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Relação Entre Ciências E Pressupostos Fundamentais Que Compõe O Pensamento Cotidiano Das Pessoas

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Por:   •  1/9/2014  •  1.820 Palavras (8 Páginas)  •  454 Visualizações

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Relação entre Ciências e pressupostos fundamentais que compõe o pensamento cotidiano das pessoas

O trabalho analisa como educação religiosa e educação científica se relaciona ao longo da trajetória de formação profissional de alunos protestantes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). A análise foibaseada no mapeamento das concepções de natureza dos alunos investigados e na caracterização de suas estratégias para administrar a convivência entre conhecimento científico e conhecimento religioso em sua visão de mundo.

As observações sugerem que as relações entre educação científica e educação religiosa devem ser objeto de atenção e pesquisa por parte da comunidade brasileira de pesquisadores em educação científica. No nosso caso, elas se somaram à constatação, nas experiências relatadas acima, de que alunos protestantes da Licenciatura em Ciências Biológicas, futuros professores de Ciências e Biologia, se sentem, em maior ou menor grau, compromissados com suas convicções religiosas e buscam, de diferentes maneiras, amenizar ou evitar possíveis conflitos entre a visão de mundo cristã e os modelos explicativos da ciência. Fomos alertados, desse modo, para a necessidade de investigarmos as relações que se estabelecem entre conhecimento científico e conhecimento religioso no delineamento da visão de mundo destes alunos. Trata-se, sem dúvida, de um problema quepode ser facilmente encontrado entre alunos com outras formações religiosas, mas pareceu-nos que os alunos protestantes constituíam não somente um caso bastante ilustrativo do problema em foco, mas também demandavam uma atenção mais urgente.

Alguns religiosos (Johnson, 2001; Plantinga, 2001) interpretam a ênfase dada ao ensino de evolução ou mesmo a sua simples presença nos currículos escolares de Ciências como um viés anti-religioso, vinculado a uma filosofia que consideram materialista, dogmática e desnecessária, que pode vir contradizer as crenças dos alunos, religiosos ou não, acerca de simesmos e do mundo.

Na literatura que trata das relações entre educação científica e educação religiosa, encontramos três posicionamentos: (1) A proposta de que a educação religiosa é incompatível e conflitante com a educação científica, dadas as incompatibilidades doutrinárias, metafísicas, metodológicas e atitudinais entre ciência e religião (Mahner& Bunge, 1996). (2) A concepção de que educação religiosa e educação científica são independentes e complementares, dado que ciência e religião respondem a distintas necessidades humanas (Woolnough, 1996; Lacey, 1996; Gould, 2002a). Desta perspectiva, entende-se que não há possibilidade de conflito epistêmico real entre religião e ciência, dada a sua incomensurabilidade, bem como considera-se que a síntese entre estas duas formas de conhecimento conduz a distorções de ambas e à construção de estruturas de conhecimento fundadas sobre alicerces inconsistentes (Woolnough, 1996; Lacey, 1996; El-Hani&Bizzo, 1999, 2002). Propõe-se, contudo, que diálogos enriquecedores tanto para as ciências quanto para as religiões podem ser travados entre estes dois domínios doconhecimento humano.

A discordância de teólogos e filósofos que consideram a existência de cientistas religiosos uma evidência a favor da tese de que religião e ciência podem ser compatibilizadas.

Estes fatos, demostram a “a consistência do sistema total de crenças de uma pessoa é difícil de ser alcançada, em particular no meio de uma sociedade na qual a religião organizada confere um poder político e cultural formidável”. Mahner e Bunge se defendem a tese de que a ciência e a religião são incompatíveis, do ponto de vista não só metafísico, mas também epistemológico, metodológico e atitudinal. Além disso, eles argumentam que, dadas estas incompatibilidades, a educação religiosa, principalmente precoce,é prejudicial à educação científica.

Porém, eles afirmam explicitamente que a sua caracterização de ciência é válida apenas para a ciência contemporânea, entendida como uma instituição social que se estabeleceu a partir da segunda metade no século XIX, não sendo necessariamente aplicável à ciência praticada nos séculos XVII e XVIII.

Para Mahner e Bunge (1996:103), o domínio factual da ciência compreende tudo o que existe. Eles argumentam que, embora existam coisas que atualmente se encontram, de facto,fora do alcance da investigação científica, nada existe, em princípio, que não possa ser de jureestudado pela ciência, incluindo-se campos da investigação e fenômenos normalmente considerados além da compreensão científica, como os sentimentos e as emoções subjetivas, ou a origem e função da moralidade e da religião.

Resultados e discussão

Com base nos resultados obtidos, foi possível dividir os alunos investigados em dois grupos: (1) alunos com visão de mundo mais compatível com a ciência, que empregam com freqüência e propriedade noções e conceitos científicos em suas narrativas acerca da natureza, buscando uma síntese entre os modelos explicativos da ciência e a visão de mundo teísta; (2) alunos que não incorporaram de maneira significativa o discurso das ciências, chegando a recusar de maneira deliberada o conhecimento científico.

Três dos alunos investigados (cognominados Laurinda, Cristovão e Paloma) integram os conhecimentos científicos à sua visão de mundo, sem isolá-los das outras crenças e dos outros pressupostos que a compõem. Na visão de mundo destes alunos, os conhecimentos científicos e religiosos não se encontram, pois, compartimentalizados, mas, ao contrário, interagem dediferentes maneiras. Ao descreverem a natureza, estes três alunos fazem referência a conceitos científicos, expressando noções de ordem, níveis de organização, complexidade na natureza, com um sentido próximo àquele assumido por cada uma destas idéias no discurso científico. No entanto, estas noções sobre a natureza, apropriadas do discurso científico, dialogam intensamente com as concepções teístas de criação divina e ação permanente de Deus no mundo natural.Diferentemente do primeiro grupo de alunos, as outras duas alunas que participaram dapesquisa, cognominadas Beatriz e Selma, optaram por não se apropriarem do conhecimentocientífico. Foi possível constatar, ao longo das entrevistas, que o conhecimento científico não exerce uma influência significativa sobre o modo de pensar destas duas alunas. Elas praticamente não mencionaram conceitos científicos em suas descrições da natureza e, quando os mencionaram, o fizeram sem grandes elaborações.

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