Teorias Urbanas Sobre a Cidade Contemporânea
Por: Maiko Dhones • 20/7/2019 • Trabalho acadêmico • 1.370 Palavras (6 Páginas) • 277 Visualizações
Universidade Federal de Sergipe
Campus Laranjeiras
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
História da Arquitetura Contemporânea
Docente: Professora Mestre Carolina Marques Chaves Galvão
Discente: Maiko Dhones Menezes Alves
Unidade III – Teorias Urbanas sobre a Cidade Contemporânea.
Laranjeiras, 2018
Para Norberg-Schulz iniciar um estudo teórico, primeiramente foi preciso adotar uma fenomenologia para a arquitetura. Antes de tudo, Fenomenologia, nada mais é do que uma investigação sistemática da consciência e seus objetos. Schulz entende essa fenomenologia como: a capacidade de dar significado a ambiente mediante a criação de lugares específicos; um método que exige um “retorno as coisas”.
Porém o teórico não começa a pensar tais conceitos do nada. Inspirado pelos pensamentos de Martin Heidegger (1889-1976), o qual propõe ensaios como “Construir, Habitar, Pensar” e “Ser e Tempo”, nos quais demonstra que a fenomenologia analisa o que está escondido nas experiências do dia a dia. Em um de seus ensaios, “Arte e espaço”, Heidegger diz:” Uma fronteira não e aquilo em que termina uma coisa, mas, como já sabiam os gregos, a fronteira é aquilo de onde ela começa a se fazer presente”, e Schulz ao analisar tal texto reitera: “A arquitetura ocorre na fronteira, como uma encarnação do mundo”. Sintetizando o pensamento de Heidegger, e tomando-se como exemplo uma porta de uma residência comum, mostra melhor tal conceito. Uma porta, um dos elementos construtivos mais primordiais da arquitetura, local de divisão do interior e o exterior, detentora da divisão e da unificação, do que é conhecido e do que é desconhecido. Entretanto não é a porta que diz o que é interior ou o que é exterior. O conceito de conhecido e desconhecido já existe mesmo antes da porta, a porta é só um elemento que evidencia esses conceitos, ou seja, eles já estavam presentes, porém só são percebidos pela interferência externa.
Um experimento mental pode ajudar a entender esse pensamento, o gato de Schrödinger. Experimento feito pelo físico austríaco Erwin Schrödinger, o qual tinha a finalidade de mostrar o comportamento de partículas subatômicas, de maneira simples, um gato dentro de uma caixa. A hipótese comenta que um gato é colocado dentro de uma caixa contendo um frasco com uma substância radioativa e um medidor Geiger, aparelho que detecta a radiação. Se o material radioativo soltar partículas o aparelho Geiger iria perceber e liberar um mecanismo que quebraria o frasco. De acordo com as leis da física quântica, a radioatividade se expressa como onda e como partícula, e tais partículas podem estar em dois lugares ao mesmo tempo, o que ocasionaria duas realidades, uma em que o frasco se rompe e as partículas matam o gato, e outra que o frasco não quebra tudo na mesma fração de segundo. Porém se tivesse uma interferência externa, como um observador para ver se o gato estava morto ou vivo, só veríamos uma única realidade, ou morto ou vivo. O que leva a conclusão de que as duas realidades do gato estão lá, porém só o percebemos quando há a interação de um ser externo, acabando com a dualidade e mostrando uma das realidades.
É isso que Heidegger quer dizer ao concluir a fronteira. Voltando ao exemplo da porta, somente com a introdução dessa fronteira que se é percebido o interior e exterior, o conhecido e o desconhecido, um ponto de visão que reúne a visão do mundo. Ou seja, os conceitos já estavam lá, todavia, só podem ser percebidos pela interferência externa.
Schulz, ao falar sobre arquitetura, apresenta-nos que a arquitetura é feita na fronteira, ou seja, ela é o elemento exterior que nos mostra o que não nos era perceptível.
“As fronteiras de um espaço construído são o chão, a parede, e o teto. As fronteiras de uma paisagem são estruturalmente parecidas e consistem no solo, no horizonte, e no céu.”
(NORBERG-SCHULZ, Christian. Op. Cit.)
Retomando a visão de lugar para Schulz, a ideia de genius loci é primordial. O espírito da local. Algo único em qualquer localidade, sua essência. Conceito que revela a identidade de uma determinada porção do espaço, ou de até toda a porção a qual habitamos. A arquitetura nada mais é do que um auxiliar para ajudar o homem a habitar. Para tal, fazer cidades e construções concretas não é suficiente, é necessário, para fazer a arquitetura existir, achar a vocação do lugar. “Fazer visível todo um ambiente”, como diria Suzanne Langer. “Edificar” o genius loci do lugar significa aproximar o homem e o lugar, mostrar a identidade, a essência, mostrar a impossibilidade de ser outra coisa, a não ser esse lugar, isso que define o que a arquitetura deve fazer, em escala micro (residencial) ou macro (cidade). Projetando as propriedades do local, aproximamos o homem e o ambiente vivido, tornando-nos uma parte indispensável desse lugar, tornamo-nos um todo.
O paradigma que Schulz apresenta recai sobre o tema do Lugar, na discussão pós-moderna. A procura de uma significação, uma identidade, trás as cidades contemporâneas, a cruel dúvida: A procura de uma identidade deve sobrepor à dinâmica de cidade atual? Ou até a nova dinâmica de cidade atual é a identidade que procuram? Questionamentos esses que devem ser analisados, um por um, cidade por cidade, individualidade por individualidade.
“O lugar é a concreta manifestação do habitar humano”
(NORBERG-SCHULZ, Christian. Op. cit., p. 19.)
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