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A Cidade Antiga

Por:   •  22/11/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.098 Palavras (9 Páginas)  •  314 Visualizações

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1- As crenças antigas estabelecem parâmetros para a sociedade contemporânea. Quais são esses parâmetros?

As mais antigas gerações, muito antes de haver filósofos, creram numa segunda existência depois desta. Eles encararam a morte, não como uma dissolução do ser, mas como uma simples mudança de vida. Segundo as mais velhas crenças dos italianos e dos gregos, não era num mundo estranho a este que a alma ia passar a sua segunda existência; ela permanecia bem perto dos homens e continuava a viver sob a terra.

Dessa crença primitiva derivou a necessidade da sepultura. Para que a alma fosse fixada nessa morada subterrânea que lhe convinha para a sua segunda vida, era preciso que o corpo ao qual ela permanecia presa fosse recoberto de terra. A alma que não tivesse o seu túmulo não tinha residência. Era errante. Em vão aspirava ao repouso. Tinha de errar para sempre, sob forma de larva ou de fantasma. veio daí a crença dos fantasmas. Não era para exibição da dor que se realizava a cerimônia fúnebre, mas pelo repouso e pela felicidade do morto. O uso da sepultura e de jazigos são utilizados até hoje em nossa sociedade moderna.

Estabeleceu entre os antigos uma outra opinião sobre a morada dos mortos. Imaginaram uma região, igualmente subterrânea, mas infinitamente mais vasta do que a tumba, em que todas as almas, longe do corpo, vivam reunidas e onde eram distribuídas penas e recompensas, de acordo com o comportamento que o homem tivera durante a vida. O homem não tinha, além disso, nenhuma conta a prestar sobre a sua vida pregressa. Uma vez posto no túmulo, não aguardava nem recompensas nem suplícios. Opinião grosseira, de fato, mas que é a infância da noção da vida futura.

Essas crenças logo levaram à criação de regras de conduta. Uma vez que o morto precisava de comida e bebida, concebeu-se que era um dever para os vivos satisfazer essa necessidade. Assim se estabeleceu toda uma religião da morte, cujos dogmas podem ter desaparecido rapidamente, mas cujos ritos duraram até o triunfo do cristianismo. Os mortos eram tidos como seres sagrados. Os antigos davam-lhes os epítetos mais respeitosos que pudessem achar; chamavam-nos de bons, santos, bem-aventurados. Essa espécie de apoteose não era o privilégio dos grandes homens; não se fazia distinção entre os mortos.        

Os gregos gostavam de dar aos mortos o nome de deuses subterrâneos. Os romanos davam aos mortos o nome de deuses manes. As tumbas eram os templos dessas divindades. Diante da tumba havia um altar para os sacrifícios, como diante dos templos dos deuses. Encontramos esse culto dos mortos entre os helenos, entre os latinos, entre os sabinos e entre os etruscos; deparamo-nos com ele também entre os árias da Índia. Isso prova que, se é preciso muito tempo para que as crenças humanas se transformem, é preciso ainda muito mais tempo para que as práticas exteriores e as leis se modifiquem. Ainda hoje, depois de tantos séculos e de tantas revoluções, os hindus continuam a fazer oferendas aos antepassados. Essa crença e esses ritos são o que há de mais velho na raça indo-europeia, e também o que houve de mais persistente. Esse culto era o mesmo na Índia, na Grécia e na Itália. O hindu devia dar aos Manes a refeição, que era chamada sraddha.

O hindu, como o grego, via os mortos como seres divinos que gozavam de uma existência bem-aventurada. Mas havia uma condição para sua felicidade; era preciso que as oferendas lhe fossem levadas regularmente pelos vivos. Os gregos e os romanos tinham exatamente as mesmas crenças. Se deixasse de oferecer aos mortos a refeição fúnebre, de imediato os mortos saíam de sua tumba. Essa tradição de oferenda aos mortos persiste em nossos dias, como por exemplo: as oferendas com flores jogadas ao mar feitas para Iemanjá, coroas de flores em cerimônias fúnebres e dentre outras.

As almas humanas divinizadas pela morte eram aquilo a que os gregos chamavam Demônios ou Heróis. Os latinos davam-lhes o nome Lares, Manes, Gênios. Essa religião dos mortos parece ser a mais antiga que existiu nessa raça de homens. Antes de conceber e de adorar Indra ou Zeus, o homem adorou os mortos. A morte foi o primeiro mistério; pôs o homem no caminho dos outros mistérios. Ele elevou o pensamento do visível para o invisível, do transitório para o eterno, do humano para o divino.

O fogo sagrado era estritamente associado ao culto dos mortos, tendo como característica essencial pertencer propriamente a cada família. Não havia outro sacerdote senão o pai, como figura central. Como sacerdote não conhecia nenhuma hierarquia. A religião não residia em templos e sim nas casas. Cada qual tinha os seus deuses. Hoje cada família tem a liberdade de escolher a crença que lhe convém seguir. O pai ao dar a vida ao filho, dava lhe ao mesmo tempo a crença ao culto, o direito de conservar o fogo sagrado, de oferecer o banquete fúnebre, de pronunciar as fórmulas de oração. A geração estabelecia um laço misterioso entre a criança que nascia para a vida e todos os deuses da família. A família hoje orienta os valores religiosos aos filhos.

2-

a) No livro Segundo traz "A família" como "plano de fundo". Quais as semelhanças e diferenças com as famílias atualmente?

O princípio da família antiga não é unicamente a geração. Prova disso, é que a irmã não é na família o que é o irmão; o filho emancipado ou a filha casada cessam completamente de fazer parte dela. Hoje não há distinção entre filho e filha. O filho emancipado ou a filha casada não perdem o vínculo familiar com a família lhes deu origem.

O princípio da família tampouco é afeição natural. O direito grego e o direito romano não consideram esse sentimento, diversamente, dos tempos atuais em que o sentimento une as pessoas e gera vínculos jurídicos, tanto obrigacionais como sucessórios.

O fundamento da família romana segundo os historiadores residia no poder maternal ou marital, que teve origem na religião. A família antiga, é, por conseguinte uma associação religiosa. Contrariamente, a família de hoje tem seu fundamento no nascimento e na afeição, formando uma associação natural. Foi a religião que forneceu regramentos à família antiga.

O casamento, para a mulher rompe todo vínculo com sua família paterna, constituindo-se como um segundo nascimento e o divórcio, quase impossível, sendo necessária uma nova cerimônia sagrada, pois só a religião podia separar o que a religião unira. Atualmente, o casamento não rompe o vínculo da mulher com seus genitores, sendo ela, inclusive, herdeira de seus pais.

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