Crónica Sobre o Coronavirus
Por: André Duarte • 11/5/2020 • Trabalho acadêmico • 796 Palavras (4 Páginas) • 151 Visualizações
Estranhos dias
Hoje li um daqueles artigos que, supostamente, têm a função de tentar romantizar esta pandemia que o nosso país e mundo estão a enfrentar. Estes textos que se tornam virais nas redes sociais e que juntam “coronavírus” e “gratidão” na mesma frase. Sinceramente, não consigo perceber como pode caber na cabeça de alguém achar que podemos estar gratos por uma pandemia que já causou milhares de mortes no mundo todo, e que nos obriga a medidas de isolamento extremas.
O que estamos a viver não é uma experiência de amor e nem o mundo está a pôr tudo no lugar. O que estamos a viver é uma guerra sem armas na qual milhares de combatentes já perderam a vida e outros milhares estão feridos. Ninguém precisa de um vírus relativamente letal para aprender a amar seja o que for. Esta experiência, que nos é oferecida pela infeção por covid-19, é uma experiência de medo para uma esmagadora parte da nossa sociedade. Neste momento, estão milhares de pessoas a sofrer uma terrível e angustiante ansiedade. O mundo não está a meter nada no lugar, quando em Itália são tantos os mortos que até têm de ser recolhidos por camiões do exército. Esta é a triste realidade que enfrentamos. E sim, a poluição atmosférica diminuiu, mas a que custo?
Quem pensa no conforto das suas casas que o coronavírus está a purificar mundo, será que se lembra dos profissionais de saúde que têm de fazer turnos de mais de 12 horas e que só podem descansar no fim dos mesmos? Profissionais de saúde que não vão nem dormir a casa com medo de contaminar a família, e que se apresentam todos os dias nos hospitais e nos centros de saúde a caminho de salvar as vidas das pessoas infetadas.
Pessoalmente, enquanto observo as ruas vazias através da minha varanda, e quando vejo as notícias na televisão, e quando vejo que o número de mortos e infetados não para de crescer no mundo todo, eu penso e repenso no que poderá estar ainda por vir. Mesmo não percebendo muito de economia, eu tenho medo pelo número de pessoas que irão ficar desempregadas, tenho medo pelos pequenos empresários que não irão conseguir prosseguir com o seu negócio, e tenho medo pelos imigrantes que terão de voltar para os seus países por falta de condições. Mas mesmo assim, há pessoas que acham que esta pandemia chegou de facto para o bem de todos nós.
Neste momento, eu deposito todas as minhas esperanças nestes nossos heróis, os profissionais de saúde, que cuidam dos nossos doentes, mas principalmente na ciência, porque só ela nos pode dar soluções para este maldito surto, e soluções para acabar com estes estranhos dias que estamos a ser obrigados a viver. Todos os dias estão a ser testados novos tipos de medicamentos, e certamente um grupo muito vasto de cientistas encontra-se neste preciso momento a trabalhar para chegar à tão desejada vacina.
Eu tenho passado estes dias com medo, medo não só por mim e pelos meus, mas pelo mundo todo, no qual novos países são infetados todos os dias, no qual o número de infetados e mortos se encontra continuadamente a crescer. A realidade é que em tempos estranhos como estes, as pessoas têm uma maior tendência para demonstrar solidariedade, e é verdade que aumentam os gestos bonitos… Mas teria sido ótimo que esses atos de bondade não existissem à custa de um vírus que já pôs termo à vida de quase 60 mil pessoas.
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