PROJETO INTEGRADOR: ESTRATÉGIA INTERDISCIPLINAR
Por: Rafael Martins • 12/4/2015 • Trabalho acadêmico • 24.543 Palavras (99 Páginas) • 517 Visualizações
UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA
CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA
EM GESTÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL
DISCIPLINA – PROJETO INTEGRADOR I
AUTORA: Profa. Marione Rheinheimer
1 PROJETO INTEGRADOR: ESTRATÉGIA INTERDISCIPLINAR
No contexto desta graduação, concebe-se o Projeto Integrador como uma estratégia de caráter interdisciplinar, cujo desenvolvimento articula os saberes curriculares. Para isso, a construção de conhecimentos, por meio da pesquisa sistematizada entre as disciplinas, contribui para a formação de uma visão integralizante no percurso formativo do graduando. Na prática, observa-se que, além da interdisciplinaridade, o Projeto Integrador implica a transversalidade entre os conteúdos, tecendo um eixo integrador do currículo, estabelecendo interfaces na construção de conhecimentos.
Portanto, o que esperamos de você, ao longo de seu percurso acadêmico, é que INTEGRE os variados conhecimentos que construirá, vinculando os saberes das diferentes disciplinas, a fim de tecer esse universo cognoscente. Para além disso, esperamos que você faça cruzamentos não somente com as disciplinas de sua matriz curricular, mas também entrecruze a visão de mundo da sua área com outras áreas. Esse é o real objetivo do Projeto Integador – que dá nome a esta nossa disciplina: sermos capazes de “ver além” desta matéria e desta área, servindo-nos de outras áreas para complementarmos essa construção.
CURRÍCULO E APRENDIZAGEM
A concepção de currículo por muitas décadas se pautou em uma visão eminentemente escolar e acadêmica, sem levar em conta outros contextos aos quais a Universidade, enquanto Academia, se vincula – o mundo do trabalho, mais que todos. Estamos impregnados – e influenciados – por um contexto histórico que se pauta por condicionantes socioeconômicos, políticos e culturais, mas que vai para além desses contextos, constituindo-se como elemento preponderante na qualidade da educação.
Na prática educativa, a concepção sobre o currículo e sobre suas interações, enquanto práxis pedagógica e instrumento pelo qual se controem conhecimentos, ações e estratégias transformadoras do sujeito, serve de inspiração para os profissionais que se preocupam com as diferentes potencialidades para o aprender e os mecanismos utilizados pelas instituições de ensino para assegurar essas aprendizagens.
Edgar Morin (2000), considerado um dos mais importantes pensadores da contemporaneidade, afirma que:
A educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com frequência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou, caso esteja adormecida, de despertar (MORIN, 2000, p. 29).
Morin (2000) considera que a pedagogia tradicional não traz avanços
qualitativos ao pensamento humano, pois “Em tais condições, as mentes jovens perdem suas aptidões naturais para contextualizar os saberes e integrá-los em seus conjuntos” (p. 32). Dessa forma, sustenta seu argumento pela pedagogia interdisciplinar. Por outro lado, quando fala sobre a estrutura de nossos processos mentais, Edgar Morin acentua esta capacidade integradora de comunicação do cérebro humano:
Isolado no interior de uma caixa fechada, o cérebro humano todavia se comunica com o Universo pela mediação de terminais sensoriais. Os estímulos visuais, por exemplo, são transformados num código binário, que o tecido cerebral retrabalha e transforma em percepção ou representação. O conhecimento não é senão uma tradução, uma reconstrução. Não conhecemos a essência das coisas exteriores. Sabemos das coisas objetivas, que podemos confirmar, mas não há conhecimento sem integração do conhecido. Essa circunstância vale também para os fenômenos sociais e humanos (MORIN, 2013, p. 6).
Chegamos, aqui, estimado aluno, à essência desta disciplina: o Projeto Integrador. O pensador de que estamos tratando não utiliza essa expressão, mas se você refletir apuradamente sobre esses dizeres de Morin, é possível perceber, no modo de pensar do sociólogo, que é isso, dentre outras visões, que ele sugere.
PAUL ETLET: UM VANGUARDISTA
Vamos, agora, retroceder um século, e nos debruçarmos sobre os feitos de um belga chamado Paul Otlet (nascido em 1868). Para esse pensador, o conhecimento era gerado por um ciclo contínuo no qual o homem apreendia a realidade por meio de seus sentidos, elaborando, por meio de sua inteligência, os dados sensoriais apreendidos. Desse modo, produzia conhecimento e em seguida ciência, já que o saber científico tinha como fim o conhecimento da realidade e era composta dos conhecimentos coletivos. A ciência era expressa por meio de um documento, também ele elaborado pela inteligência (OTLET, 2007, p. 43-44).
Os documentos com os registros – descobertas científicas – estavam no começo e no fim de toda pesquisa, pois eram utilizados para a criação de novo conhecimento; eram, pois, o produto da elaboração de novos conhecimentos. De igual modo, estimulavam novas descobertas ao serem lidos e continuados por outros pesquisadores (OTLET, 2007, p. 395-396). O pesquisador belga afirmava que os documentos formavam uma rede de integração, pois estes conservavam o conhecimento que estava presente de alguma maneira em outros registros, o que para ele significava que um documento afetava todos os outros existentes nessa rede, qualquer publicação sendo uma contribuição para a obra científica total.
Como você possivelmente já percebeu, esse é, também, um modo de ver a produção de conhecimentos – a pesquisa, a busca, o registro – como um cruzamento de informações e de maneiras de conceber questionamentos. Estamos, mais uma vez, diante de uma tipologia de Projeto Integrador, ainda que não tivesse esse nome. A visão de Otlet tinha por base a ideia de uma máquina operando em rede e integrando documentos por meio de links simbólicos. Embora o conceito possa parecer evidente hoje, em 1934 – ano em que ele estava pensando tais preceitos – representasse uma grande inovação intelectual.
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