VARIAÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS FOLIARES AO LONGO DE GRADIENTES CLIMÁTICOS EM AMBIENTES TROPICAIS
Ensaios: VARIAÇÃO NAS CARACTERÍSTICAS FOLIARES AO LONGO DE GRADIENTES CLIMÁTICOS EM AMBIENTES TROPICAIS. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: silmardegan • 19/2/2014 • 3.745 Palavras (15 Páginas) • 482 Visualizações
1 Introdução
Existem cerca de 270.000 plantas vasculares cobrindo a superfície terrestre. Estas se
encontram distribuídas nos mais diversos ambientes, pertencem aos mais variados grupos
taxonômicos e apresentam estratégias de vida distintas (Lambers et al 2008). Contudo, por
maior que seja esta diversidade, todas possuem um componente-chave que regula desde seu
funcionamento até o do ecossistema como um todo – as folhas.
As folhas são responsáveis pela conversão de energia luminosa em energia química,
produzindo assim, compostos fotossintéticos que são fonte de energia para a assimilação de
nutrientes, bem como para a manutenção de seu metabolismo e investimento na construção de
folhas e componentes estruturais (Larcher 2005). Os produtos resultantes da fotossíntese, bem
como os nutrientes assimilados, são combustível não somente para as próprias plantas, mas
também para animais, fungos e outros heterótrofos (Wright et al 2004). Desta forma, as folhas
são fundamentais para o funcionamento dos ecossistemas terrestres, sendo peças-chave nos
ciclos biogeoquímicos, seja pela assimilação de CO2 e nutrientes, seja pela decomposição de
suas folhas, retornando estes compostos aos sistemas (Wright & Westoby 2004).
A manutenção, o funcionamento e a distribuição de uma dada espécie vegetal
dependem do modo como esta interage com fatores que afetem o balanço positivo do carbono,
bem como os padrões de alocação de recursos (de Mattos et al 2004). Como a disponibilidade
destes recursos não é homogênea, a capacidade de adaptação dos organismos a determinadas
condições ambientais é uma propriedade ecológica e evolutiva altamente relevante,
principalmente quando lidamos com organismos sésseis, como as plantas (Reich et al 2003,
Berg et al 2005). Esta capacidade de responder à heterogeneidade ambiental envolve
alterações na fisiologia e morfologia dos organismos, permitindo a manutenção e a
produtividade dos mesmos ao longo de uma variedade de condições ambientais (Pigliucci
2001), podendo auxiliar a explicar diferenças na distribuição ecológica e geográfica de taxa
proximamente relacionados (Petit et al 1996).
A produtividade e manutenção da maioria das plantas vasculares são mediadas pelas folhas,
sendo que muitas das adaptações acima descritas ocorrem em níveis foliares. Variações
relacionadas à assimilação e uso de recursos (tais como medidas relacionadas às trocas
gasosas, estrutura e funcionamento das folhas, alocação de biomassa e nutrientes foliares)
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podem influenciar o desempenho das espécies em determinadas condições, bem como sofrer
evolução adaptativa frente às pressões exercidas pelo ambiente (Ackerly et al 2000). Por
exemplo, uma relação direta tem sido descrita entre os atributos relacionados à economia
foliar e o clima (Díaz et al 1998; Wright et al 2004; Reich et al 2007), onde plantas de
ambientes secos e limitados nutricionalmente muitas vezes apresentam características
associadas à conservação dos nutrientes assimilados e ao déficit hídrico, conferindo a estas
plantas elevada massa por área, baixa concentração de nutrientes foliares e baixa capacidade
fotossintética (Reich et al 1997, Rosado & de Mattos 2007).
O estudo da ecofisiologia vegetal estabelece relações entre a variação dos fatores
ambientais e os processos de resposta adaptativas das espécies vegetais. Os mecanismos
fisiológicos envolvidos nestas respostas, bem como o significado evolutivo das mesmas
podem fornecer valiosas informações acerca da auto-ecologia dos indivíduos na
comunidade(Larcher 2000). Além disto, alterações nas características foliares estão
diretamente relacionadas a processos ecossistêmicos, como produtividade e decomposição,
devido a sua capacidade de influenciar a intensidade dos fluxos de carbono e nutrientes e os
estoques de biomassa nos ecossistemas (Reich et al 1992; Díaz et al 2004). Por exemplo, uma
dada característica de uma folha (esclerofilia) pode tanto afetar o indivíduo, reduzindo sua
capacidade fotossintética (uma vez que suas células são preenchidas com material mais rígido,
reduzindo o espaço disponível para o CO2 ser difundido para a célula), como também afetar
reduzir as taxas de herbivoria (já que este material foliar, rico em fibras não é tão palatável) e
de decomposição (elevada razão C/N, reduzindo a mineralização), alterando toda a
produtividade do ecossistema.
O interesse em compreender tais relações tem crescido nos últimos tempos, uma vez
que o ambiente onde as plantas assimilam seus recursos vem sendo intensamente alterados ou
eliminados, resultado da ação desenfreada e impensada do ser humano. Desta forma, a
compreensão das dimensões de variação entre plantas em relação à sua distribuição, ao seu
modo
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