Fichamento: O Percurso das Letras
Por: Tiagosafadao • 17/3/2016 • Resenha • 2.900 Palavras (12 Páginas) • 345 Visualizações
O PERCURSO DAS LETRAS:
O ensino de Literatura no Brasil Colonial
Ramon Ferreira Santana
(UFS/NPGED)
“...Crisostomo e Anselmo e quel Donato
Ch’a la prim’arte degno porre mano.”
Dante, Paradiso, 12, 138.
Resumo
Este artigo tem o objetivo de refletir sobre o processo de desenvolvimento da disciplina de Literatura no período colonial vivido pelo Brasil, durante a sua formação. A partir de referenciais teóricos como Verney (1746), Haidar (2008), Pinheiro (1862), Freyre (2006) e Oliveira (2010) pretendo dissertar sobre como se deu, no período supracitado, a constituição desta área do conhecimento como disciplina institucionalizada. Essa construção ocorreu de maneira lenta e gradual, tendo em vista que a própria constituição do ensino no Brasil, neste período, sofreu amplas reformas nas suas principais bases. É possível perceber, neste contexto, que a institucionalização deste ensino não ocorreu de maneira planejada e sistematizada, mas, do contrário, ela talvez tenha se dado de modo aleatório ou mesmo casual. A completa ausência de manuais sobre o processo de desenvolvimento das capacidades cognitivas do sujeito durante o período do ensino jesuíta, somado ao descaso que Luís A. Verney proporcionou aos estudos de Literatura demonstram o porquê desta disciplina, ainda nos dias atuais, não gozar dos prestígios de outras áreas como a Matemática ou mesmo a História Geral. Contudo, no século XIX, percebemos a constituição da Literatura Nacional como pressuposto necessário ao desenvolvimento do sujeito, a partir da instauração desta cadeira no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Neste sentido, poucas serão as inferências desta área do conhecimento durante o período Colonial, mas a atenção acerca deste processo é essencial para uma compreensão mais ampla da consolidação desta disciplina.
Palavras-chave: Educação, Literatura, Brasil Colonial.
Abstract
This article aims to reflect on the process of development of the discipline of Literature in the colonial period experienced by Brazil, during its formation. From theoretical references as Verney (1746), Haidar (2008), Pinheiro (1862), Freyre (2006) and Oliveira (2010), I intend to make a speech about how it came, during the period referred above, the constitution of this field of knowledge as an institutionalized discipline. This construction occurred slowly and gradually, given that the constitution of education in Brazil during this period suffered extensive reforms in its main bases. It can be seen in this context that the institutionalization of this teaching did not occur in a planned and systematic way, but, otherwise, it might have been given random or even casually. The complete absence of manuals on the process of development of cognitive abilities of the subject during the period of Jesuit education, coupled with the neglect that Louis A. Verney gave to Literary studies, demonstrate why this discipline, even today, do not enjoy the prestige of the other areas such as Mathematics or even the General History. However, in the nineteenth century, we see the establishment of the National Literature as a necessary prerequisite to the development of the subject, from the establishment of this chair at the Colegio Pedro II in Rio de Janeiro. In this sense, there will be little inferences from this knowledge field during the Colonial period, but the attention about this process is essential for a broader understanding of the consolidation of this discipline.
Keywords: Education, Literature, Colonial Brazil.
INTRODUÇÃO
Luís A. Verney se tornou um dos maiores cânones na construção do pensamento educacional tal como ele é concebido durante grande parte da história do Brasil. Durante o reinado de D. José I, compreendido entre 1750 a 1777, quando se consolidou a reforma pombalina, o livro O verdadeiro método de estudar, publicado em 1746, serviu como principal referencial no processo de reformulação da estrutura pedagógica a ser executada nas terras lusitanas, bem como em todas as suas colônias. O modo como Verney tratou o ensino de Literatura – que não estava ainda estabelecido nessa época – descontrói o modelo enraizado, desde a Grécia Antiga, e institucionalizado até então pelos jesuítas na colônia. Tomando como base os moldes criados por Platão, Aristóteles e Horário, o ensino jesuítico preocupou-se exclusivamente na reprodução de tratados, conceitos e regras de composição que forneciam ferramentas para a leitura e para a compreensão de obras clássicas. Com a reforma, deixou de ser uma prioridade a memorização de tais regras ou mesmo de obras, tendo em vista que agora na República, para Verney, a poesia não é coisa mais necessária. Há, desde então, um dos principais rompimentos que darão ao ensino de Literatura o caráter que ele mantém hoje, conforme preza os Parâmetros Curriculares Nacionais em voga. Para o pedagogo, não havia precisão de se produzir ou memorizar os versos senão para o entretenimento da sociedade e, por isso, este campo deveria ser reservado apenas àqueles que demonstrassem a inclinação necessária para tal tarefa. Mesmo assim, para a formação de uma intelectualidade mais consistente, considerava o autor, era importante que o indivíduo, por mais que não produzisse ele mesmo estas obras, conhecesse um pouco acerca do seu desenvolvimento.
O ensino da disciplina, no entanto, vai apenas se consolidar já no século XIX, com a criação do Colégio Pedro II, durante o período imperial em que, desde 1822, o Brasil deixa de ser colônia portuguesa e passa a usufruir de uma independência pouco elucidativa. Neste período, no Colégio Pedro II, o ensino da Retórica e da Poética serão substituídos pelo ensino da História da Literatura. Convém ressaltar que esta instituição servirá de modelo para a expansão do ensino público no Brasil e estenderá o seu legado até as reformas oriundas a partir da década de 50 do século XX. “O ensino ministrado no Colégio de Pedro II foi, portanto, durante todo o Império, um padrão ideal” (HAIDAR, 2008, p. 94).
Em sua nota ao leitor, o cônego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, autor do Curso elementar de Literatura Nacional, publicado pela primeira vez em 1862, anuncia que a sua nomeação como professor de retórica, poética e literatura nacional no Colégio Pedro II se deu em 1857. No entanto, a cadeira de Literatura Nacional é criada somente no mesmo ano de publicação do Curso elementar... Na prática, a obra não trata propriamente da literatura nacional tal como propõe o seu título, mas de uma história da literatura que está intrinsicamente ligada à história da literatura portuguesa, até porque não havia ainda em nosso território nenhuma manifestação literária genuinamente nacional que se destacasse, senão aquelas trazidas de além-mar e aqui degustadas por uma sociedade que, mesmo vivendo em solo independente, estava profundamente arraigada na cultura europeia. Dessa forma, o requisito necessário, segundo o autor, para compreender o modo como se desenvolveu a nossa literatura é retomar o passado recente quando éramos ainda colônia portuguesa – econômica e culturalmente. Somente a Escola Romântica Brasileira é que, nas últimas páginas da sua extensa obra, faz-se retratada, sendo considerada por J. C. Fernandes Pinheiro o primeiro movimento que se distingue entre estes dois povos a utilizar a língua de Camões.
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