Marketing
Artigos Científicos: Marketing. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 24/5/2014 • 1.899 Palavras (8 Páginas) • 821 Visualizações
INTRODUÇÃO
A sobrevivência e o crescimento das organizações estão diretamente
relacionados ao seu esforço para atingir e manter
uma vantagem competitiva no ambiente em que atuam,
ofertando ao mercado algo que supere os concorrentes. Para
tanto a estratégia é primordial. A elaboração e operacionalização
de uma estratégia respondem à necessidade que a organização
tem de gerenciar suas ações e buscar atingir seus
objetivos em um contexto altamente competitivo. Visualizase
um fl uxo de infl uências: o ambiente induz a estratégia,
que conduz ao posicionamento de vantagem competitiva,
infl uenciando a performance de mercado e a performance
fi nanceira (Dickson, Farris e Verbeke, 2001).
A estratégia é o foco das atenções. O contexto competitivo
mundial em que as organizações estão inseridas corresponde
ao pano de fundo para a questão estratégica. O
marketing possui um papel fundamental porque é um dos
elos entre a organização e o mercado. Para tal, é necessário
aprofundar conhecimentos sobre a construção de estratégias,
ou seja, como se dá o processo de formação da estratégia
de marketing, sua formulação e implementação.
O estudo do processo de formação da estratégia de marketing
é um tema pouco analisado na literatura nacional e
internacional. Converge com o que se afi rma em relação
ao conceito da própria estratégia, não havendo unanimidade.
Porém, há consenso de que não existe uma única e
melhor maneira de se criar e desenvolver uma estratégia,
como não há um melhor caminho para a organização.
Sempre há as particularidades de cada contexto em que
ela está inserida (Mintzberg e Quinn, 2001).
Dessa forma, este artigo propõe discutir o processo de
formulação e implementação de estratégias de marketing,
abordando, inicialmente, a literatura sobre o tema, refl etindo
teoricamente e apresentando dois modelos existentes
na bibliografi a sobre formação da estratégia de marketing.
Ademais, congrega-se a prática empresarial por meio
de pesquisa exploratória e descritiva com executivos de
organizações, a fi m de propor um construto teórico de formação
da estratégia de marketing constituído de elementos
que precisam ser trabalhados pelas organizações para
que sua posição competitiva seja cada vez mais distinta,
contribuindo, assim, para a teoria em Marketing.
FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE
ESTRATÉGIAS
Uma estratégia é constituída pela sua formulação e sua
implementação, que são apresentadas separadamente
para fi ns de estudo e análise, mas que precisam estar
inter-relacionadas na prática empresarial (Hutt, Reingen
e Ronchetto, 1988; Menon et al., 1999; Mintzberg e
Quinn, 2001; Piercy, 1998; Varadarajan e Jayachandran,
1999).
A formulação se refere à concepção da estratégia. São
atividades desenvolvidas para defi nir a estratégia que será
colocada em prática. Envolve a identifi cação e avaliação
racional das oportunidades e ameaças no ambiente externo,
bem como dos pontos fracos e fortes da organização,
defi nindo-se, assim, alternativas estratégicas para a escolha
da opção que melhor se adapte ao contexto e aos objetivos
traçados (Menon et al., 1999; Mintzberg e Quinn,
2001; Piercy, 1998).
A implementação, por sua vez, direciona-se à realização
da estratégia, que é propiciada por ações organizacionais
que levam a sua efetivação. De forma pormenorizada,
essas ações são as seguintes: mobilização dos
recursos internos necessários, adaptação da estrutura
organizacional às atividades de implementação, sistema
de informações e fl uxo de comunicações entre os grupos,
gestão das pessoas envolvidas – buscando comprometimento
e envolvimento de todos – e, por fi m, a preocupação
com a existência de liderança efetiva durante
o processo (Hutt, Reingen e Ronchetto, 1988; Menon
et al., 1999; Mintzberg e Quinn, 2001; Noble e Mokwa,
1999; Piercy, 1998).
As forças do ambiente são elementos preponderantes
quando se fala de formação da estratégia, com a concorrência
em posição de destaque. Na década de 1980,
Michael Porter (1991) se tornou mundialmente conhecido
por defender essa idéia, ao abordar as questões
estratégicas voltadas para a competição. A formulação
de uma estratégia competitiva, na visão de Porter – que
se baseou em trabalhos de Kenneth Andrews (2001)
da década de 1960 e, de certa forma, no trabalho de
Mintzberg (1990) –, precisa considerar: os pontos fortes
e os pontos fracos da empresa; os valores pessoais dos
principais responsáveis pela implementação da estratégia
escolhida, suas motivações e suas necessidades; as
ameaças e as oportunidades da indústria; as expectativas
da sociedade.
