TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

A CONTRA-REFORMA NEOLIBERAL NO BRASIL: O TERCEIRO SETOR E SUAS RELAÇÕES COM AS POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS

Por:   •  13/9/2015  •  Artigo  •  3.893 Palavras (16 Páginas)  •  465 Visualizações

Página 1 de 16

A CONTRA-REFORMA NEOLIBERAL NO BRASIL, O TERCEIRO SETOR E SUAS RELAÇÕES COM AS POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS

RESUMO

Este artigo busca investigar as relações entre a contra-reforma neoliberal assentada no Brasil a partir da década de 1990 do século XX, com o terceiro setor e as políticas públicas. Para isso, como metodologia, realizamos uma pesquisa bibliográfica, a luz do método histórico-dialético, em artigos científicos, livros e legislações acerca do tema proposto, bem como fichamentos de obras relacionadas ao assunto. Os resultados apontam que o Estado brasileiro passa por uma contra-reforma, indo em sentido distinto ao apontado na Constituição de 1988, implicando na focalização, privatização e terceirização das políticas públicas e sociais. O terceiro setor não deve substituir o Estado em suas funções na execução das políticas públicas e sociais do país; mas sim, juntamente com outros atores, lutar para uma efetiva democratização do Estado, de maneira a permitir uma ampliação de suas responsabilidades diante as desigualdades sociais.

A CONTRA-REFORMA NEOLIBERAL NO BRASIL, O TERCEIRO SETOR E SUAS RELAÇÕES COM AS POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIAIS

Lucas Morais de Freitas[1]

INTRODUÇÃO

Com a integração do Brasil aos ventos neoliberais na década de 1990 do século XX, o terceiro setor passa a ser utilizado no enfrentamento das questões sociais apresentadas pela sociedade.

Na verdade, ocorre uma contra-reforma do Estado, modificando a atuação do Estado prevista em 1988. O Estado transfere para o terceiro setor a responsabilidade na atenção às mazelas sociais do país.

O objetivo deste trabalho é analisar como a contra-reforma neoliberal realizada no país a partir da década de 1990 do século XX atinge de forma ampla as políticas públicas e sociais previstas na Constituição de 1988 e como o terceiro setor é utilizado para a transferência da responsabilidade do Estado acerca da atuação nas desigualdades sociais do país. Para isso, como metodologia, realizamos uma pesquisa bibliográfica em artigos científicos, livros e legislações acerca do tema proposto, bem como fichamentos de obras relacionadas ao assunto. A luz do método histórico-dialético pesquisamos diversos referenciais teóricos, de maneira a realizar o debate entre os pontos de vista acerca da contra-reforma do Estado, terceiro setor e políticas públicas e sociais.

Portanto, apesar da reforma do Estado realizada pela Constituição de 1988, que garante a responsabilidade do mesmo perante as políticas sociais brasileiras, na década de 1990, vemos uma contra-reforma, de modo que o Estado não assume suas responsabilidades, não construindo uma seguridade social ampla para os brasileiros como prevista anteriormente.

O DESENVOLVIMENTO DO NEOLIBERALISMO NO BRASIL E SEUS IMPACTOS NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

Com o golpe militar de 1964, o Brasil passa a ser governado por uma ditadura militar, que para possibilitar sua manutenção no poder realiza uma ampliação de algumas políticas sociais (de maneira a manter a continuidade e legitimação do regime ditatorial perante a sociedade); porém, ao mesmo tempo, a ditadura militar promove perdas das liberdades individuais e impõe a censura perante a sociedade.

Neste contexto, ocorre o que podemos chamar de uma modernização conservadora das políticas sociais, uma ampliação da estrutura estatal, mas não modificando as bases já implantadas. Ainda, a ditadura militar incentivava a iniciativa privada nas áreas de educação, saúde e previdência social, possibilitando uma cisão de quem pode e quem não pode pagar pelos serviços, deixando que milhões de pessoas não fossem atendidas.

Ocorre no Brasil, durante a década de 1970 o chamado “milagre econômico” com taxas de crescimento entre 11% a 14%, com a promoção pela ditadura militar da produção e consumo de massas, porém, sendo este último a parte restrita da população. Diante do contexto da crise internacional e através da condução e incentivo do Estado, ocorria um processo de substituição de importações, possibilitando um “extraordinário crescimento do bolo, mas sem nenhuma perspectiva de divisão posterior” (BEHRING, BOSQUETTI, 2009, p. 135). A partir de 1974 começa a declinar o modelo tecnocrático-modernizador-conservador do regime autoritário instalado no Brasil que conforme Behring, Boschetti (2007, p.137- 138):

Em 1974, começam a transparecer as primeiras fissuras e sinais de esgotamento do projeto tecnocrático e modernizador-conservador do regime, em função dos impactos da economia internacional, restringindo o fluxo de capitais, e também dos limites internos.  Os anos subseqüentes serão marcados pela distensão, pela abertura lenta e gradual do regime, num processo de transição para a democracia que irá condicionar em muito a adesão brasileira às orientações conservadoras neoliberais, já em curso no nível mundial, implicando o caráter tardio da adesão brasileira ao neoliberalismo.

A década de 1980, para as economias da América Latina, do ponto de vista econômico, é conhecida como a década perdida. Devido ao fato do reordenamento das relações econômicas mundiais e da busca da hegemonia norte americana com o dólar e o aumento de juros dos credores que vários países latinoamericanos continham dívidas, muitos entraram em derrocada econômica.

Ocorreu um verdadeiro estrangulamento da economia latino-americana, a qual, entre 1980 e 1985, obteve indicadores catastróficos, a exemplo de: investimento interno bruto em queda de 26,9%; PIB per capita em queda de 8,9%; fluxo de importações em queda de 41,0%; e um crescimento médio do PIB de 2,3% entre 1981 e 1985, ou seja, pífio (KUCINSKI e BRANDORD, 1987 apud BERING, BOSCHETTI, 2007, p. 138- 139)

Assim, a década de 1980 para a América Latina, do ponto de vista econômico, não teve bons resultados. No Brasil, houve um aumento da dívida externa, crescimento da inflação e um maior empobrecimento da população como um todo.

Os efeitos da crise do endividamento foram muitos: empobrecimento generalizado da América Latina, especialmente no seu país mais rico, o Brasil; crise dos serviços sociais públicos num contexto de aumento da demanda em contraposição à não expansão dos direitos; desemprego; agudização da informalidade da economia; favorecimento da produção para exportação em detrimento das necessidades internas. (BEHRING, BOSCHETTI,  2007, p. 139) 

...

Baixar como (para membros premium)  txt (27.2 Kb)   pdf (223.7 Kb)   docx (26.4 Kb)  
Continuar por mais 15 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com