O CAMPO CIENTÍFICO DA SAÚDE COLETIVA: APONTAMENTOS PARA O DEBATE PARA A FORMAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU
Por: Monny Gonçalves • 8/4/2018 • Resenha • 949 Palavras (4 Páginas) • 340 Visualizações
O CAMPO CIENTÍFICO DA SAÚDE COLETIVA: APONTAMENTOS PARA O DEBATE PARA A FORMAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO-SENSU
Jaqueline Ferreira
Carlos Leonardo Figueiredo Cunha
Luiza Lena Bastos
O objetivo deste artigo é refletir sobre a formação de pós-graduação stricto sensu em Saúde Coletiva, resgatando-se aspectos históricos da sua construção como campo científico no Brasil. Também é relatada a experiência da disciplina “Saúde Coletiva” do curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, incorporando o conceito de interdisciplinaridade, requisitada para a formação dos pós-graduandos e os desafios e potencialidades da mesma. A experiência descrita corrobora a perspectiva defendida por diversos autores sobre a importância dos relatos de experiência de ensino para ampliar o conhecimento da complexidade e abrangência do mesmo.
Para início, tem-se um breve histórico sobre as diversas nuances da constituição do campo Saúde Coletiva no Brasil tendo como foco a formação do sanitarista. Segundo o artigo, qualquer campo científico é construído por debates, interesses, tensões e conflitos, na tentativa de se tronar um consenso. Nesse sentido, a ciência comporta certa subjetividade e até mesmo uma “irracionalidade” que acaba por ter um papel decisivo na imposição de determinadas teorias em detrimento das outras. Nesse contexto, a reflexão sobre a construção do campo da Saúde Coletiva no Brasil pode ser embasada por esse aporte teórico, tendo em vista as várias áreas de conhecimento que a compõem e se posicionam na defesa de diferentes paradigmas.
A Saúde Coletiva no Brasil, consolidou-se a partir da década de 1980 como um campo de saberes, práticas, movimento social e epistemológico, se distanciando da Saúde Pública institucionalizada. Pode-se dizer que a crise da saúde pública proporcionou a emergência desse campo. O termo “Saúde Coletiva” passou a ser utilizado no Brasil em 1979 quando buscou-se consolidar um campo científico com uma orientação teórica, metodológica e política que privilegiava o social como categoria analítica. Assim pode-se dizer que a Saúde Coletiva é compreendida por cinco grandes áreas disciplinares: Epidemiologia, Ciências Sociais e Humanas, Sistemas e Serviços de Saúde, Ambiente e Saúde e Políticas de Saúde.
Contudo, existem diferentes conceituações, o que denota a pluralidade do campo da Saúde Coletiva marcado por tensões epistemológicas, institucionais e relações de poder, carecendo de reflexões mais aprofundadas sobre a sua própria identidade. O que é consenso é que a Saúde Coletiva se constitui pela aquisição de disposições específicas exigidas pela prática e por meio da formação e socialização de cientistas caracterizando-a como um campo científico que produz conhecimentos e saberes multidisciplinares, politemáticos e de limites amplos acerca do objeto saúde. É neste contexto que a pós-graduação em Saúde Coletiva no Brasil se consolidou como um campo constituído histórica e socialmente por disciplinas que apresentam distintos limiares de epistemologização. Diante do cenário posto, a formação stricto sensu em Saúde Coletiva enfrenta desafios históricos. A formação do pós-graduando, ao mesmo tempo que deve manter as especificidades de sua linha de pesquisa, deve contemplar aspectos que possibilitem uma visão abrangente desse campo.
O ensino da Saúde Pública no Brasil data dos anos 1920. O objetivo das instituições que proporcionam esse ensino era, em suma, formar sanitaristas para atuação no combate de doenças infecciosas, nos problemas de higiene e no saneamento básico das cidades. Em vista disso, os cursos focavam conteúdos de Higiene, Química, Biologia, voltados principalmente para o diagnóstico e profilaxia de doenças transmissíveis. Outros cursos pioneiros surgiram na década de 1970, tentando contemplar um enfoque mais interdisciplinar e com uma formação sanitarista que superasse a perspectiva higienista clássica da Saúde Pública. Vale ressaltar que mesmo sob o regime ditatorial dos anos 70, as discussões sobre saúde e sociedade continuavam dimensionando a Saúde Coletiva enquanto um fato sociológico e político, objetivando a revisão crítica do modelo sanitário brasileiro.
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