Psicologia
Dissertações: Psicologia. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 2/3/2015 • 1.844 Palavras (8 Páginas) • 301 Visualizações
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O Subjetivo e as Técnicas Projetivas
Em 1939, Frank lança o termo “método projetivo”, para designar o estudo da personalidade baseando-se no teste de associação de palavras de Jung (1904), testes de manchas de tinta de Rorschach em 1920 e T.A.T. (Teste de Apercepção Temática) de Murray em 1935. Frank aborda nesses testes uma dinâmica holística da personalidade, uma estrutura evolutiva onde os elementos se interagem e a pessoa expressa em uma atividade construtiva e interpretativa a fantasia interior. Na medida em que os estímulos pouco ou nada estruturados são apresentados diante do sujeito sua resposta é sempre projetiva, reveladora de sua maneira particular de ver a situação, de sentir e interpretar. Tais estímulos provocam projeções em condições ótimas, economizando tempo e esforço, que situações menos ambíguas e indefinidas. (Van Kolck, 1975; Anzieu, 1981; Alves, 1998)
De acordo com Lopes (1998), as mudanças que acontecem só serão evidentes quando as técnicas tradicionais permitem centrar no sujeito, enfatizando o contexto global no qual ocorre o comportamento. Desta forma, é possível detectar informações projetivas tanto quando se tratar de fatores sócio-culturais quanto de fatores de variáveis internas, somente assim, entender-se-á a constituição das características psicológicas como um processo histórico-cultural. O método projetivo não se propõe apenas em se deter em medidas dos traços ou a quantificação, mas em compreender o sujeito - o que faz e não faz, a forma como faz, quando e por quê.
Surge assim, com os testes projetivos uma valorização do simbólico, concedendo ao indivíduo à realidade imediata um caráter de ausência, mas integrando esta realidade dentro do indivíduo. Freud foi um dos primeiros a trabalhar com essa elaboração simbólica através da associação livre, em 1895, e da interpretação dos sonhos, em 1899, formando assim um sistema interpretativo (uma análise mediante a interpretação do simbolismo das condutas do paciente), destacando que o que se encontra no indivíduo não se encontra por acaso, pois ‘tudo’ teria um significado, “o que poderia parecer tão insignificante, apresentado no contexto vivido, estaria coberto de significados e poderia trazer a chave para a interpretação desse contexto.” (Augras, 1998).
Jung (1986) surge contrapondo o pensamento freudiano interpretativo, em Símbolos da Transformação, deixa de lado a concepção do simbolismo individual e analisa o simbolismo coletivo, levando os temas míticos a uma tentativa de interpretação dos significados projetivos ocorrido nos indivíduos, destacando que o equilíbrio psíquico, nas projeções, deve-se ao fato de fazer com que todo indivíduo se encontre com seu Eu Obscuro (a sua sombra). Segundo Von Franz (1977) a força do inconsciente não se manifesta apenas no material clínico, mas, no mitológico, no religioso, no artístico e em diversas atividades culturais expressadas pelo homem. Rank, em 1909, representa a transição entre Freud e Jung, defende um sistema de interpretação mais completo, mito e sonho refletem em linguagem semelhante os acontecimentos que marcam o homem e a humanidade em sua vida (Jung, 1986; Roazen, 1974; Fadiman, 1986; Augras, 1998).
Logo após a primeira Grande Guerra, surgem os culturalistas que ligam os conceitos da psicanálise com a cultura e destacam duas vertentes: a primeira geração, explicava os fenômenos coletivos através dos modelos da psicologia individual e de esquemas psicanalíticos tradicionais. Encontra-se nesta, psicanalistas como Roheim que, em 1926, escreve sobre o Totemismo Australiano e a Interpretação Psicanalítica da Cultura que seguindo a concepção freudiana de Totem e Tabu, tentava “interpretar as práticas mágicas em termos de complexo de Édipo” (p.97), baseando a explicação de cultura no simbolismo mágico, isto é, o feiticeiro seria uma espécie de força sagrada e profana, de duplo sentido. Intensionava explicar que entre os povos havia diferenças, diz Roheim:
“os povos liquidam os seus complexos por mecanismos de defesa comparáveis, justificando a unidade da libido e a variedade das civilizações. As culturas são diversas, mas o sistema simbólico é mesmo” (Augras, 1998, p. 102).