Por sua vez, Hunt e Morgan (1996) também abordam
a questão central da concorrência na formação de estratégias,
afi rmando que ela é o ponto de desequilíbrio das
organizações. Defendem que a obtenção da performance
fi nanceira almejada ocorre por meio da vantagem em recursos
– tangíveis ou não – perante a concorrência, que
possibilita a composição de uma oferta de maior valor
para o mercado.
OUT./DEZ. 2006 • ©RAE • 27
ANA MARIA MACHADO TOALDO • FERNANDO BINS LUCE
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) afi rmam que a
formulação e implementação de estratégias são visualizadas
como um processo que possui várias perspectivas,
quais sejam: busca adequações, é formal e sistemático,
analítico, visionário, mental, emergente, coletivo, adaptável
ao ambiente, de negociação e de transformação. Cada
um desses enfoques corresponde a uma escola do pensamento
da estratégia. Para eles, o melhor é considerar várias
dessas abordagens na formação de estratégias.
Com isso, uma questão pode ser formulada: o que é
mais importante? O que deve vir primeiro? Ao realizar
ampla revisão de literatura na área, Menon et al. (1999)
concluem que “formulação” e “implementação” precisam
ser consideradas conjuntamente a fi m de que nada se
perca e não haja prejuízo à performance organizacional.
Defendem, assim, a união de duas escolas de pensamento:
a racional, que defende a formulação da estratégia, e
a incremental, que se fundamenta na implementação.
Por isso, dividir o processo formulação–implementação
da estratégia é presumir que no momento da formulação
há informações completas e sufi cientes, não sendo necessárias
algumas adaptações, e que durante a implementação
não haverá mudanças no ambiente externo. Entretanto,
isso não é verdadeiro, pois o contexto ambiental se altera
rapidamente. As informações atuais não são mais sufi
cientes. Além disso, vão se estabelecendo relações durante
as atividades. A organização é levada a repensar a
sua estratégia, porque talvez ela não cause mais impacto
no mercado em que atua (Minztberg, 2001).
Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) complementam
que separar formulação e implementação seria negar que
as estratégias, além de deliberadas, podem ser emergentes,
ou seja, novas estratégias podem surgir por causa de modifi
cações dos ambientes interno e externo. A realização
plena daquilo que se pretendera, a saber, a estratégia deliberada,
é muito difícil de acontecer, levando à aceitação
de alterações durante o percurso, com a inserção de ações
criativas, ou seja, à estratégia emergente.
Considerar a formulação e a implementação separadamente
é isolar também o pensamento da ação, ou seja,
durante a implementação não há refl exão do que está
se desenvolvendo (Ferreira, 1988). Por isso, aborda-se
a estratégia do ponto de vista processual, onde não há
interrupção, mas sim a simultaneidade entre estudo,
pesquisa, análise, ação, revisão e nova ação. Não se pode
entendê-la como fases isoladas e como fi ns em si mesmas,
mas como um inter-relacionamento. São elementos
que interagem mutuamente, interação na qual a ação é
acompanhada pela investigação e crítica, não podendo
uma existir sem a outra.
ESTRATÉGIA DE MARKETING
O marketing se insere nessa seara de conceitos ao desempenhar
seu papel na organização, formulando e implementando
estratégias. Day (1992) defi ne estratégia de
marketing como o desenvolvimento de atividades e tomadas
de decisão a fi m de construir e manter uma vantagem
competitiva sustentável. Isso ocorre pela sua contínua interação
com o meio externo, relacionando-se com vários
públicos, em especial, com os consumidores, buscando
informações e respondendo às demandas existentes.
Assim, o marketing contribui com a realização de estratégias
que confi gurem entrega de valor aos mercados
(Woodruff, 1997). É necessário ter consciência de que
o indivíduo compõe sua opção de compra comparando
os benefícios oferecidos com os custos de aquisição da
oferta e, em seguida, confrontando o valor dessa oferta
com o valor das outras, fazendo por fi m a sua escolha
(Oliver, 1999).
A questão do valor para o cliente, então, confi gura-se
na preocupação da formulação e implementação de estratégias
de marketing. A fi m de se obter vantagem competitiva,
o maior empenho é direcionado para a realização
de atividades e aspectos específi cos do negócio voltados
para a entrega de valor superior aos clientes em relação
às ofertas concorrentes (Webster, 1988, 1992).
Duas dimensões da estratégia de marketing podem ser
ressaltadas: a primeira, funcional, relativa ao desenvolvimento
da lealdade do consumidor por meio da marca, dos
serviços prestados ou do controle do acesso aos canais de
distribuição. A segunda, fi losófi ca, que aborda a questão
da busca pela performance organizacional a longo prazo
por meio da proliferação de uma cultura organizacional
orientada para o mercado (Weitz e Wensley, 1992). Essa
abordagem caracteriza a responsabilidade de marketing
em defi nir estratégia tanto no nível operacional, como
as estratégias do composto de marketing, quanto no nível
estratégico, em que infl uencia o pensar e agir dos indivíduos
da organização, disseminando a crença de que
os objetivos organizacionais serão atingidos se as ações
contemplarem a satisfação dos clientes.
