Resenha – O doente, a família e o médico
Por: tanatopraxia • 23/3/2016 • Resenha • 507 Palavras (3 Páginas) • 388 Visualizações
Resenha – O doente, a família e o médico
ARIÈS, Philippe. História da morte no Ocidente. Tradução de Priscila Viana de Siqueira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
Por Marilana Aparecida Machado
Em O doente, a família e o médico, Ariès (2003) discorre sobre as transformações das atitudes da civilização ocidental sobre o processo de morrer que passou da exaltação da morte na época romântica do começo do século XIX, à não aceitação da morte atualmente.
Até a primeira metade do século XIX a morte continuava a ser afirmada como um fenômeno natural, os ritos familiares mediante ao moribundo em seu leito de morte permaneceram sendo realizados. Na proximidade de sua hora derradeira a despedida era um ato essencial da cerimônia da morte, o moribundo aproveitava para se despedir dos sobreviventes e receber a “Santa Unção” ou “Último sacramento”, cujo objetivo era o perdão dos pecados, sentimento de alívio espiritual e físico. Os sentimentos mais profundos eram manifestados pela última vez com mais ardor. A morte era a tomada de consciência do indivíduo. A morte não suprimia o sentimento familiar. As lágrimas, as lamentações não eram suficientes, acrescentava-se então uma nova dramatização e um novo sentimentalismo, era momento também no qual se manifestavam a afirmação das grandes afeições e dos grandes amores. Nesse período além do doente, da família e do padre entra em cena a figura do médico.
Entre a benevolência para com a morte na primeira metade do século XIX até seu interdito algumas mudanças podem ser observadas. Quando uma pessoa era acometida por uma grave moléstia não havia a preocupação com o diagnóstico nem por seu caráter científico. A doença em seu caráter científico não interessava ao doente nem a família, era objeto de especialistas.
Segundo Ariès (2003, p. 283) “o doente grave é subtraído de sua angústia existencial, é condicionado pela doença e pela Medicina, e habituar-se-á a não
mais pensar claramente como um indivíduo ameaçado, e sim como os médicos”.
Entretanto isso não é a única característica da medicalização da morte, o doente se vê diante da ruptura da ligação com aqueles que o cercam, é o começo também de um comportamento novo em relação ao moribundo, à ele se impõe a banalidade de sua capacidade para refletir, observar e decidir é tratado como criança. A morte não é um problema, mas sim o inconveniente da enfermidade.
No século XX, outras transformações se seguiram. A doença conquistou seu primeiro lugar, o médico começa a se tornar especializado em doença, pois anteriormente este era junto com o padre e a família, um mero assistente do moribundo.
E assim, o crescente poder do médico faz parte da morte moderna, o médico é ao mesmo tempo detentor da ciência e do poder, a morte é medicalizada, o doente grave não morre mais em casa em seu quarto, é internado em hospitais, à ele é negligenciado informações sobre o seu estado, o hospital tornou-se um templo no qual o indivíduo deve perecer na ignorância da própria morte, isolado e solitário.
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