Reik, em 1931, com os Estudos Psicanalíticos dos Rituais, considerando que os diversos rituais seriam a superação do apego libidinal que fixa a mulher ao pai, mas, contribuiu muito mais a respeito da interpretação da origem da música como uma reconstituição da voz do pai através do grito do animal totêmico, assim, música e instrumentos corresponderiam aos diversos animais totêmicos; Pfister, em 1923, com Algumas Aplicações da Psicanálise, segue a orientação de Roheim, interessando-se pela classificação da cultura entre as diferenças das religiões em introversão e extratensão, concepção esta, influenciada pela tipologia de Jung. Lasswell recorre ao modelo individual para explicação do fenômeno social, diferenciando-se dos primeiros, por estudar o comportamento social e das instituições etc., na tentativa de realizar uma psicanálise dos homens políticos. Assim, dá mais atenção aos mecanismos de defesa do ego, pois o exibicionismo, narcisismo, sentimento de culpa etc, origina-se da participação política do indivíduo, esta exprimiria, em maior ou menor grau, de acordo com o interesse político do indivíduo.
A segunda geração utilizava os conceitos psicanalíticos manipulados aos materiais que se conseguia do ambiente estudado, ligando-os a Antropologia e Etnologia. (Fine, 1981; Jones, 1989; Augras, 1998). Sabe-se que Freud tinha interesse pela Antropologia e a Psicologia social, prova é que seus discípulos utilizaram os mitos como justificativas para as teorias psicanalíticas. No campo da Antropologia, vários são teóricos que se inspiraram na psicanálise para fundamentar seus estudos, destacando-se B. Malinowski, R. Benedict e A. Kardiner. Esses estudaram os costumes indígenas, respectivamente, preocuparam-se com as seguintes questões: buscava-se verificar o complexo de Édipo como universal, mas critica o sistema freudiano e defende que este complexo só era válido para a sociedade de Viena, no período antes da guerra de 1914-1918. (Augras, 1998; Kardiner, 1964)
Diante das mudanças ocorridas durante o século XIX, a física favoreceu uma nova compreensão da realidade, tornando-a dialética, em uma causalidade em rede. Constituindo-se uma revolução mais significativa da mutação da ciência, impossibilitando uma explicação do mundo infinitamente pequeno através do método cartesiano. As observações do mundo subatômico mostraram os diferentes comportamentos do que era comum para o ser humano. Os estudiosos da Teoria do caos (Ruele, 1993; Gleik, 1994; Lewin, 1994) defendem uma ordem implícita na desorganização, tornando-a uma questão de construção, na busca de uma ciência com “rosto humano” comprometido com uma concepção mais holística, isto é, uma prática com uma espécie de diálogo com a natureza e os seres humanos. Assim, valoriza-se a interpretação dos fatos contaminando a Psicologia profundamente, principalmente com a evolução da Gestalt na década de 20, afirmando um pensamento sistêmico - “o todo é maior do que a soma das partes” - liderado por Koffka (1922), Köhler e Wertheimer (Ismael et al, 1996). Bohr (1995; citado em Hubbard, 1990) e seu modelo sobre os níveis atômicos - os orbitais, destaca a inclusão do indivíduo na observação das experiências virando ao avesso a concepção da realidade, apresentando o Princípio da Complementaridade, mais tarde, Heisenberg (1995) com o Princípio da Incerteza, torna mais complexo a idéia sobre o átomo, que por sua vez, torna mais complexa a realidade física, destacando que o observável poderia ser modificado. Entre 1924/27 nasce a mecânica quântica e a dualidade indeterminística é retomada , a realidade passa ter duas formas de manifestações - onda ou partícula - dependeria da interpretação do observador, estas nunca ocorreriam sempre da mesma forma, isto é, passaria a existir não mais uma única verdade, mas muitas verdades, uma espécie de relatividade, desaparecendo a previsibilidade. (Von Franz, 1977; Anzieu, 1981; Hazen e Trefil, 1995; Pellanda, 1996; Capra, 1997; Prigogine e Stengers, 1997)
Assim, segundo Silveira (1997) o estrito determinismo não dá lugar a qualquer forma de conhecimento, pois só na presença do acaso e da espontaneidade confere-se as condições necessárias para que estas formas (as diversas projeções) tenham lugar. Independente do grau de avanço e de precisão do conhecimento de seu objeto, principalmente quando este objeto é o universo - universo psíquico - em sua dimensão metafísica, a representação que se obtém será sempre de caráter conjectural e sua adequação ao objeto será sempre aproximada. A razão última desta conclusão se encontraria no fato de não só o conhecimento, mas o próprio objeto, serem essencialmente atravessados pela espontaneidade do acaso e estarem em constante e genuína evolução.
