O Desenvolvimento Urbano na Arquitetura
Por: Francielly Balbinoti • 15/3/2023 • Trabalho acadêmico • 2.115 Palavras (9 Páginas) • 115 Visualizações
UFRGS – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PRÁTICAS SOCIAIS NA ARQUITETURA E URBANISMO
FRANCIELLY AIRES BALBINOTI
RESENHA: ABC DO DESENVOLBIMENTO URBANO – MARCELO LOPES DE SOUZA
A análise a seguir trata da obra “ABC do desenvolvimento urbano” de Marcelo Lopes de Souza, lançada no ano de 2003 pela editora Bertrand Brasil. A obra discorre durante 11 capítulos sobre o desenvolvimento das primeiras civilizações dadas como “cidades” e como, ao decorrer da evolução humana e social, as cidades foram mudando, crescendo e se adaptando às transformações que inevitavelmente o mundo foi sendo exposto. Além disso, aborda temáticas como reforma urbana, desenvolvimento e problemas urbanos. Os capítulos analisados serão os três primeiros: “O que faz de uma cidade uma cidade?”; “Quando e como surgiram as primeiras cidades?” e “Da cidade individual à rede urbana”.
A definição de cidade parece simples em um primeiro momento para quem considera-se membro de uma ou até mesmo que vive ativamente a rotina em uma cidade grande (ou também nas médias e pequenas). No livro, o autor inicialmente propõe que o leitor realize uma análise desde os tempos remotos, onde surgiram as primeiras e minúsculas cidades – as quais atendiam aos critérios que serão propostos futuramente na leitura. O conceito de Max Weber (o qual pode ser encontrado na obra “Conceito e categorias de cidade”, organizada pelo também autor Otávio Guilherme Velho para compor sua análise), marca a cidade como um estrito local de mercado. Ou seja, segundo Weber as cidades são locais onde ocorrem compra, venda e certa aquisição de produtos, bens e serviços. Percebe-se também a diferença visual entre ambas, já que nas áreas rurais há a predominância de áreas verdes ainda não habitadas, o contrário de espaços considerados urbanos, onde as áreas são majoritariamente ocupadas por prédios, casas, empresas, lojas e milhares de outras entidades voltadas ao abastecimento da população ali residente. Além do mais, as cidades diferem-se do campo e de áreas rurais devido ao tipo de atividade econômica ali exercida, considerando que nas áreas rurais normalmente há o cultivo da agropecuária.
Também nos é apresentado durante a leitura o conceito de “franja rural-urbana”, o qual é caracterizado como sendo partes do território onde a atividade rural e urbana se conecta, formando uma zona de transição entre a cidade e o campo. De acordo com o artigo “Caracterização da franja urbana -rural através de gradientes: análise por continuum versus contraste”, os autores descrevem a franja rural como:
''O espaço pelo qual a cidade se expande à medida que o processo de dispersão se desenrola [...] A área localizada apresenta-se, desta forma, como portadora de um conjunto de características distintas, já que apenas parte do seu espaço foi identificado, pelo crescimento urbano, o restante é apego ao espaço rural.''
Percebemos então que o espaço rural é considerado apenas para o uso do solo, cultivo e produção da agricultura e pecuária, a qual, futuramente, após passar por um processo de industrialização (ou não, considerando os atuais orgânicos, que podem ser inclusive produzidos em solo urbano) serão disponibilizados ao consumo das pequenas, médias e grandes cidades. Já o uso do espaço e solo urbano caracteriza-se como suporte às atividades que ali são desenvolvidas, como habitação, transporte de pessoas, bens e materiais etc.
Adiante, vale ainda compreender a importância da parte social para compreendermos a cidade, não apenas como uma parte do território, mas sim como a cidade devidamente caracterizada que estamos procurando. As cidades são palco para manifestações e exposições culturais, onde pessoas refletem, interagem e socializam entre si, utilizando-a também como um espaço de pertencimento. Ainda, o poder político também influencia o conceito de cidade, segundo o Dr. José Manuel Miranda de Oliveira, no artigo “A cidade como espaço de realização da política”, publicado em 2014 na revista Estudos Filosóficos:
“Com as transformações na cultura e na economia, a política passa a ser o espaço dos marcos regulatórios das crises políticas entre o cidadão, a sociedade e as instituições de natureza pública ou privada, no âmbito urbano. Essas condições, inicialmente, foram introduzidas nas cidades aptas a atrair e acumular riquezas. [...] Por outro lado, na mesma proporção em que as cidades se desenvolviam, os problemas urbanos apareciam; com isso, o poder das cidades passou a ter necessidades cada vez mais ampliadas de aparatos de coerção e de meios para ampliar as estruturas urbanas.”
Responder o que é ou não uma cidade parece muito mais difícil do que no início do livro analisado. Sabemos agora que uma cidade se caracteriza pela forma econômica abrangente, pelo poder político admitido sob ela e o tipo de produção de bens e serviço que é fornecido. Conseguimos agora distinguir a cidade do campo. Mas, então, qual seria o tamanho ideal para uma cidade? Marcelo Lopes explica em sua obra que o tamanho territorial ou a quantidade de pessoas que ali residem não apenas caracterizam uma cidade, mas sim a centralidade econômica e as características econômicas e espaciais. Ou seja, em uma cidade, as classes sociais são, em geral, formadas por trabalhadores do comércio, indústrias, estudantes, profissionais liberais etc, o que difere do espaço rural. Além disso, a renda dos habitantes e sua distribuição impacta diretamente na oferta de bens e serviços de qualidade que são oferecidos naquela cidade, ou seja, cidades mais ricas tendem a ofertar serviços de melhor qualidade e, consequentemente, atrais consumidores com maior poder aquisitivo na busco por esses serviços, aumentando assim a centralidade e influencia que essa cidade estabelece entre as demais. Sendo assim, há grande importância no tipo de comercialização, nos consumidores e na distribuição de renda para também caracterizar o âmbito urbano.
Dessa forma, surgem aspectos importantes a serem estudados, como a interação entre cidades, que, muitas vezes, estão tão próximas que suas interações criam transformações importantes em ambas. Conceitos como “megalópoles” e “metrópoles” aparecem como questionamentos importantes.
Cidades geograficamente próximas costumam criar uma relação de dependência entre elas, já que criam uma conexão forte que as tornam codependentes (chama-se conurbação: cidades limítrofes que . Após certo tempo, não há apenas relação econômica entre elas (bens produzidos em uma são vendidos na outra) mas também relações político sociais desenvolvidas, transporte de trabalhadores (trabalhador que reside em uma cidade e trabalha na outra), instituições de poder que estão presentes em uma cidade mas exercem poder na outra. Desse minissistema urbano, surgem as metrópoles, que são aglomerações compostas por cidades próximas, que criam o sistema de relação citado anteriormente, onde há uma cidade núcleo que detém a maior parte do poder político-social-econômico, como sendo uma “cidade-mãe”.
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