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As Veias Abertas da América Latina

Por:   •  26/10/2023  •  Abstract  •  1.724 Palavras (7 Páginas)  •  84 Visualizações

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"Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um que alguns países especializam-se em ganhar, e outro que se especializaram em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta." P-13

"Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados a países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais que a América Latina ganha produzindo-os". P-13

""Um país - dizia - é possuído e dominado pelo capital que nele se tenha investido." E tinha razão. Na caminhada, até perdemos o direito de chamarmos-nos americanos…" p-13

"Agora, a América é, para o mundo, nada mais que os Estados Unidos: nós habitamos, no máximo, numa sub-América, numa América de segunda classe, de nebulosa identificação" p-14

"Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória alheia, nossa riqueza gerou sempre a nossa pobreza para alimentar a prosperidade dos outros: os impérios e seus agentes nativos. Na alquimia colonial e neo-colonial, o ouro se transforma em sucata e os alimentos se convertem em veneno." P-14

"Em meados do século passado (século 19, se considerar que o livro é de 1980), o nível de vida dos países ricos do mundo excedia em 50% o nível dos países pobres. O desenvolvimento desenvolve a desigualdade: …" p-15

"Incorporadas desde sempre a constelação do poder imperialista, nossas classes dominantes não tem o menor interesse em averiguar se o patriotismo poderia ser mais rentável que a traição ou se a mendicância é a única forma possível de política internacional." P-15

"A América Latina produz, hoje em dia, em relação a sua população, menos alimentos que antes da última guerra mundial e suas exportações per capita diminuíram três vezes, a preços constantes, desde a véspera da crise de 1929." P-16

"Novas fábricas se instalam nos pólos privilegiados de desenvolvimento - São Paulo, Buenos Aires, a cidade do México - porém reduz-se cada vez mais o número de mão de obra exigido. O sistema não previu essa pequena chateação: o que sobra é gente. E gente se reproduz." P-16

"As missões norte-americanas esterilizam maciçamente mulheres e semeiam pílulas, diafragmas, DIUs, preservativos e almanaques marcados, mas colhem crianças; obstinada mente, as crianças latino-americanos continuam nascendo, reivindicando seu direito natural de obter um lugar ao sol, nestas terras esplêndidas, que poderiam dar a todos o que a quase todos negam." P-16

Basicamente, culpam a explosão demográfica como maior obstáculo para o progresso da América Latina. Foi anunciado que o Banco Mundial, na época, dava prioridade aos países com planos de controle de natalidade para os empréstimos. No livro diz que Robert McNamara, presidente do Banco Mundial entre 1961 e 69, “comprova, com pesar, que o cérebro dos pobres pensa cerca de 25% a menos”, e os tecnocratas do Branco geram complicadíssimas teses sobre as vantagens de não nascer. Os EUA se importavam mais que ninguém em difundir e impor em todo o mundo a planificação familiar, apesar de não sofrerem problemas de explosão demográfica em suas próprias fronteiras.

O SIGNO DA CRUZ NOS CABOS DAS ESPADAS

Por muito tempo, a América continuou sem um nome próprio. Seus “descobridores” acreditaram piamente que haviam chegado à Ásia pela rota do oeste. Colombo acreditava que as Bahamas eram na verdade a fabulosa ilha de Cipango - Japão. Tinha um exemplar do livro de Marco Polo, onde dizia que “seus habitantes possuem ouro em enorme abundância, e as minas onde o encontram não se esgotam jamais…”

O interesse nas Índias se dava não apenas por suas descritas riquezas em ouro e pérolas, mas também suas especiarias. Eram tão cobiçadas quanto o sal, para conservar a carne no inverno sem que perdesse o sabor. Os Reis Católicos passaram a custear as cruzadas para que tivessem acesso direto da fonte, sem precisar depender de terceiros e também baratear a obtenção.  Mas não encontraram as Índias, e sim esbarraram na Mina de ouro chamada América, iniciando assim uma história de exploração e matança, hipocritamente justificada pelos povos europeus,  para os povos nativos de nossa terra.

“A epopéia dos espanhóis e portugueses na América combinou a propagação da fé cristã com a usurpação e o saqueio das riquezas nativas. O poder europeu estendia-se para abarcar o mundo. As terras virgens, densas de selvas e perigos, inflamavam a cobiça dos capitães, dos cavaleiros fidalgos e dos soldados em trapos, lançados à conquista dos espetaculares despojos de guerra: acreditavam na glória, “o sol dos mortos”, e na chave para alcançá-la, que Cortez assim definia: “Aos ousados ajuda a Fortuna.” “ P-26

OS DEUSES RETORNAM COM AS ARMAS SECRETAS / “COMO PORCOS FAMINTOS ANSEIAM PELO OURO”

“A América estava ali, se mostrava por suas costas infinitas; a conquista estendeu-se, como uma maré furiosa, em ondas sucessivas. Os governadores sucediam os almirantes e as tripulações convertiam-se em hostes invasoras.” P-27

“Havia de tudo entre os indígenas da América: astrônomos e canibais, engenheiros e selvagens da Idade da Pedra. Mas nenhuma das culturas nativas conhecia o ferro, nem o arado, nem o vidro e a pólvora, nem empregava a roda, a não ser em pequenos carrinhos.” P-28

“O desnível de desenvolvimento de ambos os mundos explicava a relativa facilidade com que sucumbiram as civilizações nativas.”   P-28

Desconhecendo a tecnologia disponível para os europeus na época, muitos povos acreditavam que eles eram seus deuses descendo a terra, regressando para saldar as contas com seus povos. Não à toa é mostrado no filme “O Caminho para Eldorado” (2000), os nativos venerando os protagonistas como deuses, e mais tarde o explorador Herman Cortes - personagem baseado no verdadeiro explorador espanhol Fernão Cortez.

E não apenas tecnologias desconhecidas os europeus traziam, mas doenças. As bactérias e os vírus foram os aliados mais eficazes. A varíola, o tétano, várias doenças pulmonares, intestinais e venéreas, o tracoma, o tifo, a lepra, a febre amarela e afins. Os índios morriam aos montes, com nenhuma resistência contra as novas doenças.

Os exploradores se deleitavam na matança e no assalto. Incendiavam casas e templos, roubavam o ouro e o transformavam em barras. Recebiam  presentes de paz, mas a ignoravam. Pediam resgates pelos líderes e ainda assim os matavam.

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