A EDUCAÇÃO E AO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Por: Caio Cesar Pires • 13/9/2020 • Bibliografia • 984 Palavras (4 Páginas) • 221 Visualizações
A EDUCAÇÃO E AO PRECONCEITO LINGUÍSTICO
Clarina Paula Damacena, Sara Correa Alves e Vanessa Cristina Américo
Segundo Marcos Bagno (2011), preconceito linguístico é todo juízo de valor negativo às variedades linguísticas de menor prestígio social. Normalmente, observa Bagno (2011), esse prejulgamento dirige-se às variantes mais informais e ligadas às classes sociais menos favorecidas, as quais, via de regra, têm menos acesso à educação formal ou, ainda, têm acesso a um modelo educacional de qualidade deficitária. Em vista da pertinência dessa questão, analisaremos esse tema por meio do mapeamento da bibliografia a respeito, focando nas relações entre o preconceito linguístico e a educação no Brasil.
No artigo de Mariangela Rios de Oliveira (2008), são investigados os preconceitos linguísticos na sociedade brasileira. Para tal, a autora apresenta, primeiramente, um quadro geral da história da implantação da língua portuguesa no Brasil. Para Oliveira (2008), a Lei do Diretório dos Índios, de 1758, além de expulsar os jesuítas do Brasil, também resultou no primeiro ato de preconceito linguístico em terras brasileiras, pois, a partir daí, a “língua geral”, falada entre os índios e os jesuítas, se extinguiu, dando lugar ao português. Segundo Oliveira, observamos ainda hoje tentativas de imposição de uma língua portuguesa “oficial”. Podemos citar, por exemplo, o Projeto de Lei nº 1676, de 1999, do deputado federal Aldo Rebelo (PcdoB-SP), que, na tentativa de “proteger” a língua portuguesa, propunha restringir o uso de palavras de língua estrangeira no Brasil.[1]
Em seguida, Oliveira (2008) destaca o papel da Sociolinguística Variacionista, proposta William Labov, na mudança de paradigma em relação à linguagem. De acordo com a autora, ao levar em consideração o contexto social, essa nova perspectiva considera a diversidade linguística como um traço identitário. Portanto, a partir daí, a análise da linguagem não deve ser pautada nas ideias de “certo” e “errado”, mas na sua adequação à comunidade linguista.
Partindo do trabalho de Bagno (2011), a autora analisa, posteriormente, alguns preconceitos linguísticos frequentes no Brasil, trazendo novas reflexões. Com base nisso, Oliveira (2011) trata do papel do ensino superior na superação dos preconceitos linguístico. Para ela, ao incorporar esses debates, a universidade promove a cidadania e combate a discriminação.
Ainda sobre o preconceito linguístico, Sírio Possenti (2016) problematiza o conceito de gramática. Segundo Possenti (2016), é um equívoco pensar que ela impõe regras à língua falada ou escrita. Para ele, a gramática parte, na verdade, da experiência dos escritores e dos falantes da língua para, então, definir suas regras. Com isso, podemos concluir que uma língua pode ter “diferentes gramáticas”, já que os usos linguísticos variam não só ao longo do tempo, mas também no espaço.
Possenti (2016), a partir desses comentários, relativiza a ideia de que existem pessoas que “falam errado”. Tendo em consideração que a gramática não é algo fixo, mas que ela descreve as regras da comunicação entre os falantes da língua, fica patente, para nós, que tal afirmação pode partir de um preconceito social. Devemos, como indica Possenti (2016), ao invés de criticar ou aprovar determinada forma, observar como as pessoas realmente se comunicam.
Por fim, Araújo, Uchôa e Valeiko (2016) pesquisaram a ocorrência do preconceito linguístico em uma comunidade rural amazônica (comunidade Canela Fina), no município de Cruzeiro do Sul. Através do relato dos moradores da região, os pesquisadores constataram que os casos de discriminação linguística ocorrem, sobretudo, entre os próprios familiares. Sendo assim, segundo os relatos, a discriminação fora da comunidade é menos frequente.(ARAUJO; UCHÔA;VALEIKO, 2016). Araújo e Uchôa e Valeiko (2016) concluem, com isso, que o preconceito ocorre, na maioria dos casos, através de pequenos gestos.
Notamos, com base no que foi discutido, que o preconceito linguístico está, em muitos casos, vinculado à intolerância. Essa prática, por vezes disseminada pelo próprio Estado (OLIVEIRA, 2008), acaba por desvalorizar a identidade cultural das camadas sociais marginalizadas. Vemos, no entanto, que as universidades brasileiras — principalmente através de suas pesquisas — têm tido um papel importante no combate ao preconceito linguístico (OLIVEIRA, 2008). Portanto, cabe a todos nós universitários levar esse debate para outros espaços. Acreditamos que, além de refletir sobre o tema, também devemos conscientizar outras pessoas à nossa volta.
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