A dialética que se instala entre o agir e o conhecer sobre o real, entre este objeto e o universo psíquico, modifica-o, favorecendo uma nova construção do conhecimento incluindo uma realidade psíquica mais complexa, criando um outro campo de interação que precisa ser levado em conta. Assim, Pellanda (1996, citado Odgen, 1994) discutindo esta dialética, subjetividade/intersubjetividade, na identificação projetiva afirma que cria-se um terceiro subjugador, incluído na relação analítica e modificando-a. Desta forma, segundo o modelo de integração, reforçado pela nova biologia, concebe-se que as informações transmitidas na comunicação resultam de uma construção do processo entre os indivíduos, destacando em psicanálise como a relação bipessoal analítica. (Maturana e Varela, 1984 apud Pellanda, 1996). Para Kastrup (1995), inspirado na concepção de Organização Autopoiética, são as relações e não as propriedades dos componentes que definem a organização de um sistema vivo, podendo assim, explicá-lo como organização.
Conclusão
As técnicas projetivas não se tratam de um continuum ontológico ou fenomenológico, isto é, uma espécie de oposição ao signo; escrito “nome de alguém” e a “foto da pessoa do próprio nome, pelo contrário, pois não se escolhe um signo; ele é sempre motivado de forma intrínseca, a imaginação é uma espécie de dinâmica organizadora e homogeneizada na representação (Durand, 1997). Isto é:
“A imaginação é potência dinâmica que deforma as cópias pragmáticas fornecidas pela percepção, e esse dinamismo reformador das sensações torna-se o fundamento de toda a vida psíquica porque as leis da representação são homogêneas, metáforas, assim, uma vez que ao nível da representação tudo é metafórico toda as metáforas se equivalem.” (p. 30)
Assim, a sensibilidade é como um medium entre o mundo dos objetos e dos sonhos utilizando uma física qualitativa do tipo aristotélico, destaca-se então, a bivalência do elemento simbólico na motivação simbólica, convidando a adaptação ou recusa motivando concentrar-se assimiladoramente sobre si mesmo. Mas, vale destacar, que esse campo subjetivo que adentrou a Psicologia e suas técnicas diagnósticas quebrando a explicação linear e demasiada racional da Psicologia Clássica ou Fenomenológica. (Durand, 1997)
De forma generalizada a projeção são tendências inconscientes - de uma pessoa - que são atribuídas - a outras pessoas ou coisas - após uma transformação, geralmente no oposto. As técnicas projetivas implicam em uma solicitação ao sujeito para que libere sua criatividade, sob as condições impostas pelo “teste”, podendo, através destes testes, projetar “o mal objeto”5, obtendo controle sobre a fonte de perigo revelada ficando livre, para atacar ou destruí-lo, como também, evitar a separação do bom objeto, reparando-o. (Fine, 1981)
Desta maneira, as técnicas projetivas utilizadas pelos psicólogos, ou por alguns, ajudariam a captar esse mundo simbólico que, a maioria das vezes é difícil de ser expresso pelo indivíduo em sua linguagem verbal. Assim, podendo ser lido quando na sua projeção excitada pela técnica associativa, facilita o psicólogo a compreensão do problema e sua solução. Vale destacar na história da arte, que muitos dos artistas através de seus quadros expressaram, ou melhor revelaram - “falaram” - muito do “seu mundo psíquico e da sua realidade humana” (Ostrower, 1998, 26), analogamente as técnicas projetivas favorecem ao indivíduo revelar seu mundo e a sua realidade pessoal.
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