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Doping genetico

Por:   •  12/9/2015  •  Dissertação  •  1.377 Palavras (6 Páginas)  •  221 Visualizações

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ARÍSTOCLES DE OLIVEIRA REIS RA.1147946

DOPING GENÉTICO

TAGUATINGA
2015

Considerada ainda recente, a terapia gênica é uma área de investigação em biomedicina que vem apresentando muitos avanços nos últimos anos. Atualmente acredita-se que a terapia gênica represente uma possibilidade de tratamento efetivo para diversas doenças cujos tratamentos são pouco eficientes. O uso indevido dessa terapia é chamado de Doping Genético, que é a alteração genética dos atletas, caracterizado pelo uso não terapêutico de células, genes e elementos gênicos, com o objetivo de aumentar e melhorar a performance esportiva. Os principais genes candidatos ao doping são aqueles que possibilitam principalmente aumento na captação de oxigênio com resultante perda de peso, otimização do metabolismo energético e rápido ganho de massa muscular; dentre eles estão: a eritropoietina EPO, GH, IGF-1, bloqueadores da miostatina, VEGF, endorfinas e encefalinas, leptina e PPAR-δ. Uma vez inserido no genoma do atleta, o gene se manifestaria gerando um produto endógeno capaz de melhorar o desempenho atlético.

O doping genético não é fácil de ser detectado, o que o torna mais preocupante, pois não há testes eficazes que comprovem todas as modificações genéticas realizadas e considerando que a terapia gênica é usada somente em nível terapêutico, portanto, apenas comenta-se sobre os genes que são candidatos importantes ao uso indevido no meio esportivo.

Falando dos riscos que o doping genético por trazer, primeiramente é preciso entender e conhecer os riscos da terapia gênica. Uma das principais preocupações da terapia gênica é a utilização de vírus como vetor. Pois apesar dos rigorosos controles em todas as etapas de preparação dos vírus geneticamente modificados, existe o risco do vírus provocar respostas inflamatórias importantes no paciente, embora esse seja um dos assuntos sobre os quais mais se tem buscado soluções. A possibilidade do gene ser introduzido erroneamente em células germinativas, apesar de muito baixa, também deve ser considerada como um risco inerente ao procedimento.

Outro problema relacionado ao vetor viral é a capacidade de mutação e replicação que ele poderia ter, principalmente se houver falhas na sua preparação, o que pode ser comum em laboratórios alternativos ou clandestinos, que se disponham a realizar o doping genético. Existem também os riscos não relacionados ao vetor, mas aos efeitos do gene inserido, como o aumento da viscosidade sanguínea pela super-expressão de eritropoetina, há vários casos suspeitos de atletas mortos por problemas cardíacos. No caso do EPO(eritropoietina), ao elevar o nível de hemoglobina, a densidade do sangue aumenta e o risco de ataques cardíacos é elevado, ou o aumento da chance de ocorrer neoplasias pela super-expressão de fatores de crescimento. A falta do controle sobre a expressão do gene inserido pode de forma semelhante, representar um risco da terapia. Riscos específicos de cada gene são menos previsíveis do que os riscos gerais inerentes à técnica de transferência genética, especialmente se considerarmos que os testes clínicos serão realizados na maioria das vezes em pessoas doentes com deficiência no gene testado. Sendo assim, não seria possível saber antecipadamente como pessoas saudáveis, como é o caso dos atletas, responderiam ao mesmo tratamento.

Além do grande interesse pelo uso da terapia gênica como forma sofisticada e ainda dificilmente detectável de doping, atletas poderiam beneficiar-se das técnicas de transferência de genes como qualquer outra pessoa cujo quadro clínico imponha tal necessidade, as técnicas genéticas de reconstrução de tecidos lesionados poderiam ser largamente utilizadas no meio esportivo para o tratamento e reabilitação de lesões. A transferência de genes que codificam fatores de crescimento poderia facilitar e potencializar o tratamento de lesões que atualmente requerem cirurgias e longo período de reabilitação. Segundo a definição da WADA (agencia mundial antidoping), o uso não terapêutico de técnicas de transferência de genes que possam melhorar o desempenho esportivo é considerado doping e, portanto, proibido. Essa definição, apesar de clara, não inibe diversas possibilidades, como também não menciona as consequências do direito dos atletas de usar a terapia gênica. Podemos ter como exemplo, uma pessoa que sofra de alguma distrofia muscular ou anemia grave poderia se tornar atleta após o uso terapêutico da transferência de genes como IGF-1, folistatina ou eritropoetina? Ou um atleta que necessite de terapia gênica e que em decorrência do tratamento adquira alguma vantagem competitiva, poderia continuar competindo? Poderia pela definição, mas essa permissão esbarra nas questões éticas e morais que dão toda a base para a proibição do doping. Sem dúvida, o debate dessas e outras questões sobre a terapia gênica e o esporte precisa ser intensificado, sem que o direito de uso terapêutico por atletas que necessitem da terapia gênica seja prejudicado.

Em junho de 2001, durante o encontro mundial sobre terapia gênica e seu futuro impacto no esporte, foi a primeira vez que o COI(comitê olímpico), levantou a possibilidade de manipulação da genética em atletas de auto rendimento. Dois anos depois, a WADA incluiu o doping genético na lista dos procedimentos proibidos nos esportes olímpicos. Hoje a preocupação das autoridades do COI e da WADA é de encontrar formas de fiscalização e controle. Uma novidade importante no controle do doping, é o novo Código Mundial Antidopagem que será aplicado nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Dentre as novas medidas, o novo regulamento prevê o aumento da suspensão em caso de doping intencional de dois para quatro anos.

Concluindo, a terapia gênica é uma técnica terapêutica muito promissora na medicina. Isso nos remete o enorme potencial para o seu uso indevido no meio esportivo por atletas que ignoram os riscos para ganhar vantagem competitiva. Diversos genes tem a capacidade de promover ganhos substanciais no desempenho atlético, o que pode ser decisivo em muitas modalidades. Apesar de muitos avanços da tecnologia em relação ao controle e detecção do doping genético, é muito importante que políticas de educação, que visem demonstrar, para atletas e treinadores dentre outros, os riscos que a terapia gênica tem em relação a saúde, já que futuramente acreditamos que tais manipulações genéticas farão parte do cotidiano do mundo esportivo.

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