A Máquina Térmica: O Etanol no Brasil
Por: joaorichnivitz • 2/8/2020 • Ensaio • 1.227 Palavras (5 Páginas) • 196 Visualizações
A Máquina Térmica: o etanol no Brasil
A energia e a sua distribuição constituem-se, indubitavelmente, em elementos indispensáveis tanto para o nosso cotidiano quanto para a dinâmica político-econômica global. Para se atestar a veracidade de tal afirmação, basta observar que boa parte das grandes transformações que marcaram o curso da história humana, contribuindo para a construção do mundo atual, estiveram relacionadas à descoberta de novos meios para se aproveitar e converter a energia presente no planeta Terra. Percebe-se, dessa forma, o inestimável papel desempenhado pela energia tanto no passado quanto no presente da existência humana.
Nesse contexto, ganham destaque, sobretudo na contemporaneidade, as formas de energia renováveis e derivadas da biomassa, como é o caso do etanol. De fato, com o aumento da demanda mundial por energia e da preocupação com a dinâmica ambiental terrestre, verificou-se uma crescente procura por fontes alternativas ao uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural, entre outros), visando a uma maior sustentabilidade e viabilidade econômica. Uma dentre tais fontes constitui-se no emprego de biocombustíveis, com crescente importância tanto no Brasil quanto no restante do mundo.
No presente trabalho, será apresentada o atual cenário econômico e produtivo do etanol no Brasil, assim como uma breve descrição da história do combustível no país e de perspectivas para o futuro desse biocombustível, tanto nacionalmente quanto mundialmente. Bom proveito.
O etanol no Brasil: breve contextualização histórica e cenário atual
A trajetória do etanol e de outros biocombustíveis em solos nacionais teve o seu marco inicial ainda no ano de 1925, quando tal recurso energético começou a ser produzido no país (ainda que de forma extremamente limitada). Já naquela época, e a despeito do claro domínio dos combustíveis fósseis na matriz energética brasileira e internacional até então presente, foi possível verificar a importância do álcool etílico enquanto fonte de energia, o que se evidenciou pela criação do Instituto do Açúcar e do Álcool, em 1933, e pela instituição da Lei nº 737 (ambas no decorrer da Era Vargas), que tornava obrigatória a adição de etanol ao combustível automotivo.
Contudo, o etanol só passaria a ocupar um papel de maior relevância energética e econômica a partir da década de 1970, quando os riscos econômicos associados à dependência do petróleo (recurso do qual o Brasil era grande importador) tornaram necessária a busca por fontes alternativas de energia. Nesse contexto, é indispensável ressaltar a ocorrência do Choque do Petróleo de 1973 (em virtude das ações da OPEP), o qual, ao elevar abruptamente o preço desse recurso energético (que correspondia a metade das divisas gastas pelo Brasil no comércio internacional) e impactar decisivamente na economia brasileira (sendo, em grande medida, responsável pelo fim do “Milagre Econômico” dos governos militares), acarretou a adoção do Programa Proálcool (1975), durante o governo Geisel. Desde então, o investimento na produção sucroalcooleira tem ocupado um papel estratégico para a conquista, por parte do Brasil, da independência energética.
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Figura 1: à esquerda, notícias da década de 1970 relativas ao choque do petróleo de 1973 e à posterior adoção do Programa Proálcool, no ano de 1975. À direita, gráfico da variação histórica do preço internacional do petróleo, com destaque para a abrupta valorização da commodity no ano de 1973. Imagens disponíveis em: Google Images. Acesso em 12 de outubro de 2019.[pic 2]
Após o estabelecimento do Programa Proálcool, ainda em tempos de regime militar, a produção e consumo de etanol no Brasil passou por um contínuo e substancial processo de crescimento econômico, o que garantiu ao combustível uma ascendente importância na economia nacional. Tal crescimento, no caso, ocorreu sobretudo devido ao crescimento da demanda por álcool enquanto combustível automobilístico, o que se explica pelos seguintes fatores: efetivação de programas de subsídios estatais; aumento do preço da gasolina, diesel e outros derivados de petróleo (ver gráfico na página anterior); redução do custo de produção do etanol de cana em decorrência da inovação tecnológica; maior preocupação com a sustentabilidade e com a preservação do meio-ambiente; introdução de veículos com a tecnologia Flex (o uso tanto de gasolina comercial quanto do etanol é possível), que atualmente correspondem a maior parte dos carros comercializados no Brasil. Todas essas condições, no caso, contribuíram para o aumento da produção sucroalcooleira em solos brasileiros, fazendo do país um dos maiores produtores e exportadores dessa fonte de energia na atualidade.
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Figura 2: gráfico comparando o aumento da inserção de veículos flex no mercado brasileiro ao crescimento da importância do etanol enquanto combustível no Brasil. Disponível em: google images. Acesso em 12 de outubro de 2019.
Conforme já fora visto anteriormente, a produção sucroalcooleira nacional, na atualidade, vem desempenhando um importantíssimo papel para a conquista da independência brasileira no setor energético e de combustíveis, sendo crescente a sua participação na economia nacional. Ademais, cabe-se destacar que a ascendente relevância do uso de álcool etílico e outros derivados da biomassa (incluindo o biodiesel) contribui para a redução da dependência, por parte da matriz energética brasileira, do emprego de recursos fósseis, tornando-a também mais limpa e sustentável do que a da maior parte dos demais países presentes no planeta (ver gráfico abaixo). Por fim, deve-se ressaltar que, com o passar dos anos, a gradual exaustão das reservas fósseis de energia, associada à necessidade de desenvolvimento de soluções eficazes e sustentáveis para o problema energético, aumentará ainda mais a importância da produção de biocombustíveis (que, em território brasileiro, emprega cerca de 600 mil trabalhadores, sobretudo nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste do país) em escala mundial, o que poderá garantir ao Brasil (atualmente o segundo maior exportador de etanol no planeta) uma decisiva vantagem na geopolítica e economia internacional no futuro.
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