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EDUCAÇÃO FÍSICA EM CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

Por:   •  30/1/2017  •  Resenha  •  1.585 Palavras (7 Páginas)  •  463 Visualizações

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RESENHA

EDUCAÇÃO FÍSICA EM CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

Cíntia Menezes Guimarães1

A disciplina de Praticas Corporais de Saúde Mental do curso de Graduação em Educação Física nos possibilita compreender o que é saúde mental em seus diversos campos, refletir sobre o espaço que a saúde mental ocupa atualmente em nossa sociedade e principalmente qual é o papel do educador físico nesse processo ainda em construção. Nessa perspectiva sinto-me provocada a buscar respostas de como o professor de Educação Física está inserido no campo de saúde mental.

O presente texto Educação Física em centros de atenção psicossocial, de Felipe Wachs e Alex Fraga, é um artigo produzido de um projeto maior de Dissertação, que propõe analisar o que o profissional de Educação Física faz nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) tipo 2 e o sentido que é atribuído sobre a presença de professores dessa área no serviço de saúde mental.

O texto inicia com a conceituação histórica do processo de desenvolvimento da saúde mental, onde a Reforma Psiquiátrica, em implementação no Brasil, propõe a substituição do modelo manicomial de assistência por uma rede integral de cuidado às pessoas em sofrimento psíquico e que essa mudança ganha corpo no Sistema Único de Saúde (SUS) com a criação de uma série de serviços que operam em prol da cidadania, dos direitos sociais e da (re) inserção dos usuários na comunidade. Algumas estratégias da Reforma Psiquiátrica são: os Serviços Residenciais Terapêuticos, o Programa de Volta para Casa, a promoção de saúde mental na atenção básica e a capacitação de profissionais que atuam em tal nível de assistência, a implementação de leitos psiquiátricos em hospitais gerais, a criação de oficinas de geração de renda e de oficinas terapêuticas e a criação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

A presença do profissional de Educação Física nos serviços de atenção a saúde mental ainda é pouco, sendo assim, o objetivo do texto foi investigar através da pesquisa, o que se faz em nome da Educação Física nos CAPS, bem como os sentidos que lá circulam sobre a presença de professores de Educação Física e sobre as práticas por eles desenvolvidas. A pesquisa abrangeu a 1ª Coordenadoria Regional de Saúde do estado do Rio Grande do Sul, que é formada por Porto Alegre e mais 23 municípios. Junto à Secretaria Estadual de Saúde foram obtidas informações sobre os CAPS cadastrados na região delimitada. Na época, eram quatro CAPSI (infância e adolescência), três CAPSAD (álcool e outras drogas), dois CAPS do tipo 1 e seis CAPS do tipo 2.

A pesquisa foi delimitada aos CAPS do tipo 2 que tinham professores de Educação Física em sua equipe de trabalhadores, sendo três principais: CAPS A, CAPS B e CAPS C.

A proposta acordada com a coordenação, com os trabalhadores e com os usuários dos serviços foi a de acompanhar as atividades sob responsabilidade dos professores de Educação Física. No CAPS A foram acompanhadas as atividades da “Oficina de Expressão Corporal”, da “Oficina Reconhecer a Rede” e da “Oficina de Dramatização”, totalizando 32 observações. No CAPS B foram acompanhadas as atividades de caminhada, a “Oficina de Tênis”, a “Oficina de Voleibol” e uma atividade chamada Personal Trainning, totalizando 21 encontros. No CAPS C foi acompanhada a “Oficina de Futebol” durante sete encontros. As 60 observações foram registradas em diários de campo que subsidiaram a discussão. Outra estratégia adotada no processo de investigação foi à análise de documentos, entre eles: projetos terapêuticos dos CAPS acompanhados, legislação pertinente à saúde mental, relatórios das Conferências Nacionais de Saúde Mental e textos acadêmicos.

As atividades promovidas pelos professores dos três CAPS acompanhados muitas vezes excediam práticas comumente associadas à Educação Física. No próprio CAPS A, o professor coordenava uma oficina chamada “Reconhecer a Rede” que funcionava como uma oficina pré-alta e tinha por objetivo buscar com o usuário articulações com a rede social da comunidade na qual estava inserido. A oficina acontecia em uma sala, em torno de uma mesa e não utilizava práticas corporais sistematizadas como eixo organizador. No CAPS B, o professor participava da coordenação de uma oficina de geração de renda para confecção de velas; e no CAPS C, o professor participava da coordenação de uma oficina de pintura. Ambas as oficinas não estabelecem uma ligação imediata com a Educação Física, ligação essa apresentada no texto de Educação Física como disciplina escolar. Entretanto, o professor de Educação Física não deixa de ser professor de Educação Física quando realiza tais atividades, mesmo que elas não estejam diretamente associadas às práticas da Educação Física. O professor de Educação Física não está no serviço para realizar apenas atividades de esportes, ginástica, dança ou outra prática corporal imediatamente associada a sua especificidade. Está no serviço para compor uma equipe de saúde mental e dar conta das especificidades do cuidar em Centros de Atenção Psicossocial. A função do CAPS é cuidar dos portadores de sofrimento psíquico e a Educação Física, precisa se incorporar a esse projeto terapêutico.

O CAPS é implementado como uma estratégia de política pública que difunde a Reforma Psiquiátrica como orientação. Uma de suas funções é atender aqueles que estão em intenso sofrimento psíquico, o que demanda ações terapêuticas. Ao mesmo tempo, o CAPS tem suas atividades voltadas para o “fora”, para reinserção social de seus usuários. Muitas das atividades que eram promovidas no CAPS B pelo professor ou pelo estagiário de Educação Física eram realizadas em ambientes externos ao CAPS, e, algumas vezes, fora do complexo hospitalar ao qual ele estava vinculado. Investir em espaços fora do CAPS para prática de atividades agia como dispositivo de incentivo para circulação social dos usuários ao mesmo tempo em que convocava a sociedade a acolher o sofrimento psíquico, a conviver com a diferença. A realização das oficinas (de futebol, tênis e outras) fora do CAPS parece deslocar o sentido das atividades de “combater a doença/sofrimento” para “viver saúde”.

A reflexão sobre “dentro” e “fora” torna-se muito produtiva quando traçamos um paralelo com a discussão entre um modelo de cuidado manicomial, em que a reclusão dentro de um hospital psiquiátrico é uma prerrogativa, e um modelo psicossocial que busca o convívio social com a diferença para além da instituição terapêutica (fora). Retoma-se então a ideia de que saúde, doença, loucura, são elaboradas socialmente e que é preciso intervir não apenas sobre os usuários, mas também sobre a sociedade em geral para que se possibilite a desconstrução do estigma louco, a desinstitucionalização. Nas atividades acompanhadas, o movimento que a educação física promoveu entre o dentro e o fora da instituição se apresentou de forma muito significativa para os usuários, mas também para as próprias concepções acerca das práticas a serem desenvolvidas nos Caps. A Educação Física cobra o trânsito, a circulação, o movimento e isso se mostrou uma de suas principais contribuições em serviços que procuram desmontar o cuidado manicomial e sua proposta imobilizante de reclusão.

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