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O BRASIL DO “JEITINHO”

Por:   •  18/6/2015  •  Resenha  •  4.090 Palavras (17 Páginas)  •  287 Visualizações

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O BRASIL DO “JEITINHO”

Nome: Taynara Jéssica Pereira

Turma: Resende 23


4ª Atividade Dirigida

Referente ao encontro “Ética”

Módulo Básico – Unidade II

Atividade: Leia o texto e responda às questões propostas.

O BRASIL DO “JEITINHO”

Extraído do livro Identidade nacional em debate (Sônia de Almeida Pimenta).

Qual a sensação que se tem quando se ouve a expressão “jeitinho brasileiro”? O que é esse “jeitinho”? Uma virtude de nosso povo, expressa na sua maneira de ser: alegre, versátil, criativa, que tenta fazer o cotidiano mais agradável? Ou um lamentável traço de caráter que faz com que qualquer um, ao ter chance, “tire vantagem” de certa situação, explorando, especulando, corrompendo ou burlando as regras estabelecidas? Reforçando a ideia do “jeitinho” como uma virtude, costuma-se veicular, através do carnaval, do futebol e da riqueza natural, a imagem do Brasil como em país alegre e descontraído. Mas, cá entre nós, é por meio de uma série de anedotas que ficamos conhecendo a nossa realidade, o nosso caos diário. Nessas historinhas engraçadas se faz da tragédia uma comédia, ou de um fato sério e difícil de solucionar uma brincadeira em que o riso é o limite. Veja esta, por exemplo: “Quando morreu, um certo camarada, muito malandro, foi parar no inferno. Recepcionado pelo assistente do diabo, soube que teria o direito de escolher o tipo de inferno para passar o resto de sua ‘vida’ de morto. “No inferno britânico, teria como ‘refeição’ uma cota diária e obrigatória de quatro latas de uma ‘ração (cuja composição ia desde meleca mofada até xixi azedo de gato), levaria quarenta chicotadas do próprio diabo e passaria quatro horas por dia no banquinho da fogueira do inferno... “No inferno francês as penalidades eram menos duras. Seguiu, então, para o inferno brasileiro, julgando que as punições seriam, logicamente, mais amenas. “ – Aqui não é fácil! – disse o assistente do diabo. – São dez latas de ‘ração’ diárias, dez chicotadas do diabo e dez horas ardendo no banquinho! “O malandro ficou desolado e perguntava a si mesmo: sendo o Brasil a terra abençoada, como teria em inferno tão difícil assim? Logo encontrou um amigo dos velhos tempos de boemia, com quem se lamentou sobre a própria sina. Mas logo sentiu imenso alívio quando o amigo lhe explicou: “ – Tudo aqui é cópia do Brasil: nada funciona! Aqui se tem ‘ração’ não tem lata para servir; se tem o chicote e a lenha, é o diabo quem falta” Nessa anedota faz-se graça do descrédito, da falta de responsabilidade daqueles que têm por função organizar e fazer funcionar os serviços públicos. É muito agradável ouvir que não funcionam as punições do inferno brasileiro – que alívio!!! Mas saber que não funcionam os prontos-socorros, as escolas, a política, o Congresso – prejudicando os cidadãos – é lamentável, é um castigo. É nesses momentos de emperramento, de péssimo funcionamento da maior parte dos serviços públicos, que surge o “jeitinho brasileiro”. É o diretor da escola que arranja uma vaga, que não existia, para o filho do deputado ou do senador, ou para o filho de um protegido. A mesma coisa acontece praticamente todos os dias nos hospitais públicos, onde internações são conseguidas da mesma maneira, dando-se um “jeitinho” – protegidos de autoridades passam à frente de centenas de pessoas necessitadas que aguardam ansiosamente um leito no hospital durante meses ou, às vezes, anos de espera na fila. O “jeitinho” brasileiro não tem sido eficaz para melhorar o atendimento ao público nas instituições. Jornalistas e advogados que conhecem o dia a dia nas delegacias estão cansados de ver infratores da lei ser beneficiados por autoridades policiais (delegados, investigadores) porque ou têm dinheiro para dar um “jeitinho” e escapar dos processos e das punições ou são pessoas das classes média e alta, para as quais o sistema penitenciário não funciona. O resultado é que as prisões brasileiras estão superlotadas, mas cerca de 90% dos presos no Estado de São Paulo, segundo dados do próprio governo, são pessoas pertencentes às camadas mais pobres da população – negros, desempregados, prostitutas. É como se só eles fossem delinquentes em um país em que os chamados “crimes do colarinho branco” – desvio ou roubo de dinheiro público, sonegação de impostos, corrupção, praticados por altos executivos e autoridades públicas – ocorrem com frequência e prejudicam a população inteira. E o que é pior: ficam sem punição na maior parte dos casos.

O “JEITINHO” COMO QUEBRA-GALHO

Independentemente da situação, o “jeitinho” se manifesta como uma solução harmoniosa, satisfatória naquele momento, muitas vezes ignorando a gravidade do problema que precisa ser solucionado. O fato de convivermos com várias instituições que normalmente não funcionam leva-nos a não atribuir responsabilidades e, portanto, achar que não existem soluções para os problemas. Acabamos tolerando das faltas alheias, talvez na esperança de que as nossas também sejam aceitas. Assim, procuramos sempre um “jeitinho” para transformar as situações difíceis, fazendo prevalecer em nosso cotidiano a ideia de que elas são agradáveis e prazerosas. O negócio é facilitar, afinal “ninguém é de ferro”. Com essa postura, busca-se justificar desde o estacionamento de carro em fila dupla, ou na calçada, até a sutil “furada de fila” num banco, encarregando um amigo, já na fila, de pagar a nossa conta. Dessa forma, burlam-se normas, leis e códigos de comportamento fundamentais para organizar a convivência social. Burlamos com o tal “jeitinho” sempre que temos um “bom argumento” para convencer o professor do não-cumprimento do prazo na entrega de tarefas. O coordenador de escola tem sempre um vídeo “interessante” para os alunos assistirem, quando algum professor falta. O presidente da República sempre cria uma Medida Provisória para as emergências etc. Independentemente da situação, o “jeitinho” se manifesta como uma solução harmoniosa, satisfatória naquele momento, muitas vezes ignorando a gravidade do problema que precisa ser solucionado.

VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?

Enquanto, por um lado, o “jeitinho” parece colocar a todos num mesmo saco, por outro lado, a frase “você sabe com quem está falando?” nos remete a uma realidade em que somos diferenciados, a maioria das vezes, pelo poder político ou “tamanho” da conta bancária, por exemplo. Deixamos de ser cidadãos sujeitos a mesmo conjunto de leis para nos tornarmos “pessoas” que podem, ou não, se submeter a essas leis. O Estado tem função de organizar e realizar os interesses de todos os segmentos sociais. Através de seus órgãos públicos (Congresso, Senado, Supremo Tribunal, Forças Armadas etc.), cria projetos e leis, executando-os e também julgando as ações públicas (governamentais) e privadas (de grupos ou pessoas). No entanto, o que observamos é a ausência de medidas que contemplem a maioria da população: os menos favorecidos. Como por exemplo, basta lembrar o descaso em relação ao salário mínimo. É sabido que o seu valor, estipulado por lei, não supre as necessidades básicas do trabalhador (saúde, educação, lazer, moradia etc.). De fato, o que pode fazer um trabalhador, com mulher e filhos, ganhando o salário mínimo legal vigente? Neste caso, o “jeitinho” brasileiro pouco pode ajudar ou não ajuda em nada, pois não paga o aluguel, não compra alimentos e remédios, não alfabetiza... Uma parcela da população, porém, a minoria privilegiada, procura estabelecer relações de parceria com Estado. Usineiros, empreiteiros, proprietários de emissoras de rádio, televisão e jornais elegem seus representantes, inclusive com apoio financeiro. Dessa forma, influenciam nas decisões de âmbito público, fazendo valer seus interesses privados. Cabe ressaltar aqui que a defesa de interesses faz parte do jogo político que define os rumos da nação. O que se questiona, entretanto, é a utilização do poder econômico para manter as disparidades sociais que o Estado deveria minimizar.

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