A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA E O QUADRO CONCEITUAL FORNECIDO PELA ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES
Por: Italo Igor • 29/3/2017 • Resenha • 1.935 Palavras (8 Páginas) • 604 Visualizações
1. SINOPSE
A obra de Guimarães Rosa conta a história de Augusto Matraga, mais conhecido como Nhô Augusto, filho de Coronel Afonsão Esteves. Nhô Augusto era um homem valente, mulherengo, que fazia o que queria no vilarejo do Córrego do Murici e arredores, sempre apoiado pelos seus capangas, ele brigava com todo mundo, tomava as namoradas dos outros e sempre suas decisões eram as que prevaleciam.
Com a morte do seu pai Coronel Afonsão Esteves as coisas começaram a piorar para o lado de Nhô Augusto, dívidas enormes acumuladas, políticas perdidas, terras e fazendas penhoradas e ainda por cima a falta de crédito, fazia a cada dia a sua situação piorar. Por falta de pagamento, os capangas optaram por abandonar o Nhô Augusto e foram trabalhar para o seu pior inimigo, o Coronel Consilva, e pra piorar a sua esposa Dionóra o abandonou e fugiu com o Ovídio Moura, levando também sua filha Mimita, sendo que o seu amigo fiel Quim Recadeiro tentou evitar, porém não conseguiu, tendo em seguida corrido para avisá-lo do acontecido.
Enfurecido com a situação e para honrar o seu nome, o destemido Nhô Augusto, antes de ir matar Dionóra e Ovídio Moura, decide ir até a casa do seu pior inimigo, Major Consilva, para tirar satisfação com os seus ex-capangas. No momento em que Nhô Augusto chega à chácara do Major Consilva, este só faz o sinal com a cabeça e os bate-paus o espancam e o marcam com ferro de gado quente. Depois de ser espancado, Major Consilva ordena aos capangas que levem Nhô Augusto para longe e o matem. Quase inconsciente, no momento em que vai ser assassinado, Nhô Augusto reúne as últimas forças e se atira no despenhadeiro do Rancho do Barranco. Dado como morto é encontrado por um casal de negros: a Mãe Quitéria e o Pai Serapião, que cuidaram e trataram de Nhô Augusto como se fosse seu filho.
Diante da situação começa uma nova vida para Nhô Augusto no povoado do Tombador, sendo esta a única propriedade que restou em seu nome. Nhô Augusto levou o casal de negros para morar com ele. Totalmente arrependido dos seus pecados, Nhô Augusto queria regenerar-se, levando uma vida voltada ao trabalho duro, à penitência e a oração.
Passado seis anos, Nhô Augusto recebe a visita de seu antigo conhecido Tião da Thereza, que lhe traz notícias de sua família. Disse que a sua esposa Dona Dionóra vivia feliz com o Ovídio Moura, tanto é que ia se casar e Mimita, sua filha, tinha caído na vida, pois tinha fugido com um viajante, que a levara embora sem ninguém saber para onde. Nhô Augusto fica muito triste com as notícias, sente saudade e também sente culpa.
Certo dia aparece no vilarejo o Joãozinho Bem-Bem, um jagunço valente acompanhado de seus capangas. Nhô Augusto recebe-os e os alojam em sua casa, com bastante hospitalidade. Joãozinho Bem-Bem e Nhô Augusto ficam muito amigos, sendo que Nhô Augusto é convidado a acompanhar o bando, porém recusa, apesar de ter ficado com vontade ao ver as armas e apetrechos do bando.
Algum tempo depois, totalmente recuperado, Nhô Augusto decide sair do seu reduto, a fim de encontrar a sua hora. Andando sem destino com o seu jumento, Nhô Augusto acaba chegando ao arraial do Rala-Coco, onde reencontra Joãozinho Bem-Bem e o seu bando, prestes a executar uma família, para se vingar da morte de um capanga. Ao presenciar tamanha crueldade Nhô Augusto opõe-se a Joãozinho Bem-Bem e os dois travam um duelo, onde ambos morrem como irmãos. Primeiro morre Joãozinho e depois Nhô Augusto, que neste momento é reconhecido pelos antigos conhecidos.
2. RELAÇÃO DO CONTO A HORA E A VEZ DE AUGUSTO MATRAGA COM O QUADRO CONCEITUAL FORNECIDO PELO LIVRO ÉTICA A NICÔMACO DE ARISTÓTELES
Segundo os preceitos de Aristóteles, o homem justo é o seguidor das leis. No conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, percebemos que o protagonista era um homem sem regras. Ele fazia o que queria, não respeitava as leis, tampouco as outras pessoas. Aristóteles diz ainda que a alma é constituída de uma parte racional e outra privada de razão (instinto). E no conto percebe-se que Nhô Augusto não era um homem sábio, pois não era capaz de deliberar bem acerca do que era bom e conveniente para ele mesmo. Vemos então que ele era um homem ignorante, pois agia de forma instintiva ou instantânea, enquanto que, se fosse sábio agiria com o raciocínio.
Aristóteles diz que a justiça é a virtude completa, e por muitas vezes é considerada a maior das virtudes. Sendo que ela é completa porque a pessoa que a possui pode exercer sua virtude não só em relação a si mesmo, como também em relação aos outros. Nhô Augusto não exercitava a virtude em si mesmo, tampouco com as outras pessoas, ou seja, não era um homem justo.
Para Aristóteles há duas espécies de virtude, a intelectual e a moral. A virtude intelectual é aquela que é adquirida através de uma educação liberal e demanda tempo e experiência e a virtude moral é adquirida pelo hábito. Nhô Augusto era um homem vicioso, pois não teve uma educação liberal e também não era capaz de praticar atos justos. Para Aristóteles o caráter é formado a partir da repetição dos atos justos, pois as pessoas são capazes de praticar bem os atos já feitos antes. E no conto percebe-se que Nhô Augusto não praticava o justo.
Nhô Augusto, com base nos preceitos Aristotélicos, era um homem infeliz, pois não usava a razão com propriedade, de tal modo que era um homem adepto dos vícios. Ele tinha prazer em praticar más ações, e segundo Aristóteles o prazer ou a dor que sobrevêem aos atos devem ser tomados como sinais indicativos de disposições morais. Sendo que era por causa do prazer que Nhô Augusto praticava más ações.
Observa-se no conto que Nhô Augusto sempre se tendia a prática do agir errado. Para Aristóteles a virtude deve ter a qualidade de visar o meio termo, o meio termo entre dois vícios, onde um é excesso e o outro é a falta. A natureza da virtude é visar à mediania nas paixões e nos atos.
Nhô Augusto era um homem temerário, a temeridade é o excesso na virtude da coragem. No conto percebe-se tal vício no momento em que o Nhô Augusto desloca-se até a casa do Major Consilva para enfrentá-lo, mesmo estando sozinho. Neste momento vemos que Nhô Augusto deixou a paixão prevalecer sobre a razão, porque se ele fosse um homem virtuoso não iria até a casa do Major Consilva, pois perceberia o risco de deslocar sozinho até a casa do seu maior inimigo, uma vez que o seu empregado Quim Recadeiro já havia avisado que o Major Consilva e mais outros queriam pegá-lo a traição.
Nhô
...