A Ocorrência, Sazonalidade e Densidade

Ocorrência, Sazonalidade e Densidade de cinco espécies de sábias (Turdus rufiventris, T. leucomelas, T. amaurochalinus, T. albicollis, T. flavipes) no Parque do Instituto Butantan

Juliana de Lima Pereira

Projeto apresentado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para solicitação de Bolsa de Iniciação Científica.

Orientadora: Erika Hingst Zaher

São Paulo

Julho – 2016

Ocorrência, Sazonalidade e Densidade de cinco espécies de sabiás (Turdus rufiventris, T. leucomelas, T. amaurochalinus, T. albicollis, T. flavipes) no Parque do Instituto Butantan

Resumo

O Parque do Instituto Butantan representa um importante reduto para a fauna dentro da matriz urbana do município de São Paulo. As aves são o grupo de vertebrados mais expressivo, contando com cerca de 150 espécie já registradas no Parque, entre as quais estão seis espécies do gênero Turdus, o gênero com o maior número de táxons na área. A coexistência dessas espécies de ecologia bastante similar no Parque oferece uma oportunidade interessante para o estudo de repartição de nicho em ambientes urbanos. Neste contexto, o presente projeto propõem-se a levantar as densidades populacionais de cinco espécies de aves do gênero Turdus presentes no Parque do Instituto Butantan. Os dados gerados contribuirão para a obtenção de informações a respeito da abundância e distribuição espacial das espécies de sabiás no Parque do Instituto Butantan, auxiliando também na conservação da avifauna local através da proposição de eventuais medidas de manejo do parque que beneficiem  a fauna local. Para analisar a ocorrência e sazonalidade, além dos dados coletados através dos censos, serão utilizados, também, informações obtidas dentro do conceito de ciência cidadã na observação de aves.

Palavras-chave: repartição de nicho, densidade, monitoramento, sazonalidade, ocorrência.

1 Introdução

A heterogeneidade espacial tem um importante papel na composição da biota e na organização e partição de nicho entre as diferentes espécies de uma comunidade. Pimm & Rosenzweig (1981) mostram que essas pequenas diferenças nas preferências de habitat podem levar a uma grande divergência em seu uso por espécies competidoras. Assim, a partição dos recursos é um mecanismo importante na estruturação das comunidades (Denslow 1980, 1985), principalmente no que se refere à coexistência das espécies (Begon et al. 1990).   

 Dentre os agentes dispersores vertebrados, as aves desempenham um papel importante, não apenas pela sua abundância, como também devido à frequência com que se alimentam de frutos (Pizo, 1997). As aves  portanto, desempenham um papel fundamental na demografia das populações de plantas e, consequentemente, na dinâmica e estrutura das comunidades vegetais (Jordano, 1993).  

A estrutura vegetacional encontrada em ambientes urbanos pode influenciar na distribuição e composição das espécies de aves (Willis & Oniki 1987, Argel-de-Oliveira 1995, Villanueva & Silva 1996), cuja diversidade que pode ser relativamente alta (Blair 1996), em locais com boa arborização como áreas verdes e parques urbanos, especialmente aqueles que representam resquícios da vegetação original (Lopes 2009). Esses podem ser fatores atrativos para a chegada e possível permanência de aves nas cidades (Blair 1996, Lira Filho & Medeiros 2006), assim tornam-se importantes elementos associados à conservação da avifauna urbana (Lopes 2009).

O IB localiza-se em meio urbano, mas possui uma extensa área verde onde já foram registrados cerca de 150 espécies de aves, dentre elas, seis espécies de sabiás (gênero Turdus).

Sabiás deste gênero (Turdidae) estão entre as aves mais comumente encontradas em ambientes alterados em todo o mundo, inclusive em áreas urbanas (PIZO, 2007; GASPERIN, PIZO, 2009). São onívoras e frequentemente se alimentam de frutos e são importantes dispersores de sementes em áreas degradadas (DEL HOYO et al., 2005; SNOW, SNOW, 1988). A alta capacidade dessas aves em ocupar áreas abertas lhes permite visitar diferentes fragmentos florestais promovendo, assim, a circulação de sementes entre diferentes fragmentos, o que contribui para a extensiva disseminação das sementes (Jordano et al. 2007, Gasperin; Pizo, 2009).

 A família Turdidae (Aves: Passeriformes) possui aproximadamente 300 espécies distribuídas ao redor mundo, ocorrendo nas Américas, África e Eurásia (CLEMENT, 2000). No Brasil são registradas 18 espécies de turdídeos e são relativamente abundantes (CBRO, 2014). Este grupo, em geral, possui baixa sensibilidade à perturbação e geralmente são espécies de ampla distribuição e presentes em diferentes tipos de habitats  (Reichard et al 2001; Del Hoyo et al 2005; Pizo 2007), sendo populares em todo o país. Reúne aves com canto bastante elaborado. O termo sabiá deriva do tupi e significa “aquele que reza muito”, em alusão ao rico repertório vocal dessas aves.  O canto deles é marcado por variações regionais, geralmente com a finalidade de demarcar territórios e atrair fêmeas^[a]. A variação geográfica do canto de uma espécie é um fenômeno bastante comum nas aves canoras (Oscines), isto se deve, principalmente, porque nestas espécies os cantos precisam ser aprendidos e imitados através de uma transmissão cultural (Wood e Yezerinac, 2006; Koetz et al., 2007; Laiola et al., 2008). Durante o processo de aprendizagem, ocorrem mudanças nos cantos devido à influencia das propriedades acústicas dos habitats, como consequência o repertório vocal aumenta (Slater, 1989; Kroodsma e Miler, 1996; Slabberkoorn e Smith, 2002  e b; Ruegg et al., 2006).

Turdus foi o gênero registrado com maior frequência durante os anilhamentos realizados até o momento no Instituto Butantan, foi também o gênero com mais ninhos encontrados, de acordo com um monitoramento realizados no período de 09.15 a 01.16.  sabiás podem apresentar grande flexibilidade no uso de habitats utilizando desde pequenos fragmentos de floresta até  áreas degradadas em áreas bastante urbanizadas (Pizo, 2004).

Dados quantitativos, ou seja, informações sobre a abundância relativa ou sobre a densidade podem ser coletadas para uma só espécie ou para várias espécies ao mesmo tempo (Bibby et al., 1998; SUTHERLAND, 2000).Assim, os dados obtidos com este projeto irão contribuir para a análise de aspectos ecológicos de cinco, das seis espécies de sabiás que habitam no Parque do Instituto Butantan, como a abundancia e distribuição espacial, formando um banco de dados  que poderá contribuir em eventuais ações de manejo no parque.