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A política e a construção da cidade

Por:   •  19/9/2016  •  Artigo  •  878 Palavras (4 Páginas)  •  308 Visualizações

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A política e a construção da cidade

Neuza Lima[pic 1]

Na definição de política no dicionário Michaeles, política é a arte ou ciência de governar, organizar, dirigido administrar nações ou estados. Esse conceito é muito claro no dicionário, porém, é difícil um conceito “fechado” de política. Segundo Hanna Arent, em O que é política (2002), a política trata da convivência entre diferentes, os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caso absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças. Essa organização surge inicialmente de forma não planejada, de maneira a melhorar a convivência entre pessoas em um ambiente. Normalmente, quando a população percebe que existe essa organização involuntária, procura-se formalizar cada uma das regras norteadas pela vida em sociedade e semelhanças e costumes.

[…] em toda parte em que os homens se agrupam  seja na vida privada, na social ou na público-política , surge um espaço que os reúne e ao mesmo tempo os separa uns dos outros. Cada um desses espaços tem sua própria estruturabilidade que se transforma com a mudança dos tempos de que se manifesta na vida privada em costumes; na social, em convenções e na pública em leis, constituições, estatutos e coisas semelhantes. Sempre que os homens se juntam, move-se o mundo entre eles, e nesse interessado ocorrem e fazem-se todos os assuntos humanos. (ARENT, 2002)

Os espaços da cidade vão sendo construídos por essa organização de pessoas. A população não percebe que essas pequenas organizações e regras criadas pela vivência do dia-a-dia já são sim uma forma de política. Porém, na situação atual, grande parte da população foge da política pública, por pensar que não faz parte disso ou porque não quer fazer parte, e se anulam dessa construção da cidade. Por essa omissão, a população acaba sem ter voz, nem participação, nas mudanças do espaço em que se vive. A cidade, que deveria ser construída pelo povo, é criada por políticos.

O alijamento promovido pelo projeto de cidade construído sem a mesma é, posteriormente, tornado explícito na vida cotidiana no modo como se procede a retirada de pessoas de suas casas e bairros. (MOREIRA, 2013)

É comum que grande parte das decisões tomadas por políticos, gestões, partidos e coligações políticas em relação a cidade desconsiderem o povo e a identidade do local, visando um “falso desenvolvimento urbano”, priorizando os interesses de uma minoria detentora do capital que movimenta o mercado imobiliário. Um desses exemplos são as obras “de infraestrutura” projetadas e executadas para sediar grandes eventos. Esses eventos sempre favorecem grandes corporações e empresas que não se preocupam com a cidade ou com a vida da população daquele lugar, muito menos com os impactos que cada um desses grandes projetos causará a diversas famílias que terão suas vidas, laços e identidades “roubadas”. Caetano Veloso, citado por Moreira (2013), fala que todo o resto é vulgaridade, projetos e obras claramente autoritários, superfaturados, feitos segundo uma estética globalizante, inspirada nas mesmas fontes de sempre, sem maior interesse, sem grandes surpresas, senão a de tamanha repetição de uma política já comprovadamente falha, sem ganhos senão os financeiros dos grandes promotores.

A história se repete quase todas as vezes que a gestão política da cidade ou estado decide “revolucionar o espaço urbano”. A população não tem voz, na maioria das vezes não faz questão de ter, ou uma minoria tenta se opor a essa “revolução do espaço urbano”, mas não tem sucesso.

A tradição dos oprimidos nos ensina que o estado de exceção em que vivemos é na verdade regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é criar um verdadeiro estado de emergência. (MOREIRA abud BENJAMIN, 2013)

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