Fichamento - Aldo Rossi
Por: Flavia Hollerweger • 2/12/2017 • Abstract • 1.146 Palavras (5 Páginas) • 601 Visualizações
Em um livro onde Aldo Rossi analisa todo o processo de surgimento e transformação da cidade de modo geral, o capítulo escolhido trata da estrutura da cidade por partes, voltada para a compreensão dos fatos urbanos, no âmbito arquitetônico, social e cultural.
Tudo parte de dois modos de se ver a cidade, a primeira como se ela fosse um grande artefato, que cresce no tempo; e a segunda mais limitada, os fatos urbanos com sua arquitetura própria. Seu estudo sobre a morfologia e a tipologia urbana – as quais são como partes integrantes da arquitetura da cidade – assume a necessidade da relação entre a arquitetura, história, geografia e sociologia, que consagram uma análise mais profunda do espaço e que reconhecem a sua “qualidade” que o autor cita.
O conceito que uma pessoa tem de um fato urbano sempre será diferente do tipo de conhecimento de quem vive esse mesmo fato, isso porque neles há algo que os torna muito semelhantes à obra de arte – nascem do inconsciente e é precisamente o público que lhes designa. Assim, o caráter artístico de um fato está bastante ligado à sua qualidade. É possível analisá-los, mas dificilmente defini-los. A cidade está entre esse elemento natural e artificial, objeto de natureza e sujeito de cultura. Essa visão se constrói de um modo muito coerente, em que a cada estudo citado se somam ainda mais “semelhanças”, como os de Carlo Cattaneo, que não escreve de maneira explícita a questão do caráter artístico dos fatos urbanos, mas aproxima a conexão entre seu pensamento, a ciência e as artes como características do desenvolvimento da mente humana no concreto, que torna possível essa aproximação citada pelo autor do livro, reforçando ainda mais que essa é uma boa forma de estudo da estrutura urbana.
O autor buscou ler a representação da condição urbana através do que ele considera como cena fixa e profunda: a arquitetura. Assim, ela mesma não é o lugar da condição humana, mas uma parte dessa condição. Isso faz parte de uma visão de que a cidade está na sua história, enfatizando a relação entre o lugar e os homens, e a obra de arte que é o fato último. Nessa mesma discussão de cidade como artefato, o autor cita Camillo Sitte, que tinha a visão de um esquema urbano, de malhas viárias que seguem uma lógica de disposição e onde esses sistemas tem um valor artístico nulo. E nesse ponto, é compreensível a visão de Sitte, pois a rede viária serve apenas para o tráfego, não é pensada a partir de sentidos, ou seja, indiferente do ponto de vista artístico. “Só é artisticamente importante o que pode ser abarcado com o olhar, o que pode ser visto; logo, cada rua, cada praça” [página 23]. Sitte, portanto, reduz a cidade a algum episódio artístico, e não à sua experiência completa. Mas perante a complexidade de um esquema urbano, é pelo contrário, mais relevante considerar o fato urbano em sua totalidade. Essa totalidade é pensada a partir das primeiras habitações, onde o “tipo” vai se constituindo, de acordo com as necessidades e aspirações de beleza, como algo permanente e uma lógica antes da sua forma. A palavra tipo, no entanto, não é uma coisa a ser copiada ou imitada, ele deve ser uma regra ao modelo (que deve se repetir como é). Desse pensamento de Quatremère de Quincy pode-se entender os estilos de arquitetura que vemos, pois segundo o conceito de tipo e modelo, entende-se que tipo é a origem, um elemento típico, como um núcleo no qual se coordenam os desdobramentos e as variações de formas. O tipo, nas minhas considerações é como a própria ideia da arquitetura.
Entre as principais questões que surgem diante de um fato urbano – a individualidade, o locus, a memória, o desenho – está a função. A cidade como agrupamento é explicada com base naquelas funções que os homens queriam exercer. Mas assim, o estudo da morfologia se reduziria a um mero estudo da função, e a forma é destituída de suas motivações mais complexas, e o tipo, ao mesmo tempo, também se reduz apenas a um esquema distributivo. A explicação dos fatos urbanos mediante sua função não é a melhor opção quando se trata de esclarecer a sua constituição e conformação. Pois há fatos urbanos em que a sua função mudou ao longo do tempo ou até mesmo que não possui função específica. Se os fatos urbanos pudessem continuamente fundar-se e renovar-se através do simples estabelecimento de novas funções, os próprios valores da estrutura urbana se tornariam contínuos e facilmente disponíveis. A permanência dos edifícios e das formas não teriam mais significado, e a transmissão de cultura seria posta em crise. E, visivelmente, isso tudo não corresponde à realidade.
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