GESTÃO AMBIENTAL EM AGROINDÚSTRIA FAMILIAR DE CONSERVAS ALIMENTÍCIAS: DESAFIOS E POTENCIALIDADES
Por: Alexander Schoeninger • 7/8/2018 • Artigo • 6.457 Palavras (26 Páginas) • 297 Visualizações
GESTÃO AMBIENTAL EM AGROINDÚSTRIA FAMILIAR DE CONSERVAS ALIMENTÍCIAS: DESAFIOS E POTENCIALIDADES [pic 1]
Alexander André Schoeninger
08/06/2018 – Curso de Administração da UNISC
RESUMO
A presente pesquisa constitui-se no diagnóstico socioambiental de uma agroindústria familiar de conservas vegetais situada no município de Santa Cruz do Sul, objetivando desenvolver uma proposta de gestão ambiental para a empresa, bem como a promoção de uma maior inserção no Arranjo Produtivo Local (APL) das Agroindústrias Familiares do Vale do Rio Pardo. O diagnóstico realizado proporcionou conhecer os impactos sociais, culturais, ambientais e econômicos gerados pela produção, processamento e comercialização das conservas; a geração de resíduos e seus impactos no ambiente, as formas como os mesmos podem ser minimizados; além disso oportunizou o desenvolvimento de estratégias para o aumento na eficiência do empreendimento, especialmente por meio de desenvolvimento de um plano de gestão socioambiental. A metodologia adotada para atingir os objetivos da pesquisa é caracterizada como exploratória e de caráter qualitativo, a qual oferece as ferramentas necessárias à análise conclusiva. Segundo o procedimento técnico, a pesquisa trata-se de um estudo de caso; as técnicas de coleta de dados foram (i) observação participante, uma vez que o autor é um dos proprietários/colaboradores do empreendimento, e (ii) entrevistas com os demais proprietários. O trabalho parte da construção de um referencial teórico que proporciona uma visão geral da relação natureza-sociedade-empresas, buscando discutir as formas como a sociedade de consumo interfere nos sistemas de sustentação da vida, bem como as possíveis estratégias a serem adotadas na busca por um modelo de produção sustentável. Ao final da pesquisa foi possível constatar que a organização pesquisada contribui para um ambiente colaborativo e sustentável na região, porém ainda há muito em que avançar, principalmente por meio de melhorias nas práticas socioambientais e da cooperação entre empresas, com a sustentação de uma rede de agroindústrias e de agricultores, organizados através do Arranjo Produtivo Local.
Palavras-chave: gestão socioambiental; agroindústria familiar; desenvolvimento sustentável.
1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que a relação entre o crescimento econômico e a conservação do meio ambiente apresenta conflitos, desde tempos remotos. Ocorre que apenas recentemente, basicamente durante o século XX e XXI, esses conflitos atingiram dimensões que podem pôr em risco a existência/permanência da vida na terra.
Deste modo, as agendas governamentais e de estado passaram a englobar demandas no campo da sustentabilidade do desenvolvimento sustentável. Segundo Reinaldo Dias (2015) sustentabilidade é um termo usado para definir ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades atuais dos seres humanos, sem comprometer o futuro das próximas gerações. Já desenvolvimento sustentável é formado por um conjunto de ideias, estratégias e demais atitudes ecologicamente corretas, economicamente viáveis, socialmente justas e culturalmente diversas.
A sustentabilidade serve como alternativa para garantir a sobrevivência dos recursos naturais do planeta, ao mesmo tempo que permite aos seres humanos e sociedades soluções ecológicas de desenvolvimento. O grande desafio do desenvolvimento sustentável deve ser enfrentado por políticas inteligentes (CAVALCANTI, 2001). Estas políticas inteligentes são baseadas em princípios que considerem a identidade cultural, o envolvimento social, a redução de resíduos e outros poluentes, a verificação das práticas socioambientais, a redução de custos e o aumento do valor do produto, assim como a cooperação entre empresas do mesmo setor e das organizações de toda a região.
A agroindústria familiar Conservas 10, da qual faço parte, do ponto de vista global e ambiental, apresenta aspectos de fundamental importância neste contexto: participa de uma economia de empresas familiares de pequeno porte, voltada para os benefícios comuns, baseada nas relações e na cultura local, fomentando a economia regional. As agroindústrias familiares somam-se às contra-forças territoriais (forças centrípetas, segundo Milton Santos, 2004), horizontalizadoras e descentralizadoras, distributivas de renda e engajadas nos processos reais de desenvolvimento.
Diante deste panorama, pensar em como estas empresas se relacionam com as sociedades e o meio ambiente do ponto de vista da sustentabilidade, trata-se de uma demanda bastante lógica: empresas assentadas na busca pela superação da lógica do capital, podem e devem procurar minimizar seus impactos negativos no ambiente.
2 O DESAFIO AMBIENTAL E AS MICROEMPRESAS
As organizações com as quais (con)vivemos atualmente, e durante toda a história humana, são fruto da interação destes seres com o ambiente. A racionalidade humana é uma benção incomparável, mas sobre a qual ainda temos muito a conhecer.
Segundo Gonçalves (2013) quando falamos que a problemática ambiental é, sobretudo, uma questão de ordem ética, filosófica e política, estamos desviando de um caminho fácil que tem nos oferecido: que devemos nos debruçar sobre soluções práticas, técnicas, para resolver os graves problemas de poluição, desmatamento, erosão, dentre outros.
A natureza não possui limites territoriais, nele o mundo é apenas um “país”. Foi o período histórico de globalização neoliberal que legitimou a questão ambiental e paradoxalmente o que levou mais longe a destruição da natureza. O custo monetário dos materiais e dos alimentos não está atualmente atrelado aos seus custos reais, como o preço ambiental e social de sua produção e seu consumo.
Segundo Cavalcanti (2001) numa sociedade sustentável, o progresso deve ser aprendido pela qualidade de vida (saúde, longevidade, maturidade psicológica, educação, um meio ambiente limpo, espírito de comunidade, lazer gozado de modo inteligente e assim por diante) e não pelo puro consumo material.
O conceito de economia ou região sustentável assenta-se em cinco dimensões, segundo APL Vale do Rio Pardo (2016): i) na Econômica, me que a realização do potencial econômico se dá simultaneamente com a distribuição da riqueza e com a redução de externalidades socioambientais negativas; II) na Social, com a busca da equidade de riquezas e de oportunidades, através do combate à exclusão, à discriminação, à reprodução da pobreza e do respeito à diversidade em todas suas formas de expressão; iii) na Ambiental, com a manutenção da integridade ecológica através da prevenção da poluição, da parcimônia de utilização de recursos naturais, da preservação da biodiversidade e do respeito à capacidade de carga dos ecossistemas; iv) na Cultural, com o desenvolvimento de mecanismos de acesso à educação, aso meios de comunicação e equipamentos culturais e valorização das manifestações e práticas culturais próprias da região; e v) Política, com o desenvolvimento de mecanismos que viabilizem a participação da sociedade nas tomadas de decisões, reconhecendo e respeitando os direitos de todos, superando as práticas e políticas de exclusão e permitindo o desenvolvimento da cidadania ativa.
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