Alfabetização e Letramento: Pontos e Contratempos
Por: andi000 • 17/5/2015 • Artigo • 3.140 Palavras (13 Páginas) • 249 Visualizações
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“Alfabetização e Letramento”
Alessandra Aparecida Viana de Souza
Araraquara
2014
Alfabetização e Letramento; Pontos e Contratempos
Se de um lado, o alfabetismo e baixo letramento são problemas que merecem ser enfrentados além dos muros escolares com políticas públicas para a promoção da qualidade de vida, da justiça social, do equilíbrio econômico, da valorização do ensino, da democratização da cultura do acesso equitativo a educação, lazer e trabalho, de outro, é certo que a escola precisa mudar os tradicionais paradigmas que ainda hoje sustentam a pratica pedagógica e assim buscar novas alternativas de ensino.
Partindo de questões amplas, e aparentemente obvias, este texto pretende contribuir para a consolidação de um debate sobre alfabetização e letramento a fim de ampliar a compreensão sobre o ensino da língua escrita.
O ensino da língua escrita, habilidades, procedimentos e atitudes que se constroem em longo prazo pela possibilidade de, entre tantas coisas, conhecer letras e expressar sentimentos, decodificar sinais e interpretar o mundo, selecionar informações e articular ideias, escrever palavras e se relacionar com outros, conhecer as arbitrariedades do sistema e aprimora esquemas de organização do pensamento, desenhar traçados convencionais e recriar as dimensões humanas de tempo e espaço, respeitar normas e constituir-se como sujeito autor, adestrar os olhos e viajar por meio da leitura, dominar a mão e usufruir o direito a palavra.
O que significa tal postura na pratica pedagógica? Significa superar o ensino da escrita como código e promove-lo a condição de diálogo, assumindo o seu caráter político. Para isso, o mestre Paulo Freire propunha, em vez de aulas, “círculos de cultura”, encontros centrados na compreensão da realidade e no processo de politização.
O primeiro diz respeito a interpretação, tão comum na escola, da escrita como um sistema independente e completo em si mesmo, compreensível pela lógica intrínseca do texto.
O letramento traz consigo uma natureza ideológica que merece ser considerado tanto na esfera social como nas práticas escolares.
Para estes, o manejo limitado da língua escrita é igualmente fator de exclusão, razão pela qual o baixo letramento, assim como o analfabetismo, configura-se como vilão do mundo moderno, uma realidade que não interessa nem mesmo a sociedade capitalista.
Finalmente, Soares, percebendo a sobreposição de ambos os conceitos e sentindo necessidade de precisar a especificidade de alfabetizar e a relevância do processo de letramento, propõe as seguintes definições: alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utiliza-lo para ler e escrever.
A relação entre alfabetização e letramento deixa mais evidente as variações possíveis dos graus de competência: 1) o alfabetizado letrado como aquele que conhece o sistema e é capaz de usá-lo com competência; 2) o alfabeto pouco letrado que se vê limitado em ambos os requisitos; 3) o alfabeto letrado que embora incapaz de ler e escrever, tem razoável compreensão da língua escrita (por exemplo, reconhecendo a sua forma mais típica em oposição a oralidade ou ainda lidando com a função e suporte, como é o caso de um alfabeto que dita uma carta ou sabe em qual caderno do jornal vai encontrar as informações sobre esporte), e 4) o alfabetizado pouco letrado, condição típica do sujeito que, mesmo conhecendo o código da escrita, mostra-se inábil no manejo de suas práticas.
Com uma postura de comprometimento em fase da tarefa escrita, os procedimentos de diferentes naturezas ressaltam como até mesmo os alunos menos experientes podem ser, ao mesmo tempo, aprendizes e usuários do sistema.
Com base nas passagens acima, o que fica evidente é que enquanto Emília Ferreiro aposta na mudança do tradicional conceito de alfabetização (uma empreitada levada a cabo já há quase trinta anos pelas pesquisas liberadas pela autora e pelas práticas pedagógicas nelas subsidiadas), atribuindo a ele uma dimensão mais ampla de usos e funções sociais, Magda Soares, sentindo o esgotamento teórico e prático do termo em função das novas configurações da sociedade e da educação, prefere investir no conceito de letramento como recurso para garantir o sentido da aquisição da escrita e da especificidade do ensino desta.
Em síntese, estreitamento vinculados a compreensão do que seja de maneira efetiva a aprendizagem da escrita, os estudos sobre letramento favoreceram a visão crítica sobre as metas do ensino e a necessidade de reconduzir as práticas pedagógicas para uma abordagem contextualizada em propósitos sociais bem definidos visando um posicionamento crítico e politicamente situado.
Em face da sistemática intervenção escolar da alfabetização, o caminho dos que tiveram mais experiências de “lecto-escrita” parece ser mais fácil e curto só que aqueles que tiveram menos oportunidades de lidar com a escrita no dia a dia mais uma evidência de que a escola pouco está preparada para lidar com a diversidade.
Enfim para compreender o “analfabetismo de resistência” é preciso captar o ponto de vista do alfabeto no hipotético questionamento: “se eu aprender a ler e escrever, como posso pertencer ao meu lugar? Como encarar os meus iguais que não tiveram as mesmas oportunidades?
Em decorrência das pesquisas sobre letramento, diversos outros estudos foram surgindo em várias áreas do conhecimento. Estudos que acabaram por nortear novas linhas de pesquisa e de intervenção pedagógica ou de políticas de cultura e educação. Mais uma vez, fica evidente que o conceito de letramento ampliou a visibilidade para fenômenos específicos que puderam ser delineados em suas práticas e necessidades especificas.
Em outras palavras, é possível dizer que a compreensão do “letramento” possibilitou a abordagem de “letramentos”, isto é, o entendimento das inúmeras práticas sociais e dos diversos eventos do universo letrado.
Como um campo novo de abordagem e estudos, a consideração dos letramentos já vem sendo assumida por vários autores estrangeiros.
Em primeiro lugar é possível enfocar os âmbitos de ocorrência, como o caso dos estudos que analisam as relações entre o “letramento social” e o “letramento escolar”. Se é verdade que a escola promove a aprendizagem da escrita, é igualmente verdadeiro que as intervenções pedagógicas fazem mais que isso: elas favorecem experiências diferentes do letramento social, mas que da mesma forma, não se confundem com a estrita aprendizagem da língua.
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