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Resenha Gestão como Doença Social

Por:   •  19/6/2015  •  Resenha  •  2.148 Palavras (9 Páginas)  •  693 Visualizações

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RESENHA
GESTÃO COMO DOENÇA SOCIAL

A gestão fundamenta-se mais sobre a eficácia da ação do que sobre a pertinência das ideias, e dado esse fato disse que esta se apresenta como pragmática dotada de vários conjuntos de normas e modelos fornecidos pro experts, estes modelos são construídos a partir de diferentes paradigmas, conjunto de crenças sobre as quais as hipóteses, teorias e métodos são elaborados.
O conceito de gestão é amplamente difundido como um conjunto de técnicas destinadas a pesquisar a melhor forma de alocar os recursos disponíveis visando à continuidade e o crescimento da empresa no mercado, dentro desta perspectiva a particularidade da gestão se encontra no fato de que não se persegue uma finalidade definida por um grupo de indivíduos ou negociada no meio de uma coletividade, mas sim imposta pelo meio externo.
Existe uma relação ambígua entre as ciências da gestão e a ideologia gerencialista. A primeira cabe descrever e analisar as modalidades de organização da ação coletiva, já a segunda se encontra ligada ao poder gerencialista para garantir a empresa. Contudo, a gestão acaba por se perverter ao favorecer uma visão de mundo na qual o humano se apresenta como um recurso a serviço da empresa em que trabalha tal quais as engrenagens de uma maquina, despojados da capacidade de intervir sobre sua própria situação. 
Inicialmente o campo de gestão era definido pela concepção física da empresa, entendida como um conjunto de mecanismos, mas ao passar dos anos novas interações e complexidades vão sendo acrescentadase assim acaba-se por definir gestão como uma disciplina multiforme, onde ao se definir em relação a uma finalidade pratica passa a se decompor em domínios especializados relativos à área em questão.
O paradigma objetivou confere a ciência gerencial certa cientificidade, ele descrede uma empresa como um universo funcional, a partir de procedimentos construídos sob o modelo experimental, dominado por uma concepção utilitarista da ação e de uma visão economista do humano. Comumente é adotado por modelo o homo econômico, por ser um individuo de comportamento raciona, confere certa comodidade aos pesquisadores que podem facilmente prever seu comportamento, aperfeiçoar suas opções e assim programar sua existência. Dentro desta perspectiva os registros afetivos, emocionais, imaginários e subjetivos são considerados como não confiáveis e não pertinente, devido ao fato de não serem mensuráveis/calculáveis, esse fato autoriza certos pesquisadores a relevarem a observação concreta da condição humana para se evadir do universo abstrato da matemática.
A analise organizacional é abordada dentro de uma perspectiva funcionalista, onde o funcionário e uma teoria que tende a ligar os fenômenos sociais as funções que eles exercem. Essa teoria, bem como as abordagens comportamentalistas para o individuo, considera a organização como um dado, um sistema, uma entidade com funcionamento “normal”, onde uma “disfunção” implica na quebra do funcionamento ideal. A abordagem funcionalista não questiona a ordem subjacente as diferentes funções existentes nomeio organizacional, não procura analisar a realidade do funcionamento do individuo e da organização, busca adapta-los melhor uma ao outro. Todo poder impõe normas, regras (tanto implícitas como explicitas) e, por conseguinte uma “ordem” a qual os agentes deve se submeter, os pesquisadores possuem como missão compreender as raízes dessa ordem, ao que se refere aos atores, estes devem compreender seus fundamentos se quiserem discutir sua pertinência e determinar sua conduta com conhecimento de causa.
Seguindo o paradigma utilitarista, cada ato procura “maximizar sua utilidade”, ou seja, maximizar os resultados pessoais de sua ação e os recursos que a isso consagra. As preocupações com a rentabilidade e a eficiência são constantes, é preciso ser sempre mais produtivo e eficaz para sobreviver no mundo organizacional. Cada individuo é reconhecido pela sua capacidade de melhorar seu funcionamento, dessa forma é difícil desenvolver um pensamento critico, a menos que este seja construtivo. A questão chave deixou de ser a construção do conhecimento em função de critérios verdadeiros, para ser construído segundo critérios de rentabilidade e eficiência dos objetivos fixados pelo sistema. A gestão tornou-se a ciência do capitalismo, subentendida por uma vontade de domínio que se apresenta como fundamentalmente racional. Ao se racionalizar a produção obtemos um menor custo para favorecer o crescimento e satisfazer as “necessidades” dos consumidores.
O paradigma utilitarista transforma a sociedade em maquina de produção e o homem em agente aserviço da produção, a economia se tornou a finalidade exclusiva da sociedade, participando da transformação do humano em “recurso”. A empresa é vista como um conjunto de fatores em interação uns com os outros, mas ao se gerenciar o fator humano como um recurso, tal como matéria-prima, capital, tecnologias ou instrumentos de produção, é colocar o desenvolvimento da empresa como uma finalidade em si, independentemente do desenvolvimento da sociedade e considerar que a instrumentalização dos indivíduos é um dado natural do sistema de produção. O valor de cada um é medido em função de critérios financeiros, a finalidade da atividade humana não é mais estabelecer ligações sociais, mas explorar recursos para o maior lucro dos dirigentes das em presas, cabendo ao empregado se adaptar ao tempo da empresa e não o inverso.
Espera-se dos empregados uma implicação subjetiva e psíquica, não canalizada sobre as pessoas de fato, mas sobre a própria organização, tornando-a “personificada”. A empresa gerencial e mais um sistema “sociopsíquico” de dominação, fundado sobre um objetivo de transformação da energia psíquica em força de trabalho. O poder gerencialista preocupa-se não tanto em controlar os corpos, mas em transformar a energia libinal em força de trabalho, passa-se do controle minucioso dos corpos para a mobilização psíquica a serviço da empresa, onde o trabalho é apresentado como uma experiência interessante, enriquecedora e estimulante. O essencial deixou de ser o respeito às regras e normas formais, mas a emulação permanente para realizaros objetivos, cada um deve ser motivado para preencher seus objetivos com entusiasmo e determinação.
Na atualidade as empresas vêm aplicando cada vez mais o conceito de tempo integralmente rentável, onde se obtém uma disponibilidade permanente para o máximo de tempo seja consagrado à realização dos objetivos fixados e a um engajamento total para o sucesso da empresa. E como os horários de trabalho não são mais suficientes para supris às exigências do mercado competitivo, a fronteira entre o tempo de trabalho e o fora do trabalho torna-se cada vez mais tênue. Se o tempo de trabalho passa a ser ilimitado assim também deve ser o espaço, assim trabalha-se a qualquer hora em qualquer lugar. Não se trata mais de obrigatória durante as horas de trabalho, mas de uma disponibilidade constante e ilimitada.
O sistema gerencialista encontra-se em ruptura quanto ao velho modelo, onde se exigia uma submissão total ao regulamento e a hierarquia, com uma vigilância direta e um sistema de sanções normalizadas. O objeto do controle tende a se deslocar da atividade física para a atividade mental, aderindo livremente, espontaneamente e com entusiasmo ao projeto da empresa, e este pode vir a evoluir no tempo, em função do contexto, das flutuações de mercado, da concorrência, mas cuja finalidade primordial sempre estará voltada para a rentabilidade financeira.
Cabe a cada um dar provas de sua utilidade, produtividade e rentabilidade e dessa forma demonstrar que sabe manter seu lugar e quando necessário, fazer seu próprio lugar. É o universo da autonomiacontrolada, a liberdade na organização é paga por uma obrigação a respeitar normas e por uma vigilância permanente quanto aos resultados, à realização dos objetivos, aos desempenhos realizados. Cada um vive como seu próprio patrão, o poder da organização com a qual se identificam permite-lhes acreditar em uma onipotência individual, toda via o individuo deve consagrar-se inteiramente a seu trabalho, sacrificando tudo por sua carreira. Tomado pela ilusão de seu próprio desejo, o individuo é animado por seu medo de fracassar, posto sob pressão, entre seu Ego e seu ideal, para o maior beneficio da empresa. É exigido o constante crescimento e aprimoramento dos empregados e ao mesmo tempo uma redução de custos.
Os procedimentos não são estabelecidos a partir de uma analise concreta dos processos de produção e das atividades reais, mas para clientes perfeitos, trabalhadores sempre no auge de sua forma em um contexto sem obstáculos, tudo oque antes caracterizava um humano “normal” (suas limitações) já não possui lugar. O ideal deixou de ser um horizonte a ser atingido e passa a ser visto como uma norma a ser aplicada. Contudo o individuo jamais pode estar à altura do desempenho esperado, logo ele se vê como incapaz, incompetente ou insuficientemente motivado, gerando um sentimento de impotência perante as exigências de resultados perfeitos. Obter resultados é o que lhe traz reconhecimento sob a forma de promoções, salários, mas igualmente de responsabilidades, que acabam reforçando a junção vantagem/obrigação e, em contrapartida, o prazere a angustia.
É possível se notar que nesse sistema antagônico de conflito de interesses entre o capital e o trabalho, e uma oposição entre os sistemas de sentido, onde um afirma a primazia de necessidades econômicas e o outro afirma a primazia das necessidades sociais, por isso muitas vezes entre o capital, o trabalho e o gerenciamento, os interesses presentes e as logicas em ação parecem por vezes incoerentes. O sentido de trabalho é constantemente colocado em suspenso quando o esforço realizado para se obter mais desempenho leva a planos sociais ou a fechamentos de indústrias e, mais fundamentalmente, quando a atividade é avaliada a partir e critérios que não tem sentindo.
Com o desenvolvimento do capitalismo financeiro, o Ego de cada indivíduo tornou-se um capital que é preciso fazer frutificar. A teoria taylorista provoca uma instrumentalização do humano, e cada individuo deve adaptar-se a maquina, a tecnologia gera uma normalização do humano, e cada individuo deve se adaptar as normas, regras, processos e objetivos exigidos. A gestão gerencialista gera uma rentabilização do humano, e cada individuo deve tornar-se o gestionário de sua vida, fixar-se objetivos, avaliar seus desempenhos, tornar seu tempo rentável. 
O desemprego é visto como resultado de “falhas de empregabilidade” de uma parte da população e, portanto, de sua “falta de adaptação” diante das necessidades da empresa. Nessa perspectiva, o problema do desemprego será resolvido incitando ou obrigando a massa desempregada a melhor “gerenciar suas competências”,adquirir aquelas que lhe faltam a fim de ser formar da melhor forma possível para se posicionar sobre o mercado de trabalho exigente. 
O humano torna-se o principal recurso da empresa, um fator essencial de seu desenvolvimento, assim é conveniente gerencia-lo ao mesmo titulo que as finanças, as matérias-primas, as tecnologias e os estoques. As teorias do capital humano ilustram perfeitamente a prevalência da abordagem gestionária para tratar de tudo aquilo que se refere à vida dos homens. Desse modo cada individuo pode ser o objeto de uma avaliação “objetiva” sobre aquilo que ele custa e aquilo que ele produz para a sociedade. A sociedade gestionaria tem hoje os meios para medir a rentabilidade efetiva de cada ser humano, tal como ocorre nas empresas. A sociedade ideal é vista como aquela onde todos estão constantemente ocupados em fazer business a proposito de tudo, remetendo ao processo de não haver mais limite entre estar ou não trabalhando. Cada individuo se torna uma empresa, a característica do mundo contemporâneo e doravante que todos realizam comercio constantemente, onde se almeja revender por mais que o investimento. O projeto de sociedade transforma o homem em empreendedor para um mundo produtivista.
O desemprego é visto como resultado de “falhas de empregabilidade” de uma parte da população e, portanto, de sua “falta de adaptação” diante das necessidades da empresa. Nessa perspectiva, o problema do desemprego será resolvido incitando ou obrigando a massa desempregada a melhor “gerenciar suas competências”, adquirir aquelasque lhe faltam a fim de ser formar da melhor forma possível para se posicionar sobre o mercado de trabalho exigente. 
A ideologia gerencialista implica uma inversão no que se refere à relação entre o social e a economia: “fazer endossar pelos prestadores de trabalho, transformados em empreendedores individuais, as obrigações e as inseguranças que o capitalismo pós-fordista gera” (Gorz, 2003). Desde o inicio da escola, tudo deve ser posto a serviço da formação de trabalhadores empregáveis, o tempo livre deve ser consagrado à gestão de seu capital-competência, onde cada etapa deve aparecer como um investimento em um projeto profissional. 
Gestão de empresas e gestão de si mesmo obedecem às mesmas leis, trata-se de racionalizar a produção dos homens com o modelo da produtividade de bens e de serviços e de tornar os indivíduos produtivos no modelo empresarial. Por isso disse que não se trata mais de simplesmente medir as aptidões e as competências, mas de tornar o individuo “pro-ativo” em sua opção, de canalizar seus desejos para transforma-los em “forças projetivas”, de imaginar “novos espaços de investimento”, que traduza sua vida em “créditos e débitos” para que se apresente no mercado de trabalho a fim de agarrar as oportunidades e de “maximizar suas oportunidades” de encontrar um lugar no mercado. A sociedade passa a ser uma vasta empresa que integra aqueles que lhe são uteis e rejeitam os demais, esse sistema altamente competitivo, acelerado e flexível, mostra suas consequências ao levar muitas pessoas ao esgotamento profissional.

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