A Alfabetização científica como ferramenta para inclusão social
Por: Thiago Duarte • 27/7/2017 • Resenha • 2.374 Palavras (10 Páginas) • 706 Visualizações
ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA EM QUÍMICA
Alfabetização científica como uma ferramenta para a inclusão social.
Merton (1910-2003), em seus clássicos trabalhos de sociologia da ciência, já considerava as condições sociais de produção e apropriação do conhecimento. Com diferentes perspectivas sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade, os estudiosos da sociologia da ciência foram ampliando as proposições analíticas sobre a base da organização e interação dos praticantes da ciência. Ampliando a análise desse campo, outro grupo de sociólogos, como Latour e Woolgar (1979) e Knorr-Cetina (1981), identificou as condições sociais internas de produção do conhecimento científico, demonstrando como o fato científico é construído no contexto sociopolítico, no qual tomam parte vários atores, incluindo cientistas e não-cientistas. A produção do conhecimento científico muitas vezes pode ser lançada na mídia de forma a manipular a interpretação da sociedade para benefícios próprios, se apropriando dos preceitos de que a maioria da população não é alfabetizada cientifico e tecnologicamente, assim alguns estudos científicos perdem sua essência original e tomam outros propósitos ao longo de sua divulgação e discussão.
Considerando, então, que a ciência engloba diferentes atores sociais e que a compreensão desse campo depende da análise das inter-relações entre esses atores, pode-se considerar que a compreensão dos propósitos da educação científica passa por uma análise dos diferentes fins que vêm sendo atribuídos a ela pelos seus diversos atores.
Para ele, tais fatores incluem a existência de diferentes grupos de atores sociais preocupados com a educação científica, diferentes definições conceituais para os termos alfabetização ou letramento, diferentes propósitos para essa educação, assim como diferentes estratégias que têm sido adotadas na mensuração do nível de alfabetização das pessoas sobre ciência, enquanto os educadores em ciência se preocupam com a educação nos sistemas de ensino, os cientistas sociais estão voltados para o interesse do público em geral por questões científicas; e os economistas, interessados no crescimento econômico decorrente do maior consumo da população por bens tecnológicos mais sofisticados que requerem conhecimentos especializados, como o uso da informática.
A ênfase curricular no ensino de ciências proposta pelos educadores em ciência tem mudado em função de contextos sócio-históricos.
No final dos anos de 1950, em plena Guerra Fria, com o lançamento do primeiro satélite artificial – o Sputinik –, houve, da parte dos Estados Unidos, uma corrida para apressar a formação de cientistas, o que levou à elaboração de projetos curriculares com ênfase na vivência do método científico, visando desenvolver nos jovens o espírito científico (Krasilchik, 1987).
Outros enfoques para a educação científica continuaram com a educação para a ação social responsável, a partir de uma análise crítica sobre as implicações sociais da ciência e da tecnologia, outros passaram a defender a compreensão da natureza da atividade científica como aspecto central na educação científica.
Em uma revisão sobre essas concepções, Norris e Phillips (2003) identificaram alguns significados para essa educação, podendo resumir em:
de a) a e) anteriores se referem ao conhecimento e ao desenvolvimento de habilidades em relação à atividade científica. Já as categorias de f) a k) referem-se a conhecimentos, habilidades e valores relacionados à função social da atividade científica, incluindo categorias de natureza cultural, prática e democrática.
Pela natureza do conhecimento científico, não se pode pensar no ensino de seus conteúdos de forma neutra, sem que se contextualize o seu caráter social, nem há como discutir a função social do conhecimento científico sem uma compreensão do seu conteúdo. Na atualidade muitas metodologias vêm surgindo e principalmente sendo aplicada em sala de aula, visando inserir os conteúdos estudados em sala de aula a partir de uma abordagem metodológica do cotidiano, atribuindo assim sentidos e significados ao que se estuda, interpretamos assim que essas novas metodologias também são formas de se educar para a alfabetização científica.
Isso, contudo, não tem sido a característica da educação científica na educação formal, que desde o ensino fundamental até a pós-graduação vem sendo abordada cada vez mais com fragmentação e especialização.
Sem querer propor uma dicotomia entre os dois domínios, no presente artigo, caracteriza-se essa distinção adotando a mesma categorização que se vem usando para alfabetização e letramento nas ciências lingüísticas e em educação.
De acordo com essa conceituação, uma pessoa alfabetizada, que sabe ler e escrever, pode não ser letrada, caso não faça uso da prática social de leitura, ou seja, apesar de ler, não é capaz de compreender o significado de notícias de jornais, avisos, correspondências, ou não é capaz de escrever cartas e recados.
Ao contrário, uma pessoa pode não ser alfabetizada, mas ser letrada se tiver contato diário com as informações do mundo da leitura e da escrita, por meio de pessoas que lêem ou escrevem para ela as notícias de jornal, as cartas ou os recados (Soares, 1998).
Devemos ainda estabelecer relações e diferenciações acerca da alfabetização e do letramento, considerando que as duas vertentes possuem aspectos diferentes, pois na tradição escolar a alfabetização científica tem sido considerada na acepção do domínio da linguagem científica, enquanto o letramento científico, no sentido do uso da prática social, parece ser um mito distante da prática de sala de aula.
Deve-se observar que, enquanto a alfabetização pode ser considerada o processo mais simples do domínio da linguagem científica e enquanto o letramento, além desse domínio, exige o da prática social, a educação científica almejada em seu mais amplo grau envolve processos cognitivos e domínios de alto nível científico propriamente dito, o processo que envolve um conhecimento mais aprofundado dos construtos teóricos da ciência e da sua epistemologia, com compreensão dos elementos da investigação científica, do papel da experimentação e do processo de elaboração dos modelos científicos.
Isso envolve a compreensão do impacto da ciência e da tecnologia sobre a sociedade em uma dimensão voltada para a compreensão pública da ciência dentro do propósito da educação básica de formação para a cidadania, assim Laugksch (2000) define LC com função social como aquele que desenvolve a capacidade mínima funcional para agir como consumidor e cidadão.
Nesse contexto, o letramento dos cidadãos vai desde o letramento no sentido do entendimento de princípios básicos de fenômenos do cotidiano até a capacidade de tomada de decisão em questões relativas a ciência e tecnologia em que estejam diretamente envolvidos, sejam decisões pessoais ou de interesse público.
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