A literatura de estratégia, ao longo dos anos, abordou
vários desses aspectos. Varadarajan e Jayachandran (1999)
e Shoham e Fiegenbaum (1999) afi rmam que a bibliografi
a sobre estratégia apresenta mais estudos a respeito do
conteúdo do que do processo da estratégia. Isso signifi ca
que o enfoque das pesquisas está concentrado mais no
que a estratégia é e menos em como se chega à escolha
de uma estratégia específi ca, bem como às ações necessárias
para realizá-la.
FÓRUM • ESTRATÉGIA DE MARKETING: CONTRIBUIÇÕES PARA A TEORIA EM MARKETING
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O processo da estratégia é fonte de vantagem competitiva
duradoura, uma vez que é mais difícil de ser imitado
do que o próprio conteúdo das estratégias do composto de
marketing. Isso ocorre quando se considera que um processo
é constituído por um conjunto de ações de formulação e
implementação, infl uenciado pela estrutura e cultura organizacionais,
crenças e competências de indivíduos, enfi m,
construído a partir das capacidades organizacionais. As
últimas são os elementos particulares de cada organização,
sendo complicado o concorrente conhecer esses elementos
e saber de que forma foram relacionados para gerar a estratégia
avaliada (Shoham e Fiegenbaum, 1999).
Ademais, a visão da estratégia como processo é importante
porque o valor que se quer oferecer ao mercado
não está somente no objeto da transação, mas nas atividades
e nas pessoas envolvidas antes, durante e depois da
sua efetivação (Webster, 1992). Por isso as capacidades
organizacionais se confi guram como elementos essenciais
para a construção do processo da estratégia (Piercy,
1998), cuja formulação e implementação devem acontecer
simultaneamente em um sistema com um contínuo
feedback das ações pensadas e realizadas (Varadarajan e
Jayachandran, 1999).
O processo de formação da estratégia de marketing é
fundamentado teoricamente a seguir, apresentando dois
modelos, testados e validados, que discorrem sobre a estrutura
e os elementos necessários à formulação e implementação
da estratégia de marketing.
MODELO DE MENON, BHARADWAJ,
ADIDAM E EDISON (1999)
O modelo de formação da estratégia de marketing – marketing
strategy making (MSM) – foi desenvolvido e testado
por Menon, Bharadwaj, Adidam e Edison (1999), e contempla
conjuntamente a formulação e a implementação
de estratégias de marketing, os elementos que infl uenciam
esse processo (antecedentes) e, também, seus resultados
(veja a Figura 1).
I – Antecedentes: fatores organizacionais que facilitam
ou difi cultam a formulação e a implementação da estratégia
de marketing. a) Estrutura organizacional: enfatiza
a centralização, relacionada à concentração das tomadas
de decisão nos níveis mais elevados da organização; e a
formalização, entendida como a maneira de criar e padronizar
regras, procedimentos, instruções e comunicações,
bem como a clareza da defi nição dos papéis. b) Cultura
organizacional: aborda a inovação, a abertura a novas
idéias e a resposta rápida às decisões tomadas.
II – Processo: elementos que compõem a própria formulação
e implementação da estratégia de marketing na
organização. a) Análise situacional – análise das forças e
fraquezas, ameaças e oportunidades organizacionais; b)
Abrangência – identifi cação sistemática e avaliação profunda
das múltiplas alternativas para escolher a estratégia;
c) Ênfase nos ativos e competências de marketing
– conhecimento dos recursos e habilidades desenvolvidos
para a entrega de valor superior ao mercado; d) Integração
entre funções – inter-relação dos setores e níveis da organização;
e) Qualidade da comunicação – natureza da
comunicação, formal e informal, durante o processo da
estratégia; f) Comprometimento com os recursos da estratégia
– existência de recursos humanos, materiais e
temporais adequados e comprometidos com o processo; g)
Comprometimento com o consenso da estratégia – comprometimento
consensual da equipe em relação à estratégia
escolhida.
III – Resultados: conseqüências do processo de formação
da estratégia de marketing. a) Criatividade desenvol-
Figura 1 – Modelo de formação da estratégia de marketing de Menon et al. (1999)
ANTECEDENTES PROCESSO RESULTADOS
Centralização
Formalização
Cultura organizacional
Análise situacional
Abrangência
Ênfase nos ativos e competências de marketing
Integração funcional
Qualidade da comunicação
Comprometimento com o consenso da estratégia
Comprometimento com os recursos da estratégia
Criatividade
Aprendizagem
Desempenho de mercado
Variável de Controle
Turbulência Ambiental
Fonte: Menon et al. (1999, p. 23).
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