A Atividade Individual Negociação e Administração de Conflitos

Introdução

Filme Analisado: Capitão Phillips (2013), de Paul Greengrass.

Breve resumo da cena escolhida:

Trata-se da cena da negociação final do sequestro do Capitão Phillips, que ocorreu entre os sequestradores somalis e a equipe dos SEALs.

Logo depois de alguns momentos de tensão com a tentativa de fuga do Capitão Phillips que foi fracassada, alguém se apresenta no rádio como o negociador autorizado. O líder dos sequestradores - Muse - acredita que está falando com o representante da seguradora da companhia marítima.

O negociador começa a fornecer diversas informações sobre a quadrilha, como por exemplo: seus nomes, origem e o clãque pertencem, revela que conversou com os anciãos de sua tribo e que eles estão dirigindo-se para o local para negociar um acordo para desfecho do sequestro.

O negociador diz que o pagamento do resgate deve ser feito com descrição e sugere que o barco em que eles estão com o refém seja rebocado pelo Destroyer da Marinha para um ponto de troca, e solicita que alguém suba a bordo para efetuar a negociação pessoalmente. Os sequestradores somalis discutem, pois, a proposta do negociador parece ser uma armadilha.

Um bote com uma equipe da Marinha se aproxima para buscar Muse, o líder dos sequestradores, os quais, apesar de bastante tensos, obedecem a ordem de abaixar as armas, de modo a permitir que o barco salva-vidas seja preso ao cabo de reboque e mostram o refém, confirmando que ele está vivo. A equipe de negociação afirma aos sequestradores que não há truques, que Muse será levado para conversar com os anciãos, mesmo assim o líder dos sequestradores ameaça que, se algo acontecer com ele, o Capitão Phillips será morto.

A equipe da Marinha tenta manter a calma dos sequestradores, e convence Muse a deixar sua arma para embarcar no bote. Eles afirmam que os anciãos estão vindo de helicóptero. Muse afirma novamente que se algo de errado acontecer, o Capitão Phillips morrerá, mas a equipe da Marinha dá sua palavra de que tudo vai ficar bem.

Ao final da cena, Muse deixa a sua arma e, com a promessa de que tudo ficará bem, embarca no bote da Marinha que o levará para o Destroyer.

Desenvolvimento – análise do processo de negociação representado no filme eleito

Classificação das partes envolvidas (atores da negociação)

Na cena apresentada há dois atores principais no processo de negociação: Muse, que lidera e representa a quadrilha de sequestradores somalis; e o negociador dos SEALs, que nesse caso é um representante do governo dos EUA.

Além deles, participam também do processo os demais sequestradores, os outros militares que fazem a abordagem ao barco salva-vidas e, por fim, o Capitão Phillips, que é o refém (objeto da negociação).

Conforme as lições de Castro (p. 7O), os atores de uma negociação podem ser classificados tendo como base semelhanças e diferenças em relação a duas características fundamentais do relacionamento entre as partes, as quais são (i) as ideias, isto é, o que e como se pensa, e (ii) a confiança, ou seja, a segurança e o crédito que cada parte sente em relação às demais envolvidas.

Considerando esses dois aspectos, entende-se que as partes podem ser definidas como adversários, pois suas ideias eram divergentes e não existia confiança mútua. Os sequestradores somalis tinham em mente receber um resgate em troca do refém; enquanto a Marinha tinha como objetivo resgatar o refém com vida e prender/eliminar os sequestradores.

Identificação das fontes de poder, ferramentas e táticas

No lado dos sequestradores, a principal fonte de poder é a vida do refém (recompensa), pois eles sabiam que ela, tanto para a companhia marítima Maersk, quanto como para o governo dos EUA, tinham um valor muito alto. Também usam como poder a capacidade de coerção, realizando várias ameaças de morte ao refém, de modo a pressionar o outro lado e aumentar a tensão da negociação.

Além disso, há a disposição dos sequestradores somalis em correr riscos, pois mostraram por diversas vezes que estavam dispostos a conduzir a negociação até as últimas consequências.

Por outro lado, na equipe dos SEALs, outras fontes de poder podem ser identificadas. Em um primeiro momento, foi por eles prometido um pagamento do resgate, como recompensa pela entrega do Cap. Phillips com vida, o que dava aos negociadores um poder de barganha. O negociador americano também usa o tempo ao seu favor, pois ele sabia que os sequestradores já estavam há muito tempo naquela situação, cansados e sem dormir direito, sem água ou comida. O negociador também se vale de capacidade de persuasão, pois conseguiu fazer com que Muse aceitasse ir para o Destroyer realizar a negociação pessoalmente. Por fim, a maior fonte de poderidentificada na equipe dos SEALs é o conhecimento, pois são profissionais altamente treinados e qualificados, acostumados a lidar com situações de negociação em ambiente de muito estresse. Logo de início, eles já demonstram domínio da situação, mostrando que possuem todas as informações acerca dos sequestradores.

Em suma, as principais ferramentas de negociação utilizadas pelos SEALs foram (i) o planejamento e (i) a informação. Houve um planejamento prévio da negociação, pois houve um levantamento das informações sobre os sequestradores: quem eram, como agiam e quais eram suas intenções. Além disso, eles, logo no início, colocaram uma escuta no barco e solicitaram que o refém colocasse uma camiseta amarela, de modo a se destacar dos sequestradores.

Por outro lado, nota-se que os sequestradores não tinham muitas ferramentas disponíveis. Eles não tinham conhecimento sobre a outra parte, não sabiam como atuava a Marinha e seus reais interesses. Quanto ao planejamento, mostrou-se sempre muito incipiente e baseado em premissas que não eram reais, pois imaginavam que iriam negociar com o representante da seguradora do navio e que o pagamento do valor do resgate seria prontamente aceito.

Avaliação das etapas da negociação

Na etapa preliminar, que ocorreu no primeiro contato do negociador americano com o sequestrador Muse, ele se apresenta e demonstra a sua intenção de estabelecer uma negociação.