Distúrbios Osteomusculares em trabalhadoras rurais
Por: anac222 • 5/3/2017 • Dissertação • 5.324 Palavras (22 Páginas) • 325 Visualizações
Gênero, saúde e o trabalho rural
Gender, health and rural work
Ana Cleide da Silva Dias, Professora da Graduação Univasf, Petrolina, Email: anacleide.dias@univasf.edu.br
Silvia Lúcia Ferreira, Professora da Graduação e Programa de Pós Graduação da EEUFBA, email silvialf100@gmail.com
Resumo: A mão-de-obra do cultivo da uva absorve uma grande quantidade de mulheres devido as características de destreza manual, zêlo, paciência, e a possibilidade de maior exposição a longas jornadas levando a posturas inadequadas e movimentos repetitivos. O objeto do estudo busca identificar a força de trabalho feminino no cultivo de uva a partir da perspectiva de gênero e sua relação com a divisão sexual do trabalho e situações de precarização do trabalho da qual o sexo feminino é mais afetado. A abordagem teórica apresenta a incorporação de questões relacionadas ao gênero sendo essencial para a compreensão dessa realidade. Esse estudo teve como objetivo descrever o perfil das trabalhadoras rurais a partir de uma perspectiva de gênero e estimar a frequência de sintomas osteomusculares presente no cotidiano de trabalho. Foram selecionadas 172 mulheres de três empresas de cultivo de uva. Como resultado a faixa etária predominante foi a de 25 a 34 anos. A maioria das mulheres (42%) não concluiu o ensino fundamental. A maioria dessas mulheres são casadas (50%), 75% das mulheres possuíam entre 1 a 3 filhos e boa parte das mulheres (55,9%) já se encontra na mesma função há mais de 10 anos. Quanto às doenças auto-referidas, observou-se percentual mais elevado voltado para queixas osteomusculares. As questões abordadas evidenciam a existência de diferenciais de gênero no que se refere as atribuições de tarefas no campo como também de questões relacionadas a saúde sendo necessário um olhar específico as trabalhadoras rurais a condições favoráveis a igualdade entre homens e mulheres e saúde no trabalho.
Palavras-chave: Identidade de gênero; Trabalho; Saúde; Agricultura.
Abstract: Hand labor grape cultivation absorbs a lot of women because of the handedness characteristics, zeal, patience, and the possibility of increased exposure to long hours leading to awkward postures and repetitive movements. The object of the study seeks to identify the female workforce in grape cultivation from the gender perspective and its relationship to the sexual division of labor and precarious situations which work the female is more affected. The theoretical approach presents the incorporation of issues related to gender is essential to understand this reality. This study aimed to describe the profile of rural women from a gender perspective and to estimate the frequency of musculoskeletal symptoms present in daily work. We selected 172 women from three grape growing companies. As result the predominant age group was 25 to 34 years. Most women (42%) did not complete primary school. Most of these women are married (50%), 75% of women had between 1 to 3 children and most of the women (55.9%) is already in the same job for over 10 years. As for the self-reported diseases, there was a higher percentage facing musculoskeletal complaints. The issues raised demonstrate the existence of gender differences regarding the task assignments in the field as well as issues related to health a specific look is needed rural workers to favorable conditions for equality between men and women and health.
Keywords: Gender identity; Work; Ealth; Agriculture.
Introdução
O trabalho é considerado primordial para a inclusão do indivíduo na sociedade mas homens e mulheres ainda são vistos de forma desigual no mercado de trabalho inclusive na determinação de exercer funções específicas sendo visível a desigualdade de gênero sendo que as mulheres são mais atingidas (CAMARGOS et al., 2014).
No século XXI ocorre índices crescentes nas estatísticas voltadas para o mercado de trabalho feminino sendo marcado pela bipolarização da qual de um lado estão mulheres em condições não qualificadas de emprego e do outro situação contrária mas que já demonstra um novo padrão que diferencia a situação de desigualdade entre gêneros identificando que as mulheres permanecem em muitos setores sem reconhecimento através de salários baixos e a hierarquia que prevalece dos homens sobre as mulheres (CAPPELLIN, 2008).
É importante compreendermos o conceito de gênero pois é através desse entendimento inclusive na história que podemos perceber o quanto os movimentos feministas foram importantes para identificar a existência da desigualdade social e hierarquização que ocorria na sociedade o que levou a necessidade do surgimento de instrumentos de análise para compreender todo esse processo envolvendo inclusive o patriarcalismo (HIRATA; KERGOAT, 2007).
As lutas que envolveram o movimento feminista teve como intuito denunciar ao longo da história o privilégio dos homens e a negligência sobre as mulheres envolvendo inclusive o poder sobre os corpos das mesmas, a luta nesse movimento, envolve o reconhecimento de que as pessoas sejam tratadas não como iguais mas com diferenças distintas (NARVAZ; KOLLER, 2006).
Assim gênero não deve ser visto como sinonímia de mulher e nem como diferenciação sexual mas sim como uma construção social que influencia na relação entre os sexos e que também dar significados as relações de poder e não deve ser considerado como um conceito neutro pois está ligado a opressão e igualdade.
O movimento feminista que não busca apenas espaço para mulher no mercado de trabalho e mas também em outras esferas das quais eram restringidas (PINTO, 2010).
Através dos movimentos feministas tornou-se claro a existência de uma grande quantidade de mulheres que assumem trabalhos considerados invisíveis (HIRATA; KERGOAT, 2007) identificando que homens e mulheres possuem características distintas assim devem ser tratadas como indistinguíveis (NARVAZ; KOLLER, 2006).
No campo teórico-epistemológico encontramos várias fases do feminismo conhecidas como ondas do feminismo da qual ocorrem destaque para os estudos de gênero e as formas de opressão sobre as mulheres da qual sustenta práticas discriminatórias envolvendo a exclusão de grupos e que ocorrem em épocas distintas da história construídas de acordo com as necessidades políticas e social (NARVAZ; KOLLER, 2006).
O movimento feminista é composto por três grandes ondas da qual foi marcada por suas conquistas e interesses: a primeira onda feminista ocorreu no final do século XIX desenvolvida na Inglaterra, Estados Unidos e Brasil, as mulheres envolvidas conhecidas como sufragetes buscaram lutar pela igualdade de direitos entre homens e mulheres envolvendo direitos políticos (sufragismo) destacando em primeiro o voto, perdeu força em 1930 e só retornando em 1960 sendo marcado a nova onda com o livro O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, publicado em 1949 que estabelece uma frase marcante do feminismo: “não se nasce mulher, se torna mulher” (PINTO, 2010).
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