A Dialetica em Hegel e Marx
Por: abmael01 • 19/5/2021 • Abstract • 4.482 Palavras (18 Páginas) • 238 Visualizações
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Dialética e Ontologia em Hegel e Marx
Artur Bispo dos Santos Neto*
Resumo: O presente artigo tem seu ponto de partida na apresentação das categorias como determinações da existência e de que maneira a categoria da contradição desempenha um papel fundamental no processo de constituição da processualidade dialética. Feito isso, passamos a elucidação da relação de semelhança e diferenciação existente no movimento de constituição elementar da dialética marxiana em relação à dialética hegeliana mediante a descrição da relação estabelecida entre ontologia e gnosiologia, entre as determinações da realidade e as determinações escritas no âmbito da lógica.
Palavras-chave: Categorias; Contradição; Diferenciação; Gnosiologia.
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* ARTUR BISPO DOS SANTOS NETO é Professor de Filosofia da Universidade Federal de Alagoas, lecionando as disciplinas: Trabalho e sociabilidade, Tópicos sobre o pensamento marxista contemporâneo, Filosofia contemporânea. Participa do núcleo de pesquisa Trabalho e Reprodução social.[pic 4]
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A dialética é mais do que um método de investigação da realidade em Hegel e Marx. Ela não é um mero recurso discursivo de exposição da investigação das coisas, porque é imanente ao próprio movimento objetivo e subjetivo das coisas. A dialética não é uma imposição externa do filósofo à realidade, mas é o próprio movimento efetivo do real. O movimento imanente das coisas revela seu caráter eminentemente dinâmico e contraditório, em que os elementos opostos e as diferenciações ocupam apanágio fundamental.
A categoria da dialética tem como corolário essencial o entendimento da realidade de forma verdadeiramente fluída e paradoxal. A contradição é uma das peças elementares para o entendimento do processo de investigação dialética. É fundamental entendermos que as categorias não brotam prontas da cabeça do filósofo como a deusa Palas Atena. Elas têm uma natureza essencialmente ontológica, pois são formas moventes e movidas da realidade. As categorias são determinações da existência objetiva das coisas, são formas expressivas do ser. E são tanto dadas no cérebro quanto na realidade. É preciso “não esquecer que as categorias exprimem portanto formas de existência, condições de existência determinadas, muitas vezes simples aspectos particulares desta sociedade determinada” (MARX, 1983,
p. 224). As categorias não são
produções de um ente isolado em relação ao mundo objetivo, mas expressão de uma forma específica de conhecimento do mundo que é imanente ao próprio mundo, não possuindo nada de estranho ou transcendente ao mundo.
As abstrações da realidade têm sua gênese categorial diretamente relacionada à própria realidade objetiva. É por isso que somente podem aparecer quando as condições materiais estão amadurecidas para isso. As abstrações filosóficas não passam de formas específicas de como o pensamento se apropria do mundo. Qualquer hostilidade da consciência abstrata em relação ao real não passa de um equivoco, porque o homem é um ser social e nada do que realiza pode escapar à conexão com o universo ontológico. A existência do homem e a existência da comunidade social são confirmadas no processo de produção de todas as formas de conhecimento, enquanto reflexo da realidade.
Embora o termo contradição tenha sua gênese etimológica relacionada à palavra contradictum, do latim dictum, e signifique contradizer ou dizer o contrário, a categoria da contradição não se limita a uma mera contraposição ou a um simples contradiscurso (LUFT, 1996). O percurso dialético é imanente ao movimento da contradição como elemento categorial. Existe na contradição uma relação entre os contrários. E uma de suas características mais marcantes é que ela ganha uma dimensão positiva, à proporção que existe uma abertura para entender e suprassumir o seu oposto. É somente na relação com o seu contrário, ao contradictum, que aquilo que é afirmado encontra a sua plenitude de sentido. Assim, a oposição deixa de ser excludente para ser uma oposição correlativa, haja vista que no
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pensamento dialético os opostos podem tanto ser conciliáveis quanto podem ser irreconciliáveis. Nesse aspecto se configura a diferença substantiva entre a dialética hegeliana e a dialética marxiana.
Enquanto forma de decifração do código secreto das coisas, a dialética presume um árduo esforço para captar detalhadamente a realidade, porque esta não é uma substância estática e amorfa; pelo contrário, é dinâmica e perpassada por contradições. O movimento não está presente apenas no sujeito do processo do conhecimento, o movimento perpassa a própria estrutura do objeto, que não é[pic 9]
homogêneo, mas pautado por relações heterogêneas de
continuidades e descontinuidades, de avanços e
retrocessos. É preciso analisar as várias formas de evolução da realidade na sua totalidade concreta; em que analisar significa um avançar que representa um
physis todos os seres existentes no universo estavam perpassados pela noção de movimento, “eterno aos eternos, perecíveis aos perecíveis” (HERÁCLITO, 1973, p. 83), e que o
próprio mundo ora era de um modo e ora de outro modo, destruindo-se e alternando-se constante. E ao contrário do que dizia os eleatas, Heráclito afirma que tudo flui (panta rei), quer dizer, tudo esta sujeito à lei do devir. Para exprimir isso com mais propriedade, ele compara as coisas com o movimento de um rio que “entramos e não entramos, somos e não somos” (HERÁCLITO, 1973, p. 90).
Para Heráclito, o devir é o princípio de todas as coisas. Isto se exprime na afirmativa: “O ser é tão pouco como o não-ser: o devir é e também não é” (HERÁCLITO, 1973,
p. 99). Ele não pensa o princípio
fundamental como algo estático, mas dinâmico, é por isso que a água ou o ar
retroceder na
perspectiva da
Heráclito de Éfeso, (Éfeso, aprox. 540 ac – 470 ac)
não podem ser considerados como
elucidação e do esclarecimento dos seus fundamentos.
O primeiro a tratar da dialética como uma categoria pautada na noção de movimento e dinamismo foi Heráclito de Éfeso.1 Para este ilustre pensador da
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