Segunda Fase Do Estudo Foi Concluída; Expectativa é Que O Trabalho Subsidie Políticas Em P&D Em Nicho Ainda Pouco Explorado No Brasil

Para subsidiar o governo e empresas do Brasil, o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em articulação com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), concluiu nos últimos meses a segunda fase do Estudo Prospectivo de Materiais Avançados. O trabalho de prospecção, iniciado em 2007, traçará um panorama completo sobre as ações que devem ser adotadas pelo país até 2022.

O atual cenário econômico e social apresenta inúmeras oportunidades de inovação em materiais, acredita Fernando Galembeck, consultor do estudo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). De acordo com ele, os principais determinantes para esse cenário são “a transição para uma economia global sustentável, a busca de alternativas para o petróleo, a emergência de novas tecnologias e a migração de enormes populações para novos padrões de consumo”.

O Brasil, atual 20º colocado entre os maiores exportadores, tem potencial para alcançar melhores posições se investir em pesquisa e desenvolvimento de materiais avançados, atento às oportunidades de mercado e aos interesses sociais. Dessa forma, reduzirá o peso das commodities no total comercializado com seus parceiros. “Os materiais avançados apresentam atributos como maior eficiência, menor custo, menos poluição, maior alcance social e melhores condições de saúde, entre outras vantagens”, afirma Wander Luiz Vasconcelos, engenheiro especializado em materiais e metalurgia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e colaborador no estudo.

São chamados de avançados os materiais que, durante a fase de pesquisa e desenvolvimento, recebem cuidados especiais quanto aos processos de síntese e controle da estrutura do material de base. Desse modo, reúnem um conjunto de características operacionais preciso e adaptado às suas aplicações, como no setor energético, ambiental, na saúde, defesa, telecomunicações e infraestrutura, entre outras áreas.

Na primeira fase do trabalho, concluída em 2008, os especialistas envolvidos coletaram dados e organizaram informações. A partir delas, produziram os relatórios que mostram oportunidades, desafios e tendências para os materiais avançados em diferentes áreas, como na economia, infraestrutura e meio ambiente, bem como para o desenvolvimento industrial e científico. A primeira fase foi responsável por mapear tópicos relevantes em determinadas linhas de pesquisa que viabilizassem o desenvolvimento de materiais avançados, destacando as de maior potencial de retorno de investimentos.

“A prospecção é voltada para identificar oportunidades de negócios nos temas em pauta e também para elaborar estratégias de redução da dependência de importação de materiais”, afirma Elyas Medeiros, assessor do CGEE e líder do estudo. O trabalho conduzido por Medeiros contempla sete áreas fundamentais para o desenvolvimento do país: aproveitamento sustentável de biomassa e recursos naturais; geração e armazenamento de energia; reversibilidade de problemas do meio ambiente; produtos para a saúde médico-odontológica; exploração da via dual das tecnologias sensíveis; obtenção de economias industriais de escala por meio do desenvolvimento da tribologia; e aplicações eletrônicas, magnéticas e fotônicas.

Além do aumento da competitividade internacional, o desenvolvimento dos materiais avançados no Brasil renderá benefícios internos, não só de ordem econômica. Entre as necessidades estratégicas prioritárias do país, especificamente na área de recursos naturais, o estudo do CGEE recomenda ações de impacto positivo relativo ao aproveitamento desses recursos, à conservação do meio ambiente e à melhoria da qualidade de vida da população brasileira.

Recursos Naturais

No caso específico do tema de materiais avançados e recursos naturais, a segunda fase do estudo é enfática ao apontar a importância do uso de biotecnologias na produção de materiais de origem natural, que recebeu grau máximo de prioridade estratégica.

Para o consultor Wander Vasconcelos, “a melhoria do padrão de vida dos brasileiros passa necessariamente pelo uso racional, eficaz e sustentável de seus recursos naturais”. Ainda de acordo com ele, os materiais avançados são necessários para que o Brasil possa, de maneira efetiva e definitiva, utilizar seus recursos naturais em benefício da população. “Esses materiais representam o elo necessário e indispensável para se atingir um padrão elevado de utilização de energia solar, eólica e nuclear”, exemplifica.

Nesse ponto, que inclui o aproveitamento sustentável de biomassa e de recursos naturais sem prejuízos ao meio ambiente, como a utilização de óleos e gorduras vegetais em substituição aos derivados de petróleo e o uso de rejeitos agrícolas para produzir fertilizantes, o estudo recomenda difundir junto à indústria - com apoio de universidades, centros tecnológicos e institutos - a possibilidade