A Infecção por D. Immitis em Felino
Por: Carolina Barreto • 27/4/2022 • Artigo • 1.442 Palavras (6 Páginas) • 115 Visualizações
Infecção incomum por Dirofilaria immitis em felino: relato de caso
Gatos são menos susceptíveis à infecção por Dirofilaria immitis do que cães. Apesar de rara, a doença nos gatos pode ser fatal mesmo com baixas cargas parasitárias. Muitas vezes, a doença é assintomática ou apresenta sintomas inespecíficos, principalmente associados com a morte de formas parasitárias imaturas. Microfilaremia é rara e transitória. Normalmente, quando ocorre microfilaremia, ela permanece por, no máximo, 33 dias. Este estudo descreve o caso de um felino que apresentava sinais inespecíficos e microfilaremia prolongada: um gato sem raça definida, portador de infecção pelo vírus da leucemia felina (FeLV) que foi diagnosticado como microfilaremico ao acaso. A infecção foi detectada pela presença de microfilárias em esfregaço sanguíneo e, posteriormente, confirmada pelo teste de antígenos (SNAP Feline Triple Test, Idexx®) e por ecocardiograma.
Introdução
Os gatos são menos suscetíveis à infecção por D. immitis do que os cães. A prevalência de infecção em gatos corresponde a 5% a 15% da taxa de infecção canina em uma determinada área. A infecção por dirofilariose felina, embora rara, é fatal em muitos casos. Mesmo a presença de alguns vermes pode ser fatal. A infecção é em sua maioria assintomática ou apresenta-se como achados inespecíficos ao exame físico. Os sinais clínicos geralmente são apresentados quando os vermes juvenis chegam às artérias pulmonares ou quando morrem. Os sinais clínicos comuns são vômitos, anorexia, letargia e perda de peso. Tosse e dispnéia são observadas em casos raros e graves de doença respiratória associada à dirofilariose, que ocorre quando os vermes imaturos morrem e podem ser diagnosticados erroneamente como asma. Também foi observado que a morte de vermes adultos em gatos pode ser fatal.
O diagnóstico da infecção felina por D. immitis é um desafio. Envolve teste de microfilárias, teste sorológico, radiografia de tórax e ecocardiograma que podem ser usados em combinação. A microfilaremia é uma evidência rara, a presença de microfilárias circulantes é observada apenas a partir de 195 dias pós-infecção, até no máximo 228 dias (33 dias) (Jones et al., 2020). Portanto, os testes para microfilárias têm sensibilidade muito baixa. Embora os testes sorológicos em felinos sejam 100% específicos, eles são considerados de boa sensibilidade, apenas se o gato abrigar pelo menos um verme fêmea maduro. As radiografias de tórax podem mostrar evidências características da infecção, contribuindo para aumentar a suspeita de dirofilariose em gatos (Dillon, 1984; Venco et al., 2015). O ecocardiograma é outra ferramenta diagnóstica, usada para visualizar linhas paralelas típicas de estruturas hiperecogênicas, com aproximadamente 1,3 mm de tamanho nas câmaras direitas do coração ou nas artérias pulmonares (Venco et al., 2015). Portanto, os métodos mais eficazes para o diagnóstico são radiografias de tórax, ecocardiograma e testes sorológicos. No entanto, kits de testes sorológicos não estão disponíveis no Brasil. O objetivo deste relato de caso é enfatizar a necessidade de aumentar a conscientização sobre a dirofilariose felina entre os praticantes de pequenos animais e incentivar o diagnóstico de D. immitis felina em gatos que habitam áreas endêmicas de dirofilariose canina, apesar da apresentação clínica inespecífica.
Relato de caso
Em visita domiciliar na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, RJ, o veterinário responsável examinou um gato macho de 6 anos de idade, externo/interior, FeLV positivo, de raça aleatória, castrado. Este gato vivia com outro gato adulto que não apresentava sinais clínicos e não foi examinado a critério dos proprietários. O gato apresentou história de uma semana de doença, vômitos esporádicos e claudicação nos membros posteriores. O exame clínico revelou a presença de febre alta (40ºC), claudicação, forte infestação de pulgas, hiporexia, respiração ofegante, linfonodos inchados e letargia. O gato recebeu tratamento sintomático com antitérmicos, analgésicos e antieméticos. A selamectina foi prescrita mensalmente para controlar a infestação de pulgas. Pela história e exame clínico, inicialmente suspeitou-se de infecção por Mycoplasma spp. Portanto, uma amostra de sangue foi coletada para exame e doxiciclina oral (6 mg/kg BID) foi prescrita por 2 semanas.
O exame de sangue revelou a presença de discreta anisocitose, policromasia, leucopenia e linfopenia. O nitrogênio ureico no sangue (ureia) e a creatinina estavam dentro da faixa normal. A alanina transaminase (ALT) aumentou 2,5 vezes. Microfilárias foram observadas no esfregaço sanguíneo e a PCR não detectou DNA de nenhum Mycoplasma spp.. Segundo o proprietário, a saúde do gato foi recuperada em uma semana.
No 34º dia após o primeiro exame físico, o veterinário acompanhou o gato e coletou uma amostra de sangue para testar os antígenos de D. immitis usando o SNAP Feline Triple Test (importado pela Idexx Brasil para pesquisa) e reavaliação para microfilárias. O gato estava ativo e não apresentava sinais clínicos. Ele testou positivo para antígenos de D. immitis e FeLV e negativo para anticorpos do vírus da imunodeficiência felina (FIV). As microfilárias foram detectadas através do teste de Knott modificado e do exame da camada leucocitária.
No 60º dia após o primeiro exame físico, o gato foi apresentado na clínica. Na época, ele estava ativo e pouco cooperativo, apresentando sons pulmonares expiratórios ásperos sem outros sinais clinicamente detectáveis de doença. O dono alegou que o gato parecia saudável em casa. Uma amostra de sangue foi coletada para exame laboratorial e ecocardiograma também foi realizado. A radiografia torácica foi adiada a critério do proprietário.
O ecocardiograma mostrou a presença de estruturas hiperecogênicas lineares paralelas de 1,3 mm no tronco da artéria pulmonar (Figura 1). Não foram detectados sinais de hipertensão pulmonar. No entanto, o Doppler colorido mostrou presença de insuficiência tricúspide discreta e (Figura 2) o Doppler espectral mostrou fluxo sistólico e pulmonar assimétrico com velocidade normal (Figura 3). Não foram observadas outras alterações, como alterações no tamanho ou função da câmara cardíaca. O trabalho de laboratório mostrou que o gato ainda estava leucopênico e microfilarêmico.
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