Brasil, pois já
se previa a existência de um enorme potencial hidrelétrico nas regiões Centro-
-Sul e Sul, que começava a ser inventariado por engenheiros da Cemig, com
assistência técnica do consórcio canadense-americano Canambra Engeeniring
Consultants.
Pode-se dizer que a primeira iniciativa concreta de se implantarem reatores
de potência no país foi tomada no Instituto de Pesquisas Radiológicas, que
tinha sido criado em 1953 na Universidade Federal de Minas Gerais, onde se
formou em 1965 o chamado Grupo do Tório, no âmbito da cooperação técnica
França-Brasil. O objetivo daquela iniciativa foi o de desenvolver tecnologia para
a elaboração do projeto conceitual de um reator de potência baseado no ciclo
do tório.
Em 1971, o governo – muito influenciado pelo poderoso lobby da indústria
norte-americana – resolveu estruturar um programa nuclear efetivamente
Primórdios e percalços
do programa eletronuclear
Joaquim Francisco de Carvalho
P
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voltado para a geração de energia elétrica e decidiu implantar uma usina de 750
MW no município de Angra dos Reis, criando para isso a Companhia Brasileira
de Tecnologia Nuclear.
Essa foi a origem da central de Angra I, que foi projetada pela empresa
americana Westinghouse e implantada por empreiteiras brasileiras do setor de
construção pesada e montagem eletromecânica, associadas a firmas congêneres
americanas e com tecnologia destas – tudo sob a orientação e supervisão da
própria Westinghouse, que também forneceu o sistema nuclear de geração de
vapor, além da maioria dos componentes eletromecânicos dos demais sistemas
da usina, em particular o conjunto turbogerador.
Em 1975 foi extinta a Companhia Brasileira de Tecnologia Nuclear, que
tinha sido criada para construir Angra I e continuar um programa nuclear voltado
para o setor elétrico. Em seu lugar criou-se a Empresas Nucleares Brasileiras
(Nuclebras), entrando em cena a empresa alemã KWU/Siemens. Nasceu assim o
chamado Programa Nuclear Brasil-Alemanha, que se transformou em ponto de
honra para o governo do general Ernesto Geisel e seu ministro Shigeaki Ueki,
com o embaixador Paulo Nogueira Batista na presidência da Nuclebras.
A vantagem da proposta da KWU sobre a da Westinghouse foi o compromisso
assumido pelos alemães de transferir – juntamente com o projeto e
os componentes das primeiras usinas a serem implantadas no Brasil – toda a
tecnologia do ciclo de combustível nuclear, incluindo a do enriquecimento e,
principalmente, a do reprocessamento. Mas não sei se houve algum interesse das
Forças Armadas por esse projeto, nem se isso foi decisivo para a concretização
do Acordo Nuclear com a Alemanha.
Em 1976 fui designado diretor industrial da Nuclebras Engenharia (Nuclen,
atual Eletronuclear),
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