ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E SINTOMAS DE ASMA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Por: Jaqueline Fonseca • 14/10/2018 • Trabalho acadêmico • 1.540 Palavras (7 Páginas) • 239 Visualizações
ASSOCIAÇÃO ENTRE OBESIDADE E SINTOMAS DE ASMA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA.
Jaqueline Silva Fonseca¹, Maria Clara Andrade Vaz¹, Karine Brito Beck da Silva¹, Aline dos Santos Rocha¹, Rita de Cássia Ribeiro Silva¹
¹Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia (ENUFBA)
jaquefonseca13@gmail.com
INTRODUÇÃO
A asma é uma doença crônica e potencialmente grave, caracterizada pela inflamação das vias aéreas. Clinicamente é diagnosticada através dos seguintes sintomas: chiado, falta de ar, aperto no peito e tosse, variando ao longo dos anos e na sua intensidade. Estes sintomas podem ser agravados por outras variáveis como exercício, mudança climática, exposição a agentes alergênicos ou infecções virais respiratórias (Global Initiative for Asthma – GINA, 2015). A prevalência de asma sofreu um grande aumento ao longo dos anos, segundo a Organização Mundial de Saúde – OMS (2001) estima-se que no ano de 2001, 20,3 milhões de pessoas foram diagnosticadas com asma, onde 6,3 milhões eram crianças com idade inferior a 18 anos.
Existem diversos fatores de risco para o desenvolvimento da asma, como atopia familiar, exposição ao fumo (fumante passivo e tabagismo na gestação), ausência de aleitamento materno exclusivo nos primeiros quatro meses de vida, hábitos alimentares, excesso de peso corporal, animais dentro de casa, ambiente interno (agentes alergênicos, como a poeira) e ambientes externos (urbanização) (JUCÁ et al., 2012). Em países desenvolvidos, o aumento da asma ao longo dos anos coincidiu com o aumento da obesidade, medida pelo índice de massa corporal – IMC, principalmente em crianças e adolescentes do sexo feminino. Levantando-se a hipótese de uma possível associação entre as doenças (SILVA et al., 2013).
Diante do exposto o objetivo do presente estudo foi analisar a associação entre obesidade e sintomas de asma em crianças e adolescentes, a partir de artigos encontrados em bases de dados indexadas, com o propósito de observar se existe correlação entre as doenças.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão sistemática baseada em buscas no PubMed, as quais foram realizadas até o dia 29 de julho de 2015. Foram selecionados artigos dos seguintes modelos de estudos: estudos transversal, estudo caso-controle e estudo longitudinal. Os descritores utilizados foram: asthma, wheezing e obesity, sendo os mesmos, presentes no título e/ou resumo do artigo, com isso 1.862 artigos foram encontrados. Após a utilização dos seguintes filtros: free full text; published in the last 10 years; species humans; ages: adolescents (13-18 years) e child (6-12 years); languages: english e portuguese; foram encontrados 215 artigos. Destes, foram escolhidos 26 artigos para análise, assim 189 foram excluídos, pois estes não possuíam intervalo de idade condizente com a idade pesquisada (6-19 anos), concordância com o tema pesquisado e serem de modelos de estudo não desejados. Ao final da pesquisa, totalizaram – se sete estudos para inclusão nesta síntese quantitativa. Os demais foram excluídos devido aos seguintes fatores: cálculo de amostra ocultado e respaldo estatístico não significativo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta revisão sistemática utilizou sete artigos encontrados na base de dados indexada, PubMed, que correlacionam obesidade com sintomas de asma em crianças e adolescentes. Após análise dos dados estatísticos, todos os artigos denotaram associação positiva e significantes entre o IMC e pelo menos um sintoma de asma.
Uma das variáveis utilizada foi o IMC, para análise do sobrepeso/obesidade como variável independente. Os estudos utilizaram os parâmetros Centro de Controles e Prevenção de doenças, OMS e Lambda Mu Sigma method of Cole et al., para estratificação e interpretação do IMC, medidos pela razão entre peso e altura ao quadrado. Para avaliação de sintomas de asma como variável resposta foram utilizados os parâmetros ISAAC, International Classification of Diseases, Ninth Revision – ICD-9 e American Thoracic Society-Division of Lung Diseases Epidemiology Questionnaire. Alguns autores ajustaram suas análises por possíveis fatores de confusão.
Alguns autores acreditam que, como o tecido adiposo é órgão multifatorial e sendo também inflamatório, exista uma relação entre os seus mecanismos de inflamação e a asma, doença também inflamatória. Contudo está relação não é totalmente conhecida (SOOD, 2011; GUIMARÃES et al., 2007). Além disso, indivíduos obesos são mais propensos a gastarem mais tempo dentro de suas casas, ocasionando assim um maior risco para asma. Devido ao ambiente interno possuir mais agentes alergênicos, como poeira, mofo, ácaros e pelos de animais (CAMARGO et al., 1999).
No presente estudo, as análises estatísticas utilizaram em geral a razão de chance para a associação entre as variáveis. O intervalo correlacionando o aumento da massa corporal com prevalência de pelo menos um sintoma de asma foi de 1,11 a 3,30, representando então 1,11 vezes mais chance de ter asma, como dado mínimo (NAHHAS et al., 2014) e 3,30 vezes mais chance de ter asma, como dado máximo (PORTER et al., 2012). Entretanto, estudo de Cassol et al. (2005) analisou o indivíduo ser asmático em relação ao IMC, assim apresentaram OR= 0,83 e OR= 0,74 para dois sintomas de asma ("sibilos alguma vez" e "sibilos após exercício”), indicando que não ter obesidade é um fator de proteção em 17% e 26%, respectivamente.
Dos sete estudos inclusos, cinco artigos foram estratificados por sexo (CASSOL et al., 2005; PORTER et al., 2012; WILLEBOORDSE et al., 2013; NAHHAS et al., 2014; BORRELL et al., 2012) e dois não (BLACK et al., 2012; NOAL et al., 2012). Muitos dados da literatura julgam que a divisão é essencial para maior poder de análise do estudo. Um fator para esta estratificação por sexo e obesidade é devido às concentrações dos hormônios leptina e estrógeno (WILLEBOORDSE et al., 2013; NAHHAS et al., 2014). A leptina no sexo feminino é mais elevada em 40% a 200% em relação ao sexo oposto, além disso, as concentrações circulantes de leptina no plasma em relação ao IMC é três vezes maior no sexo feminino (SOOD, 2011). O estrógeno no tecido adiposo ocasiona normalmente uma precoce menarca em meninas, indicando assim um adiantamento da puberdade, o que não ocorre nos meninos. Desta forma, esta menarca adiantada se correlaciona com um maior risco no desenvolvimento da asma em associação ao maior IMC (SALAM; WENTEM; GILLILAND, 2006; GUERRA et al., 2004).
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