O Dinheiro, Poder e Sexo
Por: biel12345678 • 30/8/2021 • Artigo • 5.628 Palavras (23 Páginas) • 152 Visualizações
Dinheiro, poder e sexo*
Viviana A. Zelizer**
Resumo
A crença generalizada de que o dinheiro corrompe a intimidade
bloqueia nossa capacidade de descrever e explicar como dinheiro,
poder, e sexo, de fato, interagem. A crença oposta – de que o
sexo funciona como uma mercadoria como qualquer outra – não
é melhor para ajudar descrições e explicações. A intersecção de
sexo, dinheiro e poder, de fato, gera confusão e conflito, mas isso
ocorre precisamente porque os participantes estão
simultaneamente negociando relações interpessoais delicadas e
responsáveis e marcando diferenças entre essas relações e outras
com as quais elas poderiam ser fácil e perigosamente confundidas.
Na vida cotidiana, as pessoas lidam com essas dificuldades com
um conjunto de práticas que poderíamos chamar de “Boas
Combinações”.
Palavras-chave: Gênero; Relações Interpessoais; Dinheiro; Sexo;
Intimidade.
* Recebido para publicação em abril de 2009, aceito em maio de 2009.
Publicado originalmente na Yale Journal of Law and Feminism (18), 2006. Este
texto adapta algumas passagens de V.A. Zelizer, The Purchase of Intimacy (2005)
e de The Purchase of Intimacy, Law & Social Inquiry 817 (2000). Sou grata por
comentários e críticas a Charles Tilly e aos participantes do Simpósio Sex for
Sale, na Yale Law School em 2006.
** Professora de Sociologia, Universidade de Princeton. vzelizer@princeton.edu
Dinheiro, poder e sexo
136
Money, Power, and Sex
Abstract
Widespread beliefs that money corrupts intimacy block our ability
to describe and explain how money, power, and sex actually
interact. The opposite belief – that sex operates like an ordinary
market commodity – serves description and explanation no better.
The intersection of sex, money, and power, does indeed generate
confusion and conflict, but that is precisely because participants
are simultaneously negotiating delicate, consequential,
interpersonal relations and marking differences between those
relations and others with which they could easily and dangerously
be confused. In everyday social life, people deal with these
difficulties by relying on a set of practices we can call good
matches.
Key Words: Gender; Interpersonal Relations; Money; Sex;
Intimacy.
Viviana Zelizer
137
No final dos anos 1990, John Bowe, Marisa Bowe, Sabin
Streeter, e seus colaboradores, entrevistaram os norte-americanos
a respeito de seu trabalho. Seguindo o modelo de Studs Terkel,
seu livro, Gig: Americans Talk About Their Jobs (Bico: os
americanos falam de seus empregos), relata como as pessoas
numa ampla gama de ocupações sentem-se a respeito do que
fazem para ganhar a vida. Entre elas está a stripper Sara Maxwell.
Com 22 anos Maxwell mudou-se para San Francisco, depois de se
formar numa pequena faculdade da Virginia, e dançava tirando a
roupa para homens num clube chamado Lusty Lady. A parte mais
lucrativa de seu trabalho consistia em apresentações eróticas, sem
contato físico, num cubículo ocupado por um homem de cada
vez. Maxwell observou como a sua experiência de trabalho
afetava suas relações com os homens em geral:
Cada cara que eu via caminhando na rua tornava-se um
cliente aos meus olhos. Até meu namorado mostrava as
qualidades de um cliente. Ele dizia algo como “Você precisa
escovar os cabelos” e eu ouvia algo como “Escove os
cabelos para mim”. Na minha cabeça, estava implícito que
ele queria se divertir. E, claro, ele também queria sexo, o
que o punha mais ainda no papel de cliente (John Bowe,
Marisa Bowe e Sabin Streeter, 2000:368).
Do mesmo modo, quando algum de seus amigos homens,
intrigados pela sua ocupação, expressava um interesse em vê-la
trabalhando: “Eu dizia a eles que, se os visse lá, nós não
poderíamos mais ser bons amigos, porque eles se tornariam
clientes” (Id. ib.). Para Maxwell, a ponte do trabalho com sexo para
relações íntimas passava sobre um riacho muito pedregoso. De
um lado, ela fazia apresentações sexuais por dinheiro, de outro,
tentava manter qualquer sugestão de pagamento comercial fora
de suas relações sexuais.
Na época em que os autores de Gig
...