A Corrupção no Brasil
Por: Hivis • 11/11/2015 • Pesquisas Acadêmicas • 1.950 Palavras (8 Páginas) • 134 Visualizações
CORRUPÇÃO NO BRASIL
A corrupção no Brasil nasce no seio da sociedade (embora, deva-se fugir do jargão de que somos um país corrupto) e torna-se um monstro dentro do serviço público que, como um verme é alimentada todos os dias nas cortes que produzem as regras para o jogo maldito do poder e dos favores.
Não são poucos os artigos, crônicas e mesmo músicas que cantam e mostram uma corrupção que já não é mais um simples embrião: ela está na atitude de grande parte de uma população que, sendo em benefício próprio, estará sempre pronta pra absorvê-la.
Ela transcende o horizonte dos lares: está na burla da fila do mercado, do hospital, dos bancos.
A corrupção está no jargão politico do “rouba, mas faz” que tem inicio da geração de Adhemar de Barros em São Paulo (1901- 1969), chegando a Paulo Maluf.
O “rouba, mas faz” tem aplicação moderna: rouba, mas distribui; rouba, mas faz o social; rouba, mas distribui aos órgãos governamentais, claro, dos amigos. Essa forma de corrupção caminha a passos largos
O artigo de Eugênio Bucci – ex-integrante do governo do PT - publicado dia 19 deste pela Revista Época (copiado abaixo) – descreve a prática atual do modo empírico desenvolvido por Adhemar. O próprio povo absorveu, à época, o pior sentimento desse jargão medonho. Afinal, se faz, pode-se roubar: o método sofreu atualizações ao longo das décadas.
Eugênio Bucci - Época
O bordão “rouba, mas faz” entrou para o folclore político brasileiro na década de 50 do século passado. Os cabos eleitorais do político paulista Adhemar de Barros (1901-1969) o repetiam para neutralizar os adversários, que o acusavam de ser ladrão. Em vez de negar as acusações, os adhemaristas afirmavam que Adhemar eram um fazedor, que construía isso e mais aquilo. Se roubava? Ora, isso era o de menos. O argumento era esdrúxulo, mas funcionava com uma boa parte do eleitorado, que também não ligava para aquele “detalhe” de roubar.
Mas não era detalhe. Naquele tempo, a corrupção não era mixaria. Ainda bem que, hoje, o adhemarismo é um capítulo encerrado.
Ou será que foi ressuscitado? De uns tempos para cá, um argumento muito semelhante começa a fazer escola em debates sobre a situação nacional. Aqui e ali, os defensores de certos governos ligados a certos atos ilícitos se especializaram em listar as chamadas “conquistas sociais” supostamente promovidas por seus ídolos, como se cada uma delas servisse de atenuante para o tal “problema” de corrupção. Eles até reconhecem que a bandeira da ética está em frangalhos em suas fileiras, mas acham que as “conquistas sociais” compensam o vexame. Argumentam com tanta convicção que fazem lembrar os velhos adhemaristas. Reeditam o velho bordão, agora com novo formato: “rouba, mas faz obra social”. Eles efetivamente pensam isso, mas não têm coragem de admitir.
Nos anos 1950, o “rouba, mas faz” era combatido pelos udenistas com uma pregação moralista, histérica e metida a redentora. Era patético, mas dava resultados eleitorais. Fora isso, a pregação moralista era inócua, pois a distorção do “rouba, mas faz” não era de natureza moral. Claro que a corrupção sempre foi imoral, ultrajante e indecorosa, mas sua natureza era política – e é por aí que ela devia ser compreendida e combatida. Politicamente.
Hoje também é assim. Quando alguém aceita o bordão neoadhemarista “rouba, mas faz obra social”, aceita junto a premissa sobre a qual ele se apoia. Essa premissa é a crença de que, na política, a ética é um departamento separado dos outros campos, mais ou menos como, numa empreiteira, o setor de contabilidade é separado do setor de engenharia. Esse engano gravíssimo, embora bastante comum, estava na base do adhemarismo ontem e está na base do neoadhemarismo hoje.
Por que um engano gravíssimo? Muito simples. Nas democracias, a política tece um pacto de confiança entre governantes e governados, sem o qual não há estabilidade institucional. Ao trair a confiança do eleitor, o político assume o risco de romper os laços que dão coesão a essa estabilidade. Às vezes, os laços rompidos são poucos, e as coisas seguem sua rotina sem maiores abalos. Outras vezes, são laços mais profundos, mais estruturantes, e, aí, vêm as crises. Podem ser crises de governabilidade, uma das que o Brasil enfrenta hoje, e podem ser crises mais sérias.
Aí você pergunta: mas a crise de governabilidade do Brasil é resultante da corrupção? Em grande parte é, sim. É resultante da percepção generalizada de que houve muito desvio de conduta e muita mentira para acobertá-lo. O preço que pagamos pelacorrupção não se resume a um caixa de bilhões de reais afanados por uns e outros. Se fosse só isso, seria fácil. O preço inclui a respeitabilidade das autoridades, o esvaziamento da capacidade de liderança dos governantes. Se um governo perde o respeito da sociedade, perde a condição de ser governo.
Não é só. Ao drenar os recursos do Estado – recursos humanos, principalmente –, a corrupção sabota a implementação das políticas públicas e, em especial, daquelas concebidas para combater a pobreza e a desigualdade social, que ficam especialmente desmoralizadas. Quem deixa roubar não combate a desigualdade coisa nenhuma, apenas contribui para perpetuá-la, pois vira serviçal do dinheiro sujo, o pior capital que existe, e vira refém das forças mais retrógradas que hoje atuam no Brasil.
Não é com moralismo vulgar que o Brasil vai superar esse mal. A propósito, fuja dos novos moralistas (neoudenistas), que dizem que todos os ladrões de dinheiro público são filiados ao PT. Isso é mentira, é cinismo. Ao mesmo tempo, cuidado com os que tentam posar de vítimas e se esconder atrás de velha mentalidade adaptada aos novos tempos: “Rouba, mas faz obra social”. Outra mentira. Quem rouba faz uma coisa só, e essa coisa é roubar. Cuidado com uns e cuidado com outros.
No mais, façamos figa. A corrupção derrubou o valor de mercado e a credibilidade da Petrobras. Que ela não derrube agora o ânimo do país inteiro.
No século XXVI, os funcionários públicos destacados para conter o contrabando na colônia Brasil, a partir de ordenamentos do Corte Portuguesa, eram os próprios corruptos: contrabandeavam do pau-brasil ao diamante.
Portugal, preocupado que estava com a aristocracia daquele país, também vivia da corrupção: enquanto alimentava a corrupção interna,
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