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O Individualismo e os Intelectuais

Por:   •  15/8/2021  •  Resenha  •  918 Palavras (4 Páginas)  •  162 Visualizações

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O individualismo e os intelectuais. Uma edição realizada a partir do Artigo de Émile Durkheim - L’individualisme et les intellectuels - Revuebleue, 4e série, t. X, 1898, pp. 7-13 http:// classiques.uqac.ca index.html version électronique . Por Émile Durkheim (Juillet, 1898)

(....) Há um primeiro equívoco do qual é preciso se livrar antes de tudo. Para fazer mais facilmente o processo do individualismo, ele é confundido com o utilitarismo estreito e o egoísmo utilitário de Spencer e dos economistas. É tirar proveito de uma boa oportunidade.É fácil, de fato, denunciar um ideal sem dimensão, esse mercantilismo mesquinho que reduz a sociedade a ser apenas um vasto aparelho de produção e de troca, e é evidente que qualquer vida comuna é impossível se não há interesses superiores aos interesses individuais. Concordamos que tais doutrinas sejam tratadas como anárquicas, nada que não seja merecido. Mas o que é inadmissível, é que se raciocine como se esse individualismo fosse o único que existisse ou até que fosse possível. Ao contrário, torna-se cada vez mais uma raridade e uma exceção. A filosofia prática de Spencer é de tal miséria moral que não conta com muitos partidários. Quanto aos economistas, se outrora se deixaram seduzir pela simplicidade dessa teoria, há muito sentiram a necessidade de moderar o rigor de sua ortodoxia primitiva e de abrirem-se a sentimentos mais generosos.

Mas existe um outro individualismo do qual é mais fácil triunfar. Foi professado, há um século, pela grande maioria dos pensadores: é o de Kant e de Rousseau, o dos espiritualistas, o que a Declaração dos direitos humanos tentou, de maneira mais ou menos feliz, traduzir em fórmulas, o que é ensinado habitualmente em nossas escolas e que se tornou a base de nossa catequese moral. Acredita-se atingi-lo, é verdade, encoberto pelo primeiro, mas difere profundamente deste e as críticas que se aplicam a um, não conviriam ao outro. Longe de fazer do interesse pessoal o objetivo de sua conduta, vê em tudo que é motivo pessoal a própria fonte do mal. Segundo Kant, estou certo de agir bem apenas se os motivos que me determinam estão ligados, não às circunstâncias particulares em que me encontro, mas à minha qualidade de homem in abstracto. Inversamente, minha ação é nefasta, quando pode ser justificada logicamente somente por minha situação de fortuna ou por minha condição social, por meus interesses de classe ou de casta, por minhas paixões, etc. É por isso que a conduta imoral se reconhece nesse sinal, que é o fato de estar estreitamente ligada à individualidade do agente e não pode ser generalizada sem revelar absurdidade. (...)Assim, para um e outro, as únicas maneiras morais de agir são as que podem convir a todos os homens indistintamente, ou seja, que estão implicadas na noção do homem em geral.

(.....)

Ora, tudo concorre precisamente a fazer crer que a única religião possível é essa da humanidade, cuja moral individualista constitui a expressão racional. A que, com efeito, poderia, doravante, se prender a sensibilidade coletiva? À medida que as sociedades tornam-se mais volumosas, se espalham sobre vastos territórios, as tradições e as práticas são obrigadas, para poder se dobrar à diversidade das situações e à mobilidade das circunstâncias, a manter-se em um estado de plasticidade e de inconsistência que não oferece resistência o suficiente às variações individuais. Estas, sendo bem menos conhecidas, produzem-se mais livremente e se multiplicam: ou seja, cada um segue mais seu sentido próprio. Ao mesmo tempo, conseqüência de uma divisão do trabalho mais desenvolvida, cada espírito se encontra voltado em direção a um ponto diferente do horizonte, refletindo um aspecto diferente do mundo e, portanto, o conteúdo das consciências difere de um sujeito para outro. Encaminha-se assim, pouco a pouco, em direção de um estado, que é quase atingido desde já, e em que os membros de um mesmo grupo social não terão mais nada em comum entre eles senão sua qualidade de homem, senão os atributos constitutivos da pessoa humana em geral. Portanto, essa idéia da pessoa humana é, nuançada de forma  diferente segundo a diversidade dos temperamentos nacionais, a única que se mantenha, imutável e impessoal, acima do fluxo cambiante das opiniões particulares; e os sentimentos que desperta são os únicos que se encontram praticamente em todos os corações. A comunhão dos espíritos não pode mais realizar-se sobre ritos e preconceitos definidos, já que ritos e preconceitos são levados pelo curso das coisas; assim, não resta mais nada que os homens possam amar e honrar em comum, a não ser o próprio homem. Eis de que maneira o homem se tornou um deus para o homem e porque não pode mais, sem mentir a si mesmo, estabelecer outros deuses. E como cada um de nós representa algo da humanidade, cada consciência individual tem em si algo divino, e se encontra assim marcada por um caráter que a torna sagrada e inviolável para os outros.

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