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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

Por:   •  17/2/2019  •  Ensaio  •  1.358 Palavras (6 Páginas)  •  104 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

DOUTORADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO - TURMA 2013

Disciplina: Teorias Organizacionais: Estudos Avançados

Professora: Maria Ceci Misoczky

Aluna: Almog Griner

Miniensaio Aula 15 - A filosofia latino-americana

E se somos Severinos[pic 1]

iguais em tudo na vida,   

morremos de morte igual,   

mesma morte severina.

(João Cabral de Melo Neto)

Seca sem chuva é ruim,

mas seca d’água é pior

(Patativa do Assaré)

Em um quadro histórico e contínuo, a região Nordeste do Brasil tem sido vítima dos efeitos prolongados de estiagens, com sérias consequências para a sua população. A sensação da população é de quase abandono, descaso, inação por parte dos governos federal e estaduais. O apoio governamental é mínimo e paliativo, consiste em manter vivas e controladas as populações, com medidas eleitoreiras. As causas, bastante conhecidas, carecem de políticas públicas consistentes, bem estruturadas e intencionadas para o enfrentamento da questão. O bom aproveitamento dos escassos recursos hídricos é a condição indispensável, embora insuficiente, à superação da situação. Medidas de desenvolvimento da sociedade em que crescimento econômico pode conviver com equidade social não atinge esta parcela da população. Trata-se de um velho desafio: o desenvolvimento versus a exploração. Nesta visão, a noção de desenvolvimento, por muito tempo identificado ao progresso econômico, extrapola o domínio da economia através da sua integração com as dimensões social, ambiental e institucional precisando se apoiar em paradigmas, verdadeiramente, mais humanos.

Nesse contexto de desigualdades, a Filosofia da Libertação trabalhada por Dussel (2002 apud DORNELAS[1]), fornece um arcabouço teórico importante para se analisar a estagnação e (re)produção da pobreza desde as particularidades do sistema capitalista na América Latina. Apropriando-me da proposta de Dussel (2002), de que o poder da América Latina dar-se-ia a partir da criação de uma filosofia própria - na negação à ideia de eurocentrismo e de redução que daria voz ao excluídos -, creio que a voz latino-americana que deve ecoar perante o mundo, pode se fazer espelhar na voz do nordestino algemado à perversidade da indústria da seca. Nesse sentido, desfazer-se da visão etnocêntrica que só considera como aceitável os padrões de comportamento da cultura dominante, os que mantêm continuamente a discriminação e a exclusão.

Em “20 teses de política”, Dussel (2007) explica que para se fazer destoar o poder político da comunidade como potentia (poder do povo), é preciso que a população atenda a três aspectos: (i) “vontade-de-viver”, (ii) “consenso racional” e (iii) “factibilidade do poder”. Considerando essa perspectiva dusseliana de poder, o presente ensaio busca refletir acerca da população vítima da seca que atinge o nordeste brasileiro. Para tanto, pretende-se repensar a situação deste povo excluído, buscando analisar o que os perpetua há tantos anos sob tais condições.

Em consonância com o filósofo, é importante compreender que o poder é inerente ao ser humano. O poder (em seu sentido positivo) - diferente da concepção de poder político como dominação - consiste em  “empunhar, usar, cumprir os meios para a sobrevivência” (DUSSEL, 2007, p.26). Em sua composição, o poder pelo viés do “querer-viver” se adequa claramente a população atingida pela seca, considerando-se que a “vontade-de-vida é a tendência originária de todos os seres humanos” (p. 25). O desejo de viver, enquanto essência positiva, conteúdo de força e potência que pode mover e arrastar, seria o primeiro impulso aos movimentos sociais em busca de mudança.

O “consenso racional”, pontuado por Dussel (2007) como segundo aspecto, consiste no consenso entre objetivos, propósitos e fins comuns que entoam a unicidade da voz e possibilitam o alcance do “grito” em maior escala e potência. Na ausência da consonância infiltram-se os interesses oportunistas, múltiplos e contrapostos, de modo que a vontade de um anula a vontade do outro. A “vontade-de-viver-comum” também pode ser vislumbrada nos homens da seca, o descaso com a questão da água que não chega à população é, nesse caso, consenso a todos. Contudo, como coloca Dussel (2007, p.27), “deve ser um acordo de todos os paticipantes, como sujeitos, livres, autônomos, racionais, com igual capacidade de intervenção retórica, para que a solidez da união das vontades tenha consistência”. Ou seja, é necessário que haja um “poder comunicativo” livre do paternalismo e favoritismo tão arraigado na cultura nordestina. Ao povo da seca ainda falta um discurso mobilizador desprendido dos interesses individuais que o permita falar e ser de fato escutado, numa voz única em que o coletivo se sobreponha ao individual.

O terceiro aspecto abordado por Dussel (2007, p. 28) seria, portanto, a “factibilidade do poder”. Para se apropriar da “faculdade do poder, a comunidade deve poder usar mediações, técnico-instrumentais ou estratégicas, que permitam empiricamente exercer a tal vontade-de-viver do consenso comunitário”. É essa iniciativa, para exercer o poder, que falta aos cidadãos da seca. As mazelas do poder dominante que operam sobre a população da seca não se limitam somente a má utilização dos mananciais de água, trata-se, afinal, de não permitir à população o acesso à instrução necessária para adquirir um letramento político, assim para que não possam abrir mão da submissão e da sensação da dependência daqueles que devem mas não lhes querem ouvir.

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