A PREVALÊNCIA DE PERDA AUDITIVA EM INDIVÍDUOS FUMANTES
Por: Lucas Rocha de Camargo • 18/10/2016 • Artigo • 4.103 Palavras (17 Páginas) • 816 Visualizações
A Incidência de perda auditiva em um grupo de fumantes e não fumantes, alunos da Universidade Católica Dom Bosco
Andresa Neres do Nascimento de Camargo1, Leonardo Secco dos Santos 1, Rhayra de Lima Barbosa1, Maria Rosane Hentschke 2
1. Acadêmico(s) do curso de Fonoaudiologia da Universidade Católica Dom Bosco.
2. Fonoaudióloga Especialista em Audiologia Clínica - CEFAC/SP. Profª Titular da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB – Curso de Fonoaudiologia. Mestre em Psicologia da Saúde – Universidade Católica Dom Bosco - UCDB.
RESUMO
INTRODUÇÃO: O cigarro contribui como um fator de risco para várias doenças e ainda não se sabe ao certo sua contribuição para alterações auditivas. OBJETIVO: Analisar a relação entre tabagismo e alterações auditivas. MÉTODOS: Estudo transversal, quantitativo e descritivo. Foram avaliados os limiares auditivos de 20 adultos de ambos os sexos, na faixa etária de 18 a 40 anos, sendo 10 indivíduos fumantes e 10 não fumantes. Analisou-se os dados com relação a perda auditiva e a queixa de zumbido, plenitude auricular e tontura (sinais auditivos). Os indivíduos foram selecionados aleatoriamente entre os alunos da Universidade Católica Dom Bosco. Os mesmo foram convidados a participar da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A seguir foi aplicado um questionário e a realização dos exames audiométricos. RESULTADOS: Não foi identificada perda auditiva na média tritonal em OD (Orelha Direita) ou OE (Orelha Esquerda), entretanto, quando avaliadas as perdas auditivas em altas freqüências, 3,4,6,8 kHz, identificou-se uma pessoa em cada grupo (Fumante e não fumante) que apresentam limiares auditivos alterados. CONCLUSÕES: Não foi possível estabelecer uma comparação entre os grupos, pois estes apresentam a mesma média e desvio padrão, de modo a não ser possível indicar uma relação entre o hábito de fumar e a perda auditiva.
Palavras-chave: audiometria, limiar auditivo, perda auditiva de alta frequência, tabaco, tabagismo.
INTRODUÇÃO
O uso do cigarro está implicado em inúmeras doenças potencialmente fatais como câncer de cabeça e pescoço, câncer de pulmão, aterosclerose, doença coronariana e cardíaca, entre outras. Além disso, os malefícios decorrentes do uso do cigarro há muito tempo já são conhecidos. No Brasil, morrem cerca de 200 mil pessoas por ano, provavelmente por consequência dos efeitos tardios da expansão do consumo de tabaco1.
A toxidade do cigarro é diretamente proporcional ao número de cigarros fumado e inversamente proporcional à idade com que a pessoa se inicia no vício2.
Aproximadamente cem mil jovens começam a fumar a cada dia3. Fumar é um costume muito difundido nesta população, e os danos causados pelas substâncias que são inaladas têm sido cada vez mais estudados4.
Existem fortes evidências de que o tabagismo pode causar perda auditiva. Diversos autores relatam o efeito lesivo dos componentes da fumaça do cigarro sobre a cóclea e o aumento dos limiares auditivos em baixas frequências em tabagistas5-7.
O tabagismo é um sério problema de saúde pública, e responsável pelo déficit de oxigenação no sangue, alterações na viscosidade sanguínea e obstruções vasculares, podendo ter um efeito nocivo na audição8. Entretanto não se sabe ao certo o quanto há de interferência no sistema auditivo.
O processo de audição é extremamente complexo. A maioria das pessoas vê o ouvido só com o pavilhão auricular - o ouvido externo que podemos ver, mas, dentro de nossas cabeças há um conjunto complexo de estruturas minúsculas capazes de detectar o som e transferi-lo ao cérebro. Fazem parte desse conjunto, o tímpano, os três menores ossos do corpo humano e um órgão em forma de caracol chamado a cóclea.
Quando um som é produzido - a campainha toca - ativa uma perturbação no ar na forma de ondas sonoras. Essas ondas sonoras são captadas pelo ouvido externo, dirigido pelo canal auditivo onde vibra o tímpano, também chamada de membrana timpânica. Estas vibrações são passadas através de três pequenos ossos (martelo, bigorna e estribo) que, vibram movimentando a cóclea cheia de fluido e com milhões de células específicas para essa função. Estas vibrações são apanhadas pelas células e são transmitidas para o cérebro através de impulsos elétricos ao longo do nervo auditivo 9-10.
Os produtos químicos, componentes do cigarro podem afetar tanto o mecanismo condutor da audição (as vibrações do ouvido médio), bem como a parte do ouvido interno (as células ciliadas).
O revestimento arterial é danificado por aumentos anormais dos níveis de carboxi-hemoglobina sanguínea nos fumantes. Com a diminuição do suprimento sanguíneo de oxigênio, ocorre o aparecimento de microlesões na parede dos vasos, o que favorece a deposição de placas ateromatosas e o desenvolvimento de lesões maiores e elevadas. As lesões na parede arterial diminuem o diâmetro do vaso, reduzindo o fluxo sanguíneo para a área por ele irrigada 10. Além disso, a nicotina pode ter efeito ototóxico direto e causar isquemia coclear por aumentar a produção de carboxi-hemoglobina, favorecer o vasoespasmo, promover aterosclerose e aumentar da viscosidade sanguínea 11.
A interrupção do fluxo sanguíneo coclear e a consequente redução dos níveis de oxigênio são os principais mecanismos fisiopatológicos responsáveis pela perda auditiva em pacientes fumantes 12.
O monóxido de carbono também pode atuar diretamente no metabolismo coclear e causar alterações no potencial de ação gerado pelas fibras do nervo auditivo. Outro efeito relatado do monóxido de carbono sobre a orelha interna foi a exaustão metabólica da enzima succinato-desidrogenase, implicada no ciclo de Krebs das células da orelha interna, particularmente das células ciliadas externas, e a oxidação das estruturas nervosas por produção de radicais livres 13. Entretanto, a maioria dos autores estuda o aumento dos limiares apenas em frequências até 8 kHz. Perda auditiva relacionada ao tabagismo em frequências acima de 8 kHz é pouco estudada.
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