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Homossexuais que pairam sobre os anos 70 e 80

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Por:   •  29/5/2014  •  Tese  •  1.798 Palavras (8 Páginas)  •  371 Visualizações

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A luta dos movimentos homossexuais na década de 70 e 80 encontrou uma grande dificuldade política para acontecer. A busca por políticas públicas a favor da cidadania LGBTT tinha como principal obstáculo um sistema militar e ditatorial de governo que impedia qualquer ato democrático. Ainda assim, os militantes não descansaram e encontraram caminhos alternativos para continuar reivindicando direitos.

Dentre as alternativas estava o jornal Lampião da Esquina, que iniciou suas atividades em 1978, discutindo a homossexualidade de maneira política e social. O editorial do primeiro número do jornal era bem explícito: “Saindo do Gueto”, revelando como a orientação homossexual estava socialmente marginalizada. Seu conselho editorial contava com jornalistas, intelectuais e escritores de grande expressão, na época, e que também possuíam uma trajetória de militância, como Darcy Penteado, Agnaldo Silva, Francisco Bittencourt, Jean Claude Bernardet, João Antônio Mascarenhas, João Silvério Trevisan e Peter Fry. Voltado para os homossexuais, suas matérias buscavam trazer a eles o reconhecimento e a afirmação de suas identidades, de maneira libertária (FERREIRA, 2010; SIMÕES, 2009, p. 217, grifo do autor).

O alcance do jornal era tão expressivo, que mesmo com a localização de sua redação nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, uma de suas editorias fixas, a “Cartas na Mesa”, trazia opiniões de leitores dos mais diversos lugares do país. O Lampião estava sendo lido tanto em grandes centros, como Rio, São Paulo, Recife, Porto Alegre e Salvador, quanto em Coronel Fabriciano (MG), Ceará Mirim (RN), Manaus (AM) e Campina Grande (PB) (FERREIRA, 2010).

No mesmo ano, o grupo SOMOS, na cidade de São Paulo, se destacou como uma outra frente de luta em que quinze homens que realizavam encontros a cada semana buscavam compartilhar e dividir experiências – como era comum nos grupos feministas. Neste primeiro momento dos movimentos sociais, tanto o Lampião da Esquina, quanto o SOMOS, utilizavam as palavras bicha ou guei para nomear os homossexuais masculinos, uma vez que o termo gay, vindo do inglês, remetia aos moldes norte-americanos e não tinha a característica brasileira de luta (FACCHINI, 2003; SIMÕES, 2009).

Diferentemente do Lampião, o SOMOS discutia a homossexualidade a partir dos fatos vivenciados pelos próprios membros e possuía vínculos com partidos de esquerda . Com o seu crescimento nos anos subsequentes, as reuniões começaram a ser divididas em grupos menores, de acordo com o tipo de relato que era dado por cada membro. Dessa maneira, disputas internas eram criadas e assuntos polêmicos como a “natureza da homossexualidade, o significado da bissexualidade, a conduta das travestis” e das lésbicas, não possuíam consenso (SIMÕES, 2009, p. 234).

Com o passar dos anos e após vários problemas internos e financeiros, em 1983, depois de ter criado uma sede na região central de São Paulo, o grupo SOMOS se dissolveu. Igualmente, o jornal Lampião da Esquina não conseguiu manter-se, encerrando suas atividades em 1981 (ROZARIO, 2011; SIMÕES, 2009).

Nos anos 80, os movimentos homossexuais tiveram oscilações e muitos grupos se desfizeram. O aumento no número de pessoas contaminadas com o vírus HIV , problemas econômicos que o país enfrentava e o pensamento errôneo de que a redemocratização do país, em 1988, facilitaria a conquista de direitos, podem ter sido responsáveis por esse decréscimo (FACCHINI, 2003; ROZARIO, 2009).

A década de 90, principalmente a partir de 1992, deu novo ânimo à luta dos movimentos. Nos encontros nacionais, o número de grupos aumentou consideravelmente em relação à década anterior. O crescimento da presença de grupos lésbicos também foi uma novidade. Neste período, a despatologização da homossexualidade, o olhar midiático positivo em relação à homossexualidade e a inserção do conteúdo de educação sexual nos currículos escolares eram algumas das maiores preocupações dos militantes (FACHINNI, 2003).

Ainda nesta década, associações e organizações não governamentais começaram a surgir. Dentre elas, destaca-se a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), criada em 1995. Essa, segundo seu estatuto, tem a missão de garantir a cidadania e os direitos da população LGBTT por meio de variadas ações – como o combate à homofobia dentro das escolas e a capacitação em projetos culturais LGBTT. Na segunda metade da década de 90, investimentos públicos foram destinados ao combate da AIDS, nos encontros de gays, lésbicas e travestis (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS – ABGLT, 2013; FACCHINI; FRANÇA, 2009).

Os anos 2000 chegaram com maior abertura política no campo da diversidade sexual. Programas governamentais e políticas públicas – como será explicitado posteriormente – começaram a ser direcionados aos sujeitos LGBTT, e as discussões entre população civil, movimentos sociais e esfera pública foram ampliadas (FACCHINI; FRANÇA, 2009).

Dentre as manifestações LGBTT, as Paradas do Orgulho LGBTT, ou Paradas Gays como são popularmente conhecidas, merecem destaque. Em comemoração ao dia do orgulho LGBTT, ou mesmo acompanhando os calendários anuais dos municípios, as paradas reúnem milhares de pessoas em inúmeras cidades do país, mobilizando a sociedade em torno da liberdade de gênero e de orientação sexual (CARRARA et al., 2006).

As paradas são grandes festas públicas que reúnem milhares de pessoas, com trios elétricos, música e descontração, unindo pessoas hetero, homo, bissexuais, transgêneras e travestis. Em 2013, foram realizadas aproximadamente 130 paradas em 23 estados brasileiros e no Distrito Federal . Ainda que possuam esse marcador da festividade, nos últimos anos o foco tem se redirecionado para a importância política dessa manifestação (CARRARA et al., 2006).

Visando à possibilidade de manter sempre viva na sociedade as bandeiras de luta LGBTT, as paradas chamam atenção para as necessidades desta população, mostrando seu caráter político e imprimindo marcas na sociedade heteronormativa. De acordo com Silva (2011, p. 129):

“Entender como memória e consciência política podem ser elementos de potencialização da ação política de sujeitos a partir de ações coletivas, como as Paradas do orgulho LGBT. (...) Tais ações coletivas são produzidas na disputa com outros atores sociais e visam pressionar o Estado no que tange à formulação, implementação e avaliação de políticas públicas de inclusão social voltadas para grupos minoritários”.

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