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A RESENHA PLATÃO

Por:   •  27/8/2021  •  Resenha  •  1.745 Palavras (7 Páginas)  •  249 Visualizações

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PLATÃO, A República (ou Da Justiça). 9ª ed. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. 2005. Livro III.

O terceiro livro se inicia com o desenvolvimento final do segundo livro sobre a educação dos guardiões da cidade. O texto começa tratando sobre o que os guardiões devem aprender desde cedo, apresentando alguns conceitos básicos como o respeito aos Deuses, o respeito aos pais e prezar pela amizade entre as pessoas.

  • “Quanto aos deuses, aqui temos, pois - disse eu - aquilo que, em meu entender, aqueles que hão-de honrar as divindades e os pais, e que hão-de ter em não pequena conta a amizade uns dos outros, devem ouvir desde a infância, e aquilo que não devem.” (p. 101)

Sócrates então solicita que a imagem de Hades não seja depreciada, nem que se retrate os horrores por ele cometidos em suas obras, pois isso resultaria em guerreiros que temem e tem profundo medo da morte, e uma vez sendo a coragem uma virtude fundamental se deve prezar por jovens que sejam corajosos perante a morte.

  • “Por conseguinte, temos, parece-me, de exercer vigilância também sobre os que tentam narrar estas fábulas e de lhes pedir que não caluniem assim sem mais o que respeita ao Hades, mas que antes o louvem, quando não as suas histórias não são verídicas nem úteis aos que se destinam ao combate.” (p. 101)

Conclui então que a solução para esse tipo de problema de má influência na educação dos jovens seria a censura desses textos que difamem a imagem dos Deuses, que causem temores aos guardiões e que não engrandecem as virtudes que guerreiros e guardiões devem possuir. As passagens que falam sobre o riso fora do controle, vingança, mentiras, injustiças, entre outros devem ser eliminadas da educação dos jovens.

  • Palavras como estas e todas as outras da mesma espécie, pediremos vénia a Homero e aos outros poetas, para que não se agastem se as apagarmos, não que não sejam poéticas e doces de escutar para a maioria; mas, quanto mais poéticas, menos devem ser ouvidas por crianças e por homens que devem ser livres, e temer a escravatura mais do que a morte.” (p. 103)

Para Sócrates os deuses e heróis devem ser retratados como detentores de um comportamento virtuoso para que não se produza na juventude qualquer predisposição para atos maus.  Após tratar sobre o que se deve ou não falar acerca do divino, Sócrates então passa a falar acerca dos poetas e prosadores. Sócrates diz que os poetas cometem os maiores disparates contra os homens retratando com tom elogista atos como a injustiça e a vida fora do caminho da virtude. 

  • “Porque, segundo julgo, diríamos que os poetas e prosadores proferem os maiores dislates acerca dos homens: que muitas pessoas injustas são felizes, e desgraçadas as justas, e que é vantajoso cometer injustiças, se não forem descobertas, que a justiça é um bem nos outros, mas nociva para o próprio. Tais opiniões, dir-lhes-íamos que se abstivessem delas, e prescrever-lhes-iamos que cantassem e narrassem o contrário. Não achas?” (p. 114)

Contudo, eles adiam a discussão sobre o que seria lícito ou não a se falar acerca dos homens até que se defina o conceito de justiça.  Eles então seguem para uma análise dos estilos de prosa, as quais eles classificam em três tipos, sendo elas:

 I – Inteiramente imitativa (Tragédia e Comédia);

II - Narração pelo próprio poeta (Ditirambos, uma espécie de canto coral lírico);

III- Combinação das duas formas anteriores (Epopeia e outros gêneros).

  • “Por conseguinte, chegaremos a acordo quanto ao que se deve dizer acerca dos homens, quando descobrirmos que coisa é a justiça e se, por natureza, é útil a quem a possui, quer pareça sê-lo ou não?” (p. 115)
  • “em poesia e em prosa há uma espécie que é toda de imitação, como tu dizes que é a tragédia e a comédia; outra, de narração pelo próprio poeta- é nos ditirambos que pode encontrar-se de preferência; e outra ainda constituída por ambas, que se usa na composição da epopeia e de muitos outros géneros, se estás a compreender-me.” (p. 118)

Sócrates defende que a imitação não deve ser representada como se apresentar um personagem que haja de forma cruel e perversa, ou que se apresente personagens doentes, escravos ou loucos, pois para Sócrates os guardiões devem ter em sua educação boas referências e acesso a uma poesia em sua maioria narrativa sendo as formas de imitação permitidas somente para aquelas que venham a enaltecer as virtudes positivas nos guardiões, tais como: a coragem, a esperança, a sensatez, a temperança.

  • “Se imitarem, que imitem o que lhes convém desde a infância - coragem, sensatez, pureza, liberdade, e todas as qualidades dessa espécie. Mas a baixeza, não devem praticá-la nem ser capazes de a imitar, nem nenhum dos outros vícios, a fim de que, partindo da imitação, passem ao gozo da realidade. Ou não te apercebeste de que as imitações, se se perseverar nelas desde a infância, se transformam em hábito e natureza para o corpo, a voz e a inteligência?” (p. 120)

Após, juntamente de Adimanto, concluir acerca da poesia ele tratará com Glauco sobre a educação musical e quanto a melodia. Dividem a dividem em: palavras, harmonia e ritmo, dizendo que a harmonia e o ritmo devem corresponder as palavras, e que por isso da música devem ser excluídos quaisquer cantos fúnebres, lamentosos ou que incentivem atitudes como a embriaguez, a indolência, a ociosidade ou outras características negativas.

  • “Não então por este motivo, ó Glauco, que a educação pela música é capital, porque o ritmo e a harmonia penetram mais fundo na alma e afectam-na mais fortemente, trazendo consigo a perfeição, e tornando aquela perfeita, se se tiver sido educado?” (p. 132 e 133)

Eles tratam ainda sobre os tipos de ritmos, harmonias e letras que o guardião deveria ouvir para que se engrandecesse como um indivíduo dotado de virtudes, para eles a música toca tanto a alma dos indivíduos que até o prazer mais intenso e inconsequente se torna moderado e harmonioso através da música, e ressaltam ainda que, a música deve tocar e enaltecer as virtudes e o amor ao belo.

O discurso então se segue, tendo agora a ginástica como tema. Para Sócrates os guardiões e guerreiros devem desempenhar desde sua infância atividades atléticas, devem evitar a embriaguez e o luxo, além de adotar um regime alimentar adequado, sem exageros e estar sujeitos a um treinamento físico rigoroso.

  • “Depois da música, é na ginástica que se devem educar os jovens.” (p. 136)
  • “Devem pois ser educados nela cuidadosamente desde crianças, e pela vida fora. Será mais ou menos assim, segundo penso. Examina tu também. A mim não me parece ser o corpo, por perfeito que seja, que, pela sua excelência, torne a alma boa, mas, pelo contrário, a alma boa, pela sua excelência, permite ao corpo ser o melhor possível. Que te parece?” (p. 136)

Em seguida, Sócrates e Glauco ao longo do diálogo dissertam sobre as atividades dos médicos e juízes, pautando a sua importância por acreditarem que se os jovens recebessem a educação pregada por eles até então, certamente teriam a justiça como uma virtude inerente, praticando-a no dia a dia, o que posteriormente poderia até mesmo vir a tornar desnecessária a existência dos juízes e tribunais. Assim como se praticassem ainda, com excelência a ginástica e possuíssem uma boa alimentação eles teriam, consequentemente, uma boa saúde e necessitariam dos médicos apenas em casos de emergência.

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