Os Probióticos Para Bovinos
Por: Leilane12 • 17/8/2018 • Trabalho acadêmico • 9.921 Palavras (40 Páginas) • 232 Visualizações
1 INTRODUÇÃO
O interesse no uso de microrganismos vivos com o propósito de beneficiar a saúde do hospedeiro e prevenção ou tratamento de doenças tem sido explorado nesses últimos anos. Esses organismos vêm sendo propostos como complementos ou alternativas no tratamento de um grande número de desordens gastrointestinais.
Um dos grandes problemas atuais da medicina é a alta resistência bacteriana aos antibióticos disponíveis no mercado. Nas últimas décadas, muita atenção tem sido dada à modulação da microbiota intestinal nativa por adjuvantes microbianos vivos chamados de probióticos. A grande vantagem da utilização de aditivos alimentares com potencial probiótico é a ausência de efeitos secundários, como a seleção de bactérias resistentes.
A definição de probióticos surgiu a partir de observações de pesquisadores nas variações da microflora intestinal, mediante a ingestão de microrganismos benéficos, onde promoviam a proteção contra infecções por microrganismos patogênicos e, na nutrição, pela capacidade de auxiliarem a digestão e absorção de nutrientes.
Todos os mamíferos possuem microrganismos no interior do trato digestivo que são fundamentais para suas vidas. São muitas as espécies, ainda não conhecidas na sua totalidade, nem em todos os aspectos de sua relação com o organismo que as hospeda.
Devido a fatores do ambiente ou de queda da resistência do organismo do hospedeiro, a composição da microbiota naturalmente presente pode ser adversamente afetada. Em tais situações, o hospedeiro se tornará mais facilmente susceptível a doenças ou reduzirá a sua eficiência na utilização do alimento. A administração de probióticos visa prevenir estes transtornos e/ou restabelecer a microbiota natural, de modo a fazer com que o animal retorne à sua condição normal de crescimento, saúde e nutrição.
Esta revisão tem o objetivo de reunir informações de diversos autores sobre a utilização de aditivos alimentares com potencial probiótico na dieta de bovinos, na qual promovem o equilíbrio da flora microbiana no trato digestivo dos mesmos.
2 COMPOSIÇÃO DA MICROBIOTA DO TRATO DIGESTIVO DOS RUMINANTES
A ingestão de alimentos pelos ruminantes é bastante peculiar para cada espécie, pois as várias espécies apresentam hábitos diferenciados quanto ao pastejo, apreensão dos alimentos, mastigação, ruminação, palatabilidade, etc (FRANZOLIN, 1997).
Os ruminantes tem dois orgãos digestivos adicionais anterior ao trato. O primeiro destes, o rúmen, onde logo após a ingestão, os alimentos passam para o mesmo através do esôfago, ocorrendo à mistura com o conteúdo ruminal e a digestão dos nutrientes pelos microrganismos. A digestão do alimento no rúmen ocorre por uma combinação de fermentação microbiana e de avaria física durante a regurgitação do alimento pela ruminação. Nenhuma enzima animal do hospedeiro é provavelmente envolvida. De fato, a proteína microbiana é a fonte a mais importante de ácidos amino para a absorção (FULLER, 1992).
Os ruminantes evoluíram para utilizar os ácidos graxos voláteis (AGV) que resultam da fermentação dos seus substratos principais para o crescimento e a lactação. Estes ácidos graxos voláteis compreendem principalmente ácidos acéticos, propiônicos e butíricos.
Na vaca leiteira, o rúmen, por exemplo, apresenta um volume líquido de 60-100 litros. Este órgão assemelha-se a uma câmara de fermentação, com características praticamente constantes devidas a uma série de mecanismos fisiológicos do hospedeiro (SOEST, 1982). Assim, o suprimento constante de alimentos e a remoção contínua dos produtos da fermentação microbiana e dos resíduos não fermentados mantêm as condições ideais para o desenvolvimento da microbiota (DEHORITY, 1987). Os fatores primários, tais como temperatura, pH, poder tampão, conteúdo de matéria seca, potencial de oxirredução e pressão osmótica podem influenciam decisivamente na microbiota ruminal.
A estabilidade do ambiente ruminal é essencial para o equilíbrio da flora microbiana e para a otimização da sua atividade fermentativa. Em animais saudáveis, os microrganismos benéficos impedem por exclusão competitiva, a proliferação dos microrganismos patogênicos. A manutenção deste equilíbrio da microflora gastrointestinal é essencial para garantir o bom estado sanitário do hospedeiro
Em animais recém-nascidos, o trato gastrointestinal é estéril e adquire alguns microrganismos durante seu nascimento, ao passar pela vagina. Imediatamente após o parto, inicia-se rápido processo de colonização do trato digestivo, pelo contato da boca com o chão e pelos tratos da vaca à sua cria (lamber o animal, estimular o aleitamento, etc). A colonização por Escherichia coli (Migula, 1895) é detectada em todas as áreas do trato digestivo de bezerros 8 horas depois do nascimento, e lactobacilos e estreptococos detectados em 24 horas. Em animais saudáveis, lactobacilos rapidamente colonizam o intestino, deslocando coliformes e alcançando populações de 107 - 109 g-1 ao longo do intestino por uma semana de idade. O desenvolvimento de uma população microbiana funcional no intestino do recém-nascido ruminante não só facilita a digestão de fibra pelo hospedeiro, mas também ajuda proteger o intestino de infecções por organismos patogênicos (FULLER, 1992).
Durante os primeiros dias de vida o rúmen não é funcional. Parte do leite ultrapassa o rúmen via esôfago (HUNGATE, 1966). A ingestão de uma alimentação sólida pelo animal marca o segundo estágio de estabelecimento de uma flora intestinal em ruminantes jovens, com o desenvolvimento da fermentação ruminal, onde a população microbiana no rúmen aumenta e começa a parecer-se com a de um adulto ruminante (FONTY et al., 1987). Os produtos finais da fermentação microbiana favorecem o desenvolvimento e o aumento do rúmen (WARNER et al., 1953), tal que por volta do tempo de desmame, o mesmo é desenvolvido tanto como um órgão de digestão como absorção (THIVEND et.al., 1979).
As espécies de microrganismos que compõem a microbiota são características de cada espécie animal. Em geral, o intestino possui cerca de 1014 bactérias. Esta enorme população microbiana, metabolicamente ativa, embora pouca estudada, desempenha importante papel na fisiologia e nutrição do animal.
A microbiota encontrada no rúmen é composta basicamente por populações de bactérias (1010/g de conteúdo ruminal), de protozoários (103 a 106/g) e de fungos (0 a 104/g). Sua composição não é totalmente conhecida (KRAUSE & RUSSEL; 1996). Cada espécie presente interage com as demais e com o animal hospedeiro. Mais de 400 espécies conhecidas podem ser encontradas no trato digestivo